domingo, 1 de novembro de 2009

Autárquicas 2009

Notícias de Fátima, Outubro 2009

As últimas eleições europeias e legislativas confirmaram que Ourém se enquadra num espaço geográfico onde o PSD continua a predominar largamente. As percentagens acima dos 60% em alguns concelhos são perfeitamente esclarecedoras.
Mas os sinais que nos surgem nas autárquicas, onde o PS consegue "ocupar" várias câmaras que eram tradicionalmente de direita, indicam que uma parte importante do eleitorado começa a conseguir olhar para os candidatos separando-os do partido político que os suportam.
Em Ourém, Paulo Fonseca personaliza este novo movimento. Por comparação com as eleições legislativas, verifica-se que de todos os partidos e até da abstenção, dos nulos e brancos há concentração de votos no candidato. Isto evidencia a enorme vontade de mudança no concelho, e que esta era transversal a todo o eleitorado. Apenas o PSD na eleição das Assembleias de Freguesia e a CDU nas três votações apresentam maior número de votos nas Autárquicas por comparação com as legislativas.
Se Paulo Fonseca assim capitaliza em seu favor tanto descontentamento, é porque o PSD chegou a um ponto de onde já não conseguia sair. Havia demasiados interesses instalados, excesso de briga pelo protagonismo das famílias tradicionalmente mais influentes, um cenário decadente que o eleitorado claramente rejeitou.
Não concordo que o responsável pela perda da Câmara pelo PSD fosse o seu candidato. Isso não justificaria, por exemplo, as três derrotas exemplares nas vilas de Caxarias, Freixianda e Olival. Estes casos são de grande significado. Nas três vilas, a insistência nas mesmas soluções de sempre, a falta de renovação de ideias, foi o factor principal que permitiu a outras forças alargarem a sua base de implantação.
Embora eu próprio não tenha apoiado a solução que os eleitores preferiram, não escondo que me agrada a ideia de o eleitorado se ter libertado finalmente da fixação que durante anos não permitia ao concelho experimentar outras alternativas. Ainda bem que há mudança de pessoas. Faço votos de que haja também alteração de políticas. Preferia, evidentemente, uma solução de maior diversidade de representação, tanto na Câmara Municipal, como na Assembleia, e até mesmo nas presidências de Junta, porque já se percebeu que as maiorias absolutas sofrem sempre a tentação da prepotência, do erro e da falta de equidade.
Agora a expectativa de mudança que se gerou no concelho lança uma enorme responsabilidade sobre os que foram eleitos, porque têm de se mostrar capazes de se afastar da prática anterior. É indispensável mais transparência, mais eficiência, menos gastos supérfluos. E a maior responsabilidade de todas vai para os eleitos à Assembleia Municipal, porque, com uma maioria de cor diferente da Câmara, vão ser chamados a finalmente assumirem o papel de fiscalizadores da actuação da maioria camarária.

Um concelho que se move

Notícias de Ourém, Outubro 2009

Parabéns aos vencedores das eleições. Há grandes vitórias e vitórias que, sendo pequenas em escala, são enormes de significado.

A vitória mais evidente foi a de Paulo Fonseca. Mais do que duplicou os votos do PS em Ourém nas eleições de há quinze dias, e deu corpo à vontade geral de pôr fim a uma experiência autárquica de um PSD já sem rei nem roque. Os votos chegaram de todos os quadrantes: o CDS perdeu mais de 2.800 votos, o BE sem concorrer em Ourém valia mais de 1.400 votos, do PSD vieram mais de 800. Até os brancos, nulos e abstenção diminuíram para concentrar votos em Paulo Fonseca.

É um resultado notável, verdadeiramente abrangente, que impõe desde o primeiro momento uma enorme responsabilidade sobre uma pessoa só. Fazemos votos, para bem de Ourém, que consiga atingir os objectivos que apresentou. O primeiro dos objectivos, que era abrir muitos espíritos à possibilidade de encarar alternativas, já está conseguido.

Merecem também destaque os dois movimentos, MOIA no Olival e MVM na Freixianda, pelo novo dinamismo que fez com que mais pessoas acreditassem na democracia. Se é verdade que o MVM ganhou, também é verdade que o mais significativo exemplo de participação cívica tem de ser reconhecido ao MOIA. E os elementos que elegeu para a Assembleia de Freguesia farão necessariamente a diferença, pelo que já nos conseguiram mostrar.

Merece ainda um elogio sincero o PSD de Fátima, onde o partido mantém grande vitalidade, que traduz no resultado que conseguiu. Não é um acaso. Em outras freguesias sociologicamente tão ou mais PSD do que Fátima, as velhas soluções de sempre, sem horizontes nem ideias, deram origem a derrotas de grande simbolismo.

Quanto à CDU, em cujas listas concorri, alegro-me muito com a reeleição de Sérgio Ribeiro e tenho de destacar o enorme significado de na Ribeira do Fárrio ter eleito um elemento à Assembleia de Freguesia. O abandono da freguesia pelos restantes partidos foi assim "vingado". E em nome de uma democracia verdadeira, que desejamos manter, é importantíssimo que haja ao menos uma voz alternativa a representar a população.

O maior perdedor foi o PSD, não tanto por causa dos resultados, mas pelo comportamento infantil e despropositado da noite eleitoral em que expulsou da sua sede a rádio ABC Portugal, mesmo antes de se começarem a conhecer os resultados. É o retrato acabado daquilo em que se tornou o PSD de Ourém. Verdadeiramente lamentável.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

E agora?

Notícias de Ourém 08.10.2009

Mais do que nunca, tenho uma enorme curiosidade sobre o que vão ser os resultados das autárquicas em Ourém. É verdade que das legislativas nunca se transpõe totalmente para as autárquicas, mas desta vez por causa da proximidade torna-se um ponto de comparação interessante.
Em Ourém, o PSD teve no domingo das legislativas mais do dobro dos votos do PS. E contados os votos assim, mesmo com o Bloco de Esquerda que não concorre no concelho, o CDS-PP voltava a eleger folgadamente um dos 7 vereadores. Com estes votos, PSD - 4, PS - 2, CDS - 1.
Mas pouca gente acredita que o PSD consiga manter esta votação para as autárquicas. A lamentável ausência nos debates, primeiro no Olival, organizado pelo Movimento Independente MOIA, e agora na Escola Profissional, organizado pelo Região de Leiria, mostra uma atitude de sobranceria que não pode ser ignorada pelos eleitores. Ninguém mais do que Vítor Frazão tem obrigação de esclarecer e explicar o que foi feito e o que está por fazer. Mais do que ninguém, é ele que tem que explicar a dimensão do buraco de dívidas que a Câmara tem, e durante quantos anos isso vai impedir outros investimento. É ele que tem de explicar onde é possível ir buscar dinheiro depois de já não haver mais espaço para parquímetros, depois de já ter taxado todos os reformados do concelho. O PSD vai, naturalmente, ser castigado nas autárquicas.
O PS apostou numa estratégia de recolha de descontentes do PSD e isso pode-lhe render parte dos votos que fugirão a Vítor Frazão. Mas do outro lado deixarão escapar os votos de quem não entende que raio de magia é que transformou em bons os que noutros tempos eram criticados pelo PS. Há uma secção laranja nos apoios do PS, como já se notou. Mas essa ala PSD é ou não é composta pelos mesmos que noutros tempos apoiaram com entusiasmo Mário Albuquerque e David Catarino? Mas afinal é esse modelo de autarca que procuramos? Pela minha parte não é, e desconfio genuinamente de quem acolhe e destaca esses apoios.
Para onde irão então os votos dos que querem qualquer coisa diferente?As restantes forças políticas, partidos, coligações ou movimentos, arrancam mais abaixo na tabela das apostas eleitorais, mas de certo vão protagonizar algumas boas surpresas, nas Juntas de Freguesia, na Câmara Municipal e na Assembleia Municipal.
Dia onze haverá muitas contas para fazer.

João Filipe Oliveira
Candidato PCP-PEV

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Início de aulas

Notícias de Ourém 17.09.2009

A escola da Freixianda, como as outras, iniciou as aulas. Com a nova direcção vieram algumas diferenças. Há uma que não posso deixar de destacar. Pela primeira vez desde que a escola funciona, inaugurada em 1991, há turmas a iniciar as actividades a meio da manhã uma vez por semana. Até agora, atendendo ao horário de transportes, todos os alunos iniciavam às 8:15h. Desde a chegada do primeiro autocarro até ao início das aulas nunca passava mais de uma hora, para os alunos não andarem pela escola ou pela vila sem ocupação quase duas horas. Agora uns começam, outros não.

É evidente que esta inovação nos horários (que passa também por, em alguns dias, reduzir a hora de almoço para apenas 50 minutos, e terminar as aulas a meio do turno da tarde) só traz inconvenientes. Mas é tudo uma questão estilo e de orientação.

A verdade é que a escola não passou a ter mais alunos, nem mais turmas, nem mais actividades. As salas não estão mais sobrecarregadas do que em anos anteriores. Não há nenhuma razão técnica para que a arrumação dos horários não seja melhorada. Horários bem organizados só trazem vantagens.

Com tanta insistência nos planos da Gripe A, parece que outros aspectos foram tratados com menor atenção. No interesse dos alunos, era bom que também este assunto merecesse um pouco mais de esforço por parte da equipa que a Direcção Regional de Educação impôs à escola.

Já que o Conselho Executivo anterior foi considerado incapaz de dirigir o Agrupamento, já que entre os professores da escola ninguém foi considerado competente para a tarefa, já que o governo e as próprias estruturas partidárias do PS se empenharam tanto para escolher uma equipa fora de série, não será pedir demais que as condições de trabalho dos alunos melhorem significativamente.

A qualidade de vida pode começar nas pequenas coisas. A não ser que os objectivos afinal fossem outros.

João Filipe Oliveira
Candidato do PCP-PEV

sábado, 29 de agosto de 2009

São rosas

Notícias de Ourém 28.08.2009

Sempre me fez confusão aquela parte do milagre da Rainha Santa quando ela transforma pão em rosas. É evidente que o pão era muito mais útil, e D. Isabel era uma pessoa sensata. Não tem lógica trocar um bem útil por outro que, sendo lindo, não enche barriga. Mas o rei D. Dinis irritava-se com o desperdício de esmolas da sua santa esposa para os pobres, e a boa da Santa Isabel viu-se obrigada a fazer um milagre para não o contrariar. Prerrogativas de santa...
As estatísticas do sucesso escolar que o ministério da educação publicou recentemente são uma espécie de milagre das rosas, mas ao contrário. Pega nas rosas e nos espinhos do que se realmente se passa nas escolas e transforma-as numa aparência luzidia de um enorme sucesso.
Dizem que há menos "chumbos". Pois sim! Finalmente dão resultado medidas políticas como o fim da reprovação por faltas. Até há dois anos, os alunos que faltassem excessivamente reprovavam. Graças à nova lei do estatuto do aluno, isso acabou.
Também é possível que esteja relacionado com aquela notícia que animou o início do Verão, de um aluno que passou com oito negativas. E veio-se a saber que não é caso isolado.
Também é possível que esteja relacionado com a proliferação dos cursos CEF, onde frequentar as aulas, mesmo sem levar sequer um caderno ou uma caneta, é garantia de sucesso quase absoluto.
São pequenos passos que caminham para o mesmo fim: sucesso estatístico. Se a qualificação real aumenta, isso ver-se-á brevemente com a publicação dos resultados internacionais.
Na verdade, não há milagre nenhum nesta matéria. O que há é mais um dos cansativos truques de ilusionismo que o governo de Sócrates faz há anos, convencido de que pode enganar toda a gente o tempo todo.
Há ainda alguns que acreditam. Uns porque acreditam seja no que for, tomam o PS por religião e acolhem sem crítica tudo o que tiver o símbolo da rosa. Outros porque não se dão ao trabalho de procurar informação para além da papinha que as TVs preparam para a hora de jantar. E outros ainda fingem acreditar, porque o poder pode ser muito generoso, com lugares apetecíveis para distribuir.
Fora destes três grupos já não é possível deixar-se enganar outra vez.
Eu deixei de acreditar. O PS é só um partido, não é a minha religião, e procuro manter o espírito livre e um olhar crítico sobre a vida política; também não sou muito preguiçoso a procurar informação, com mais leitura e menos televisão; e quanto aos lugares apetecíveis, costuma ser a moeda com que se compra a independência de espírito. E eu não estou disposto a deixar de pensar pela minha cabeça.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Mini autocarro

Em tempo de eleições, acho que se entra em certos delírios sem explicação.

A Câmara colocou a circular um mini-autocarro entre Formigais e o Agroal. Circula vazio em intervalos de meias-horas e faz lembra o saudoso "Giro" que durante uns meses deu voltas de carrossel na cidade de Ourém, até acabar tristemente e sem glória, esquecido por todos.

A utilidade do "benefício" está ao nível de uma lata de caviar para matar a fome de um indigente. É um luxo caríssimo, mas não enche barriga.

A população de Formigais praticamente não tem transportes públicos para ir a Ourém ou mesmo para ir ao médico à Freixianda nos muitos dias em que não há o serviço na delegação local. Mas no Verão tem o luxo de um mini-autocarro gratuito e vazio para ir ao Agroal.

Eu, que até defendo melhores transportes públicos, não consigo compreender estas escolhas.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

História de uma candidatura

Depois de se tornar insuportável a figura de Sócrates que me fez ganhar distância do PS, depois de ver os dois grandes partidos ficarem cada vez mais iguais nos princípios e nos processos, depois de ser desafiado pelo Sérgio Ribeiro para colaborar nas autárquicas... aceitei concorrer à Câmara Municipal de Ourém como independente nas listas da CDU.

Mantenho a admiração que antes tinha pelas qualidades dos outros candidatos, particularmente do Vítor Frazão e do Paulo Fonseca (não conheço o candidato do CDS-PP), mas não sigo pelo caminho deles.

Sei que o povo do concelho de Ourém não costuma manifestar grande apoio à CDU, mas tenho esperança que o meu contributo possa ser ocasião para reavaliar algum preconceito. Se mais alguns perderem o medo e a democracia ficar um bocadinho mais colorida, isso já é justificação suficiente para o meu empenho.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Agroal

As saudações a quem as merece!

Há anos que a requalificação do Agroal era pedia, prometida, adiada, pedida de novo, prometida outra vez e ainda adiada. Desta vez já há alguma coisa. E merecem saudação por isso os autarcas que conseguiram por fim.

Fez-se a inauguração. Há quem ache que se fez tarde demais, há quem ache que foi demasiado cedo, e uns poucos acharam que era o momento ideal. Tarde demais, porque já devia ter sido há uma dúzia ou duas de anos. Ou porque o prazo de conclusão era em 2008. Cedo demais, porque a obra ainda vai a meio. Chamam-lhe primeira fase e segunda fase, para disfarçar. No momento certo, porque com as eleições à porta há que dar festas ao povo.

Eu acho que todos estão certos. É tarde, é cedo e é também o momento certo, porque no final de um ciclo político é normal fazer o balanço.

O balanço mostra que há dois atrasos de peso: nem o prazo foi cumprido, nem a totalidade do projecto foi concluída. Aliás, chega a ser caricato que o equipamento que mais falta fazia foi deixado para a "segunda fase": casas de banho públicas! Pelo menos já se avançou alguma coisa. Só esperamos que a parte que falta não demore tanto tempo a acabar como demorou a começar.

domingo, 24 de maio de 2009

Todos amigos

Notícias de Ourém, 21 de Maio de 2009

Há gente assim. Gente inquieta, cheia de uma certa dinâmica modernaça, que não lhe permite ficar muito tempo no mesmo lugar. Sobretudo quando se trata de trabalhar. Claro que a mobilidade dá imenso currículo, só não dá é experiência em coisa nenhuma. Mas isso é irrelevante.

No admirável mundo da educação, são já lendários aqueles professores que deitam mão a tudo o que aparece para conseguir não dar aulas. Ocupados nos sindicatos, por exemplo, pode ainda haver idealistas, mas há sobretudo os práticos. Ganha-se o ordenadito e o trabalho nunca aperta. Como são todos camaradas, há sempre imenso tempo livre. Ainda melhor do que um sindicato, só mesmo um cargozito de nomeação, bem remunerado, poucas responsabilidades, algumas mordomias. Basta conhecer as pessoas certas.

Se a estrelinha da sorte perde um pouco o lustro e os meninos têm de voltar a trabalhar (só um bocadinho, porque gente delicada cansa-se depressa), há que voltar a pôr-se a jeito a ver se pinga mais alguma migalhita.

No fundo é todo um mesmo esquema que põe às portas das Câmaras e delegações dos partidos uma fila de jovens promissores de mão estendida. De mão estendida, entenda-se, para cumprimentar o senhor presidente e não para pedir seja o que for. Meu Deus!

No mundo pragmático da educação há agora sinais de que se irá também por esse caminho. E numa época de crise, em que o tachito já está todo tão rapado, não falta quem coloque todas as suas qualidades ao serviço do bem comum. Só em direcções de escola ficam disponíveis mais de mil e quinhentos lugares, que se prestam ao lançamento de ricas parcerias, em que algumas pessoas poderão defender muito acertadamente os seus bens comuns.

Veja-se o que aconteceu com o coordenador escolar de Fafe, demitido por não ter demonstrado muito jeito para alinhar na pré-campanha eleitoral. Ou aquela escola de Sintra, onde o derrotado candidato a director não se inibiu de lançar ameaças aos votantes.

Veja-se agora entre nós o que está a acontecer na Freixianda... Afinal não há partidos donos da moralidade.

sábado, 9 de maio de 2009

Crasso

As movimentações de Cavaco Silva para reconciliar os rivais do PS e do PSD "a bem da nação" faz-me lembrar, na velha Roma, César a tentar reconciliar os dois poderosos inimigos Pompeu e Crasso. Com o condimento da ambição, acabaram por se entender os três para formar o primeiro tirunvirato, que acabou numa guerra civil e na ditadura de César.

Inicialmente os três entenderam-se com o objectivo de repartir entre si o poder absoluto sobre o Império, sobre Roma, com os seus cargos e as suas riquezas. Mas foi uma união contra-natura, onde a inveja esteve sempre latente e as traições começaram cedo.

O primeiro a saltar da carroça foi Crasso. Na sua ambição de se apropriar da terra dos Partos, cometeu o proverbial "erro crasso" e acabou num vale estreito com as duas saídas bloqueadas pelo inimigo.

Depois veio a guerra entre César e Pompeu, onde o que contou não foi a quantidade de tropas, mas a qualidade da estratégia.

Se Cavaco me lembra César, Crasso só poderia ser Sócrates, "cercado" por duas investigações policiais, em Portugal e em Inglaterra. Pouco importa se era Crasso que tinha o maior poderio para dominar em Roma. Quem ficou com tudo foi o tio Júlio, César ele mesmo, o conquistador das Gálias. Como homenagem até deram o seu nome ao mês de Julho, que antes se chamava Quintilis.

domingo, 26 de abril de 2009

Comer e calar

Há uma difusa sensação de que a PIDE volta a espreitar uma segunda oportunidade.

Há dias, três alunos de Penacova foram obrigados a prestar serviço comunitário, acusados pelo Ministério Público de coacção, porque se manifestaram contra uma lei iníqua e incompetente do Ministério da Educação. Tentaram fechar o portão da escola a cadeado, o que evidentemente não passa de um gesto simbólico de protesto e não é crime nenhum. Ou não devia ser. Mas o actual governo vê com muito maus olhos o protesto.

Dizem que a Lei é para cumprir, mas esquecem-se da obrigação de fazer leis justas, competentes e equilibradas.

É de uma evidência até à exaustão que nem todas as leis devem ser cumpridas. Há leis de tal modo revoltantes que devem ser rejeitadas e banidas, como a história nos ensina. As leis da segregação racial, da discriminação da mulher, da privação de liberdades fundamentais e tantas outras também eram leis. E a superioridade da civilização veio dar razão a todos os que no tempo oportuno as rejeitaram, as incumpriram e as combateram.

Nem todas as leis são afinal iguais em dignidade e é totalmente legítimo protestar contra o que está errado. Mas o governo não quer perceber isso, no alto da sua certeza absoluta.

É por isso que militantemente votarei contra Sócrates nas próximas eleições. É por isso também que passei a ser contra as maiorias absolutas em geral e em concreto. Em vez de maiorias absolutas que dão cobertura à absoluta incompetência, prefiro governos de competência absoluta que em minoria tenham capacidade de fazer reformas inatacáveis.

Para governar bem não é necessário a força da maioria, basta a força da razão.

sábado, 18 de abril de 2009

Corrupção, SA

As novas leis têm sido uma fonte inesgotável de inspiração. Agora tivemos direito a mais uma pérola com a lei do combate ao enriquecimento ilícito.

Se bem entendi a coisa, é assim: se um bandido, corrupto, ladrão se descuidar e deixar o rabo de fora; se o Estado descobrir que enriqueceu demais com manobras obscuras... tem de dar metade da burla às Finanças e ficam todos amigos.

A mim parece-me isto uma espécie de empresa, uma sociedade à força entre o Estado e os Bandidos. E isso tem alguma lógica. Assim como assim, os contribuintes já estão habituados a ser depenados pelas Finanças, por isso não é de estranhar este tipo de parceria. No fundo, no fundo, estão em ramos de negócio muito parecidos.

Caros corruptos, exploradores, ladrões e afins, podem descansadamente abotoar-se com milhões, porque não há problema nenhum. Se souberem esconder bem tudo o que passar dos 100.000 euros, são livres e honrados; se forem descobertos, apenas têm de dar uma parte do Estado, mas mesmo assim ainda ficam com muito. Só podemos desejar-vos boa sorte nos "negócios", este é um país de oportunidades!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Bairrismo

Justificar o apoio a Durão Barroso com o facto de ele ser português está ao mesmo nível que apoiar David Catarino para a Região de Turismo por ser de Ourém. Num caso como no outro, é irrelevante a competência da pessoa para o cargo que desempenha, tal como é irrelevante se já deu provas de alguma coisa, ou se foram boas provas.

Tanto num caso como no outro me faz muita impressão este tipo de argumento. Se fosse por ser português, então podíamos indicar para Presidente da Comissão Europeia, sei lá... o Zé Maria ou o Castelo-Branco.

Continuo com esta mania exótica de fazer as minhas escolhas com base na competência das pessoas, em vez de olhar para o partido, para o modelo de sapatos ou para a residência habitual.

domingo, 15 de março de 2009

Sal no pão

Gostava de conhecer umas palavras mágicas que me livrassem de certos políticos que se acham mais espertos que todo o mundo. Já não há paciência para tipos que nos querem impingir um mundo todo politicamente correcto, onde não temos voto na matéria sobre a nossa própria vida privada: o que vestimos, por onde andamos, ou o que comemos.

Agora, à falta de terem assunto sério com que se preocupar, os deputados do PS querem impor-nos à força uma vida supostamente saudável, limitando por lei a quantidade de sal que temos direito a ingerir em cada pão. E se fossem dar banho ao cão, em vez de andarem a controlar-nos a vida privada?

Por este andar, qualquer dia vamos presos por ter lá em casa um forno a lenha clandestino.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Erros no Magalhães

Depois da notícia do Expresso sobre os erros de ortografia no Magalhães, logo muitos se apressaram a desvalorizar a situação. E à cabeça de todos, o próprio Secretário de Estado da Educação.
É sintomático o conjunto de mensagens que desvalorizam a situação dos 80 erros de ortografia do Magalhães, porque até já há actualizações disponíveis e que isto e que aquilo, que logo se resolve e até nem é grande coisa, porque no essencial a coisa é boa... É o típico deste país desenhado em cima do joelho, onde se remendam os buracos à medida que são descobertos, onde o culto da exigência e da qualidade não significam nada, o país das pretensas "campanhas negras", onde quem aponta algum erro é considerado um obstáculo, onde o improviso é regra.
Num outro país, mais civilizado, haveria responsáveis a pagar por isto. Mas aqui não, tudo continua no melhor dos mundos.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A sabedoria dos antigos

Diz Vitrúvio no início do livro X:

"Diz-se que na nobre cidade grega de Éfeso há uma velha lei instituída pelos antepassados, talvez de grande dureza, mas não juridicamente injusta. Quando um arquitecto recebe o encargo de uma obra pública, responsabiliza-se pelo seu preço final. Entregue a estimativa ao magistrado, ficam hipotecados os seus bens, até que a obra esteja concluída. No fim, correspondendo as despesas ao orçamentado, o arquitecto é cumulado de louvores públicos e de honras. Se não ultrapassou em mais de um quarto o cálculo inicial da obra, serão os custos suportados pelo erário público e não lhe será aplicada qualquer sanção. Todavia, se tiver gasto mais do que a quarta parte, será obrigado a pagar do seu próprio bolso até perfazer o débito."

Era um bom ponto de partida para aplicar nos dias de hoje a certos autarcas e governantes que não se inibem de gastar mais dinheiro público do que aquele que deveriam. Ficam os projectos futuros impedidos pela imprudência dos governantes presentes.

E não me anda o pensamento longe dos novos paços do concelho de Ourém, quem em vez de 4 custou 7. Agora quem devia pagar a diferença eram aqueles que irresponsavelmente se lançaram na aventura. Talvez assim fossem mais cuidadosos quando se trata de gastar o dinheiro público.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Agenda mediática

Não consigo perceber em que mundo vivem os jornalistas e comentadores das nossas televisões e jornais nacionais. Agora decidiram que os "temas fracturantes" do momento e a "marcação da agenda mediática" são a regionalização e os casamentos gay anunciados pela moção de Sócrates!

Realmente é preciso dar grandes voltas ao miolo para encontrar assunto mais irrelevante para o futuro de Portugal. Só mesmo quem não tem nadinha para dizer é que faz deste assunto o centro do debate político. Mas os nossos pomposos jornalistas lá sabem o que é um tema quente.

Afinal o que são as previsões económicas da União Europeia comparadas com o tema escaldante? Ou a balbúrdia governativa em que somos obrigados a navegar? Tenham dó!

Alguém se lembra de uma medida recente do governo que tenha ponta por onde se lhe pegue? Já não navegamos, andamos a boiar. O orçamento de estado, por exemplo, mostra bem o sentido de rumo necessário para governar um país. Ainda não estava em vigor e já andavam a tratar de o corrigir.

Por isso, quando ouço os mesmos comentadores políticos dizer que não há alternativa a Sócrates, só nas suas cabeças desarranjadas. Tudo o que mexe e caminha sobre duas pernas (excluindo talvez as galinhas) é alternativa a Sócrates. Até o merceeiro da minha rua, que é coxo, tem ideias mais consistentes para o futuro de Portugal do que Sócrates com estas bacoradas da moção.