domingo, 26 de abril de 2009

Comer e calar

Há uma difusa sensação de que a PIDE volta a espreitar uma segunda oportunidade.

Há dias, três alunos de Penacova foram obrigados a prestar serviço comunitário, acusados pelo Ministério Público de coacção, porque se manifestaram contra uma lei iníqua e incompetente do Ministério da Educação. Tentaram fechar o portão da escola a cadeado, o que evidentemente não passa de um gesto simbólico de protesto e não é crime nenhum. Ou não devia ser. Mas o actual governo vê com muito maus olhos o protesto.

Dizem que a Lei é para cumprir, mas esquecem-se da obrigação de fazer leis justas, competentes e equilibradas.

É de uma evidência até à exaustão que nem todas as leis devem ser cumpridas. Há leis de tal modo revoltantes que devem ser rejeitadas e banidas, como a história nos ensina. As leis da segregação racial, da discriminação da mulher, da privação de liberdades fundamentais e tantas outras também eram leis. E a superioridade da civilização veio dar razão a todos os que no tempo oportuno as rejeitaram, as incumpriram e as combateram.

Nem todas as leis são afinal iguais em dignidade e é totalmente legítimo protestar contra o que está errado. Mas o governo não quer perceber isso, no alto da sua certeza absoluta.

É por isso que militantemente votarei contra Sócrates nas próximas eleições. É por isso também que passei a ser contra as maiorias absolutas em geral e em concreto. Em vez de maiorias absolutas que dão cobertura à absoluta incompetência, prefiro governos de competência absoluta que em minoria tenham capacidade de fazer reformas inatacáveis.

Para governar bem não é necessário a força da maioria, basta a força da razão.

sábado, 18 de abril de 2009

Corrupção, SA

As novas leis têm sido uma fonte inesgotável de inspiração. Agora tivemos direito a mais uma pérola com a lei do combate ao enriquecimento ilícito.

Se bem entendi a coisa, é assim: se um bandido, corrupto, ladrão se descuidar e deixar o rabo de fora; se o Estado descobrir que enriqueceu demais com manobras obscuras... tem de dar metade da burla às Finanças e ficam todos amigos.

A mim parece-me isto uma espécie de empresa, uma sociedade à força entre o Estado e os Bandidos. E isso tem alguma lógica. Assim como assim, os contribuintes já estão habituados a ser depenados pelas Finanças, por isso não é de estranhar este tipo de parceria. No fundo, no fundo, estão em ramos de negócio muito parecidos.

Caros corruptos, exploradores, ladrões e afins, podem descansadamente abotoar-se com milhões, porque não há problema nenhum. Se souberem esconder bem tudo o que passar dos 100.000 euros, são livres e honrados; se forem descobertos, apenas têm de dar uma parte do Estado, mas mesmo assim ainda ficam com muito. Só podemos desejar-vos boa sorte nos "negócios", este é um país de oportunidades!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Bairrismo

Justificar o apoio a Durão Barroso com o facto de ele ser português está ao mesmo nível que apoiar David Catarino para a Região de Turismo por ser de Ourém. Num caso como no outro, é irrelevante a competência da pessoa para o cargo que desempenha, tal como é irrelevante se já deu provas de alguma coisa, ou se foram boas provas.

Tanto num caso como no outro me faz muita impressão este tipo de argumento. Se fosse por ser português, então podíamos indicar para Presidente da Comissão Europeia, sei lá... o Zé Maria ou o Castelo-Branco.

Continuo com esta mania exótica de fazer as minhas escolhas com base na competência das pessoas, em vez de olhar para o partido, para o modelo de sapatos ou para a residência habitual.