domingo, 12 de dezembro de 2010

Resultados PISA 2009

A posição de Portugal nos testes PISA 2009 apresenta uma melhoria de 2006 para cá. Mas será que isso significa que os alunos portugueses estão melhores? Não é isso que notamos nas escolas. Então, porque é que a generalidade dos políticos, com Sócrates como porta-bandeira, jornalistas e comentadores, aceitam sem se interrogar esta suposta verdade aparentemente indesmentível?

Eu, que não tenho visto absolutamente nenhuma melhoria nos conhecimentos dos alunos nestes últimos anos, nem na minha escola, nem nos exames nacionais que corrijo anualmente, fiquei com muitas dúvidas e todas as reservas. Acho que, mais uma vez, os dados estão falseados.

E acho que há uma explicação plausível. Acho eu e acham muitos professores, como se pode ver pela internet fora.
Os alunos de agora na verdade não sabem mais, mas os alunos com mais dificuldades foram retirados do projecto, e assim não dão má imagem do país. E como se faz isso? Afastando da escolaridade regular os alunos que não conseguem acompanhar o ritmo. Em 2006 a percentagem de alunos nos cursos CEF estava abaixo dos 7%, em 2009 já chegava perto dos 14%. Basta ver os relatórios estatísticos do Ministério (GEPE). Em resumo: em 2006 a probabilidade de alunos fracos participarem nos testes do PISA era muito mais importante. Em 2009 essa probabilidade desceu 50%!

Isso explica também "aquele" pormenor: os resultados mais altos não evoluiram, foram os resultados mais baixos que subiram. Foi o que ajudou a média nacional. Com menos alunos fracos no estudo, os resultados ficaram mais bonitinhos, mas não a qualidade. E assim nos enganamos e nos deixamos facilmente enganar pelos manipuladores de estatísticas.

É ridículo que toda uma classe política e a elite intelectual do país, e ainda jornalistas e os opinadores de serviço, com honrosas mas quase imperceptíveis excepções, embarque sem qualquer sentido crítico neste embuste.

A discussão, de resto, está toda feita ao contrário: teria de preocupar-nos o facto de continuarmos abaixo da média, em vez de festejar um progresso que nem sequer é real. Preferimos continuar a mentir uns aos outros, em vez de encarar a realidade. Até quando é que isto aguenta?

sábado, 12 de junho de 2010

Encerramento de Escolas

O governo de Sócrates é cheio de meios-entendidos. Mesmo quando há um fundo de verdade teórica, raramente sustenta o que nos pretendem impingir na prática. O fecho das escolas é mais um exemplo.
O governo proclama que há mais insucesso nas escolas com menos de 21 alunos. E espera que tiremos a conclusão saloia de que o insucesso se deve ao tamanho das escolas. É evidente que não é. Aliás, duvido sempre das estatísticas deste governo, geralmente não têm base séria e servem só para dar um ar “científico” a coisas que tendem vertiginosamente para o absurdo.
Uma escola de 1.º Ciclo com 20 alunos tem, em princípio, 2 turmas. Em média são 10 alunos por professor. Isso permite, em teoria, um acompanhamento muito melhor de cada aluno do que nas escolas maiores. Então, de onde aparece a estatística do governo? Duas possibilidades: ou é uma invenção, o que não é inédito; ou até pode existir, provavelmente porque em escolas menores a percentagem de alunos com dificuldades de aprendizagem é mais visível. Perdidos no meio de escolas massificadas, os mesmos alunos com dificuldades não passam ser menos, mas passam mais facilmente despercebidos nas estatísticas.
Se for esta a razão, o encerramento das escolas é uma não-solução, ou uma solução de gente tonta. Por serem deslocados de autocarro para escolas maiores, em princípio os alunos não passarão a ter menos dificuldades de aprendizagem. Ou prevê-se que sim?
Mas o engano não fica por aqui. Para dourar um pouco mais a pílula, o governo anuncia que fecha escolas com poucas condições e desloca os alunos para escolas mais bem apetrechadas. Se isso fosse verdade, talvez fosse uma pequena vantagem. Quem olha para a realidade percebe que não é assim. Por exemplo no Agrupamento da Freixianda pré-anunciaram o encerramento de algumas escolas já no próximo ano. Mas como não há as tais escolas moderníssimas de que fala o governo, os alunos vão ser deslocados para escolas velhíssimas, iguaizinhas às que fecham, apenas um pouco mais distantes.
Entretanto, no estrangeiro, o processo é o inverso. Depois de dezenas de estudos que comprovam que escolas mais pequenas são mais eficientes, grandes escolas estão a ser separadas em unidades menores. Por exemplo, em Nova Iorque. Eu acho que nem eram precisos estudos, bastava o bom senso para perceber.
Para mim, em condições iguais, será sempre preferível uma escola de 1.º ciclo com 20 alunos, próxima dos pais, a uma escola massificada, com 300 ou 400 alunos, onde dificilmente cada um recebe toda a atenção de que precisa enquanto é criança, escolas enormes onde os mais fracos não podem ser mais eficazmente protegidos.
E por fim, também é do mais elementar bom senso perceber que o encerramento de escolas (a juntar ao fecho de centros de saúde e deslocalização de serviços) é um convite declarado ao abandono do espaço rural, é uma sentença de morte para mais uns milhares de pequenas comunidades. Tudo em nome de um falso progresso que dois ou três governantes medíocres provincianamente acham que é o “top” da modernidade.

Publicado no Notícias de Ourém : Junho 2010