domingo, 24 de maio de 2009

Todos amigos

Notícias de Ourém, 21 de Maio de 2009

Há gente assim. Gente inquieta, cheia de uma certa dinâmica modernaça, que não lhe permite ficar muito tempo no mesmo lugar. Sobretudo quando se trata de trabalhar. Claro que a mobilidade dá imenso currículo, só não dá é experiência em coisa nenhuma. Mas isso é irrelevante.

No admirável mundo da educação, são já lendários aqueles professores que deitam mão a tudo o que aparece para conseguir não dar aulas. Ocupados nos sindicatos, por exemplo, pode ainda haver idealistas, mas há sobretudo os práticos. Ganha-se o ordenadito e o trabalho nunca aperta. Como são todos camaradas, há sempre imenso tempo livre. Ainda melhor do que um sindicato, só mesmo um cargozito de nomeação, bem remunerado, poucas responsabilidades, algumas mordomias. Basta conhecer as pessoas certas.

Se a estrelinha da sorte perde um pouco o lustro e os meninos têm de voltar a trabalhar (só um bocadinho, porque gente delicada cansa-se depressa), há que voltar a pôr-se a jeito a ver se pinga mais alguma migalhita.

No fundo é todo um mesmo esquema que põe às portas das Câmaras e delegações dos partidos uma fila de jovens promissores de mão estendida. De mão estendida, entenda-se, para cumprimentar o senhor presidente e não para pedir seja o que for. Meu Deus!

No mundo pragmático da educação há agora sinais de que se irá também por esse caminho. E numa época de crise, em que o tachito já está todo tão rapado, não falta quem coloque todas as suas qualidades ao serviço do bem comum. Só em direcções de escola ficam disponíveis mais de mil e quinhentos lugares, que se prestam ao lançamento de ricas parcerias, em que algumas pessoas poderão defender muito acertadamente os seus bens comuns.

Veja-se o que aconteceu com o coordenador escolar de Fafe, demitido por não ter demonstrado muito jeito para alinhar na pré-campanha eleitoral. Ou aquela escola de Sintra, onde o derrotado candidato a director não se inibiu de lançar ameaças aos votantes.

Veja-se agora entre nós o que está a acontecer na Freixianda... Afinal não há partidos donos da moralidade.

sábado, 9 de maio de 2009

Crasso

As movimentações de Cavaco Silva para reconciliar os rivais do PS e do PSD "a bem da nação" faz-me lembrar, na velha Roma, César a tentar reconciliar os dois poderosos inimigos Pompeu e Crasso. Com o condimento da ambição, acabaram por se entender os três para formar o primeiro tirunvirato, que acabou numa guerra civil e na ditadura de César.

Inicialmente os três entenderam-se com o objectivo de repartir entre si o poder absoluto sobre o Império, sobre Roma, com os seus cargos e as suas riquezas. Mas foi uma união contra-natura, onde a inveja esteve sempre latente e as traições começaram cedo.

O primeiro a saltar da carroça foi Crasso. Na sua ambição de se apropriar da terra dos Partos, cometeu o proverbial "erro crasso" e acabou num vale estreito com as duas saídas bloqueadas pelo inimigo.

Depois veio a guerra entre César e Pompeu, onde o que contou não foi a quantidade de tropas, mas a qualidade da estratégia.

Se Cavaco me lembra César, Crasso só poderia ser Sócrates, "cercado" por duas investigações policiais, em Portugal e em Inglaterra. Pouco importa se era Crasso que tinha o maior poderio para dominar em Roma. Quem ficou com tudo foi o tio Júlio, César ele mesmo, o conquistador das Gálias. Como homenagem até deram o seu nome ao mês de Julho, que antes se chamava Quintilis.