Notícias de Ourém 28.08.2009
Sempre me fez confusão aquela parte do milagre da Rainha Santa quando ela transforma pão em rosas. É evidente que o pão era muito mais útil, e D. Isabel era uma pessoa sensata. Não tem lógica trocar um bem útil por outro que, sendo lindo, não enche barriga. Mas o rei D. Dinis irritava-se com o desperdício de esmolas da sua santa esposa para os pobres, e a boa da Santa Isabel viu-se obrigada a fazer um milagre para não o contrariar. Prerrogativas de santa...
As estatísticas do sucesso escolar que o ministério da educação publicou recentemente são uma espécie de milagre das rosas, mas ao contrário. Pega nas rosas e nos espinhos do que se realmente se passa nas escolas e transforma-as numa aparência luzidia de um enorme sucesso.
Dizem que há menos "chumbos". Pois sim! Finalmente dão resultado medidas políticas como o fim da reprovação por faltas. Até há dois anos, os alunos que faltassem excessivamente reprovavam. Graças à nova lei do estatuto do aluno, isso acabou.
Também é possível que esteja relacionado com aquela notícia que animou o início do Verão, de um aluno que passou com oito negativas. E veio-se a saber que não é caso isolado.
Também é possível que esteja relacionado com a proliferação dos cursos CEF, onde frequentar as aulas, mesmo sem levar sequer um caderno ou uma caneta, é garantia de sucesso quase absoluto.
São pequenos passos que caminham para o mesmo fim: sucesso estatístico. Se a qualificação real aumenta, isso ver-se-á brevemente com a publicação dos resultados internacionais.
Na verdade, não há milagre nenhum nesta matéria. O que há é mais um dos cansativos truques de ilusionismo que o governo de Sócrates faz há anos, convencido de que pode enganar toda a gente o tempo todo.
Há ainda alguns que acreditam. Uns porque acreditam seja no que for, tomam o PS por religião e acolhem sem crítica tudo o que tiver o símbolo da rosa. Outros porque não se dão ao trabalho de procurar informação para além da papinha que as TVs preparam para a hora de jantar. E outros ainda fingem acreditar, porque o poder pode ser muito generoso, com lugares apetecíveis para distribuir.
Fora destes três grupos já não é possível deixar-se enganar outra vez.
Eu deixei de acreditar. O PS é só um partido, não é a minha religião, e procuro manter o espírito livre e um olhar crítico sobre a vida política; também não sou muito preguiçoso a procurar informação, com mais leitura e menos televisão; e quanto aos lugares apetecíveis, costuma ser a moeda com que se compra a independência de espírito. E eu não estou disposto a deixar de pensar pela minha cabeça.
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9 comentários:
Quem me dera ter vivido o 25 Abril de 1974, assistir à luta dos ricos pelos pobres, estudantes, professores, advogados, médicos, toda uma parte da sociedade que vivia bem com o antigo regime mas por uma questão ideológica, de principio, abdicou do seu bem estar, para lutar pelos que não tinham voz nem conhecimento. Assim fizeram Álvaro Cunhal, Mário Soares, Sérgio Ribeiro, entre tantos!
Hoje os estudantes lutam para não pagar propinas, por um estatuto, por um emprego, lutam pelo seu bem pessoal. Assim como os professores médicos e advogados, lutam cada qual, para defender a sua classe principalmente para seu próprio bem .
Esta maneira de estar na vida é agora transversal à sociedade, quem me dera ter vivido Abril!
Os professores podem manifestar-se todos de uma vez, mas estarão cada qual a defender-se a si mesmos, não estão a defender mais ninguém.
Sei que o professor João Filipe nada tem que temer com a avaliação dos professores, fui seu aluno e recordo-o como um dos melhores que tive nos 12 anos que andei na escola, mas com o extremar de posições entre governo e sindicato dos professores, escolheu defender a sua classe.
Para já uma vitoria para os professores, o PSD de Manuela Ferreira Leite, prometeu suspender a avaliação dos professores caso ganhe as eleições. Sem duvida uma boa noticia para a sua classe, já para o país, o futuro dirá.
Caro Ricardo (conheço?)
Obrigado pela referência pessoal.
Cada tempo tem a sua luta, a sua razão por que lutar. Já muitos tempos conheci, e não me peçam para escolher um deles...
Hoje, há que lutar contra esse individualismo exacerbado, fruto de umas relações sociais de base inquinadas por uma ideologia de egoismo, de salve-se quem puder. Mas há tantos sinais positivos! Sobretudo dos jovens, que não querem estiolar cada um no seu casulo assolidário.
Sobre os professores e a sua luta muito me apetecia dizer - até sou professor... embora reformado - mas aqui (neste espaço) há quem fale com muito mais propriedade. E, atenção, nada corporativamente e contra o pressuposto falso de que os professores não eram, nem querem ser, avaliados!
Saudações
pois não ,eles queriam era a autoavaliação que significa o mesmo que nenhuma avaliação,será que a cdu não vê mais nenhum problema no pais e no concelho?
afinal qual o problema dos professores com a ministra da educação?
se não tem a ver com uma visão corporativista do sistema de educação tem a ver com o quê?
se não vão perder privilégios porque tanta revolta?
diga se em abono da verdade o joão filipe pelo menos foi coorente ao contrário de outros professores que diziam cobras e lagartos do ps e agora com perspectiva de emprego facil andam em campanha com aqueles que á meses atrás tanto criticavam...
O Ricardo diz muito bem, a nível pessoal nada tenho a recear das alterações que foram introduzidas na educação por este governo. Estou na parte privilegiada da carreira (passei a titular no totoloto de 2007). Ocupo, por inerência, cargos de coordenação. Ganhei com isso reduções de horário, menos trabalho pelo mesmo dinheiro.
Isso não me impede de objectivamente considerar que a acção deste governo na área da educação vai demorar vários anos a curar. E vão ficar marcas, mesmo assim.
Mas se fosse uma questão de andar à procura do que é melhor para mim, nem sequer me candidatava pela CDU em Ourém, onde não se esperam benefícios pessoais de nenhuma espécie. Outros que optaram por bater palmas vão tendo umas pequenas benesses do PS. Enquanto há...
Já agora que fazes o favor de elogiar o tempo em que nos conhecemos como aluno e como professor, e de reconhecer que estas medidas não me afectam a nível pessoal, pode ser altura para te perguntares afinal o que é que me move.
Precisas primeiro de tentar pôr de lado certos preconceitos matraqueados pela propaganda, como "direitos adquiridos" ou "luta corporativa".
Afinal o que me move contra as medidas deste governo e deste PS que o apoia? Afinal o que move Manuel Alegre e mais uma meia dúzia de deputados do PS? E o que faz o CDS-PP, o PSD, o BE e (claro!) a CDU proporem a anulação de várias medidas deste governo? Como é que é possível uma unanimidade tão grande da esquerda à direita, dos sindicatos e dos movimentos independentes contra as medidas do governo em educação?
Achas, em concreto, que defende a escola da Freixianda obrigar à demissão um Conselho Executivo com mais de uma década de experiência, para colocar lá um trio de inexperientes nessas funções, vindos de fora do Agrupamento, todos eles ligados profundamente ao PS? Só pelas ligações ao PS passam a ser a escolha acertada para dirigir o Agrupamento da Freixianda? E depois vai-se a ver e nem sequer sabem como se organiza um calendário de reuniões de avaliação! Ignoram e infringem as leis, os mesmo que pomposamente se apresentaram na escola para fazer cumprir a lei!
Uma tarde inteira!
Se quiseres passo uma tarde inteira a contar-te pormenores da acção deste governo em matéria de educação. E depois se persistires em achar que tudo se resume a uma luta corporativa por direitos adquiridos, declaramos o assunto arrumado e cada um fica na sua.
Sérgio, como não tem a ver com defesa corporativa nenhuma, eu digo-lhe em concreto e no meu caso uma dos muitos motivos: INCOMPETÊNCIA!
A avaliação de docentes, por exemplo, já vai na 3.ª simplificação. E não é por responder aos protestos dos professores, é por conter normas objectivamente impossíveis de implementar.
Depois o ministério vem dizer que não queria dizer o que realmente disse e faz mais um remendo. INCOMPETÊNCIA.
Na questão das faltas dos alunos por doença, as orientações do ministério são contrárias à lei. Diz textualmente a lei "Sempre que um aluno, independentemente da natureza das faltas, atinja um número total de faltas...", mas o governo diz que as faltas por doença não estão incluídas na expressão. E que os professores não souberam interpretar a lei.
A acção do governo limitou-se a construir uma ficção de escola com estatísticas forjadas, piorou o ambiente, desmotivou os professores com ofensas constantes. Mentem descaradamente.
É isso que tenho contra este governo.
Na avaliação de professores, como estava prevista inicialmente mobilizava mais ou menos os seguintes recursos por biénio:
150 mil professores, 6 aulas assistidas = 900.000 aulas de hora e meia. Quase UM MILHÃO E MEIO de horas de avaliadores.
Cada aula assistida pressupunha duas reuniões, uma planificação e um relatório, arquivado em duplicado. Cerca de 4 MILHÕES de folhas, contas por baixo.
São custos irracionais. E com que ganhos para a escola?
Obrigado, João Filipe
Por aqui, por estes espaços blogoesféricos, vamos aprendendo, ou apurando o antes aprendido.
Sabe tão bem! E perco-me por estes espaços por onde viajo...
Abraços
Já tinha lido o texto deste seu post antecipadamente no NO, por isso já nao foi novidade para mim. Respeito essa sua postura e ideias mas...lá está outra vez em contemplação. Que coisa, nao publica nadinha desde 28/8, vá lá..
bem, tá na hr do seu homonimo Joao Pestana começar a chatear-me.Votos de bom descanso por aí e boa noite.
LOL
Cumps
Mariamar, é para se ver que a vida de um professor não é fácil, sobretudo depois das invenções tontas do bando governativo. Umas vezes não há vagar, outras vezes até fico sem inspiração. LOL
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