sábado, 12 de junho de 2010

Encerramento de Escolas

O governo de Sócrates é cheio de meios-entendidos. Mesmo quando há um fundo de verdade teórica, raramente sustenta o que nos pretendem impingir na prática. O fecho das escolas é mais um exemplo.
O governo proclama que há mais insucesso nas escolas com menos de 21 alunos. E espera que tiremos a conclusão saloia de que o insucesso se deve ao tamanho das escolas. É evidente que não é. Aliás, duvido sempre das estatísticas deste governo, geralmente não têm base séria e servem só para dar um ar “científico” a coisas que tendem vertiginosamente para o absurdo.
Uma escola de 1.º Ciclo com 20 alunos tem, em princípio, 2 turmas. Em média são 10 alunos por professor. Isso permite, em teoria, um acompanhamento muito melhor de cada aluno do que nas escolas maiores. Então, de onde aparece a estatística do governo? Duas possibilidades: ou é uma invenção, o que não é inédito; ou até pode existir, provavelmente porque em escolas menores a percentagem de alunos com dificuldades de aprendizagem é mais visível. Perdidos no meio de escolas massificadas, os mesmos alunos com dificuldades não passam ser menos, mas passam mais facilmente despercebidos nas estatísticas.
Se for esta a razão, o encerramento das escolas é uma não-solução, ou uma solução de gente tonta. Por serem deslocados de autocarro para escolas maiores, em princípio os alunos não passarão a ter menos dificuldades de aprendizagem. Ou prevê-se que sim?
Mas o engano não fica por aqui. Para dourar um pouco mais a pílula, o governo anuncia que fecha escolas com poucas condições e desloca os alunos para escolas mais bem apetrechadas. Se isso fosse verdade, talvez fosse uma pequena vantagem. Quem olha para a realidade percebe que não é assim. Por exemplo no Agrupamento da Freixianda pré-anunciaram o encerramento de algumas escolas já no próximo ano. Mas como não há as tais escolas moderníssimas de que fala o governo, os alunos vão ser deslocados para escolas velhíssimas, iguaizinhas às que fecham, apenas um pouco mais distantes.
Entretanto, no estrangeiro, o processo é o inverso. Depois de dezenas de estudos que comprovam que escolas mais pequenas são mais eficientes, grandes escolas estão a ser separadas em unidades menores. Por exemplo, em Nova Iorque. Eu acho que nem eram precisos estudos, bastava o bom senso para perceber.
Para mim, em condições iguais, será sempre preferível uma escola de 1.º ciclo com 20 alunos, próxima dos pais, a uma escola massificada, com 300 ou 400 alunos, onde dificilmente cada um recebe toda a atenção de que precisa enquanto é criança, escolas enormes onde os mais fracos não podem ser mais eficazmente protegidos.
E por fim, também é do mais elementar bom senso perceber que o encerramento de escolas (a juntar ao fecho de centros de saúde e deslocalização de serviços) é um convite declarado ao abandono do espaço rural, é uma sentença de morte para mais uns milhares de pequenas comunidades. Tudo em nome de um falso progresso que dois ou três governantes medíocres provincianamente acham que é o “top” da modernidade.

Publicado no Notícias de Ourém : Junho 2010