Região de Leiria, 20.03.2008
O Professor Carlos André, em artigo do Região de Leiria, veio insistir numa ideia que, não sendo inédita, soa estranha: “se os professores rejeitam esta avaliação, deviam apresentar alternativas”.
Faz lembrar o caso da Ota, em que as absolutas certezas vieram a tornar-se relativas face a um “estudo independente” dos empresários. Agora seria a vez das alternativas dos professores. Se a moda pega, o Governo fica sem emprego, ou pior, ao Governo restará apenas o triste pelouro das más soluções, para estimular a sociedade a produzir as boas. Discordo. Ao Governo compete governar, e governar com acerto para bem de todos nós.
Ainda assim, os Sindicatos apresentaram alternativas para a avaliação. Só que, presumindo que dos Sindicatos nada vem de bom, o Ministério não aceita sugestões.
Na verdade há vida para além do inefável modelo do Governo, imposto com a mesma convicção com que defendeu a Ota.
Pessoalmente, por exemplo, pouco tenho contra a avaliação definida por Cavaco Silva há quase 20 anos. O governo de Cavaco já passou e o próprio agora é Presidente. Mas isso é fraco argumento para substituir uma política viável.
É largamente preferível a avaliação testada por anos de prática a isto que agora se apresenta. Não sendo perfeita, pelo menos não era o monstro de burocracia que agora se propõe. É costume ouvir-se que aquela não servia, por não distinguir os melhores. O que até é verdade, mas só em parte. No modelo antigo, a classificação de Bom era distintiva, mas meramente honorífica; e a máxima de Muito Bom nunca foi atribuída, porque os Governos não a regulamentaram. Se o Ministério quisesse, podia perfeitamente distinguir os melhores com as antigas regras de Roberto Carneiro.
Na situação actual, chegam a ser precisas 18 aulas assistidas para mudar de escalão, com os respectivos registos em triplicado: uma cópia para o professor, uma para o avaliador e outra para a escola. Total de 54 folhas, se a grelha aprovada for sucinta e couber numa folha singela. Por cada dois anos, no cúmulo de todos os professores, serão perto de um milhão de aulas assistidas, três milhões de páginas arquivadas algures. Será racional? Será eficiente?
Perante este Buldozer burocrático, mesmo os conceitos teóricos mais bem intencionados são cilindrados. Avaliar, distinguir os melhores, rigor, qualidade... são conceitos correctos, que infelizmente foram liquidados por uma regulamentação inábil. Para já, os prazos intermédios foram completamente esmagados pela inevitabilidade das coisas impossíveis. O resto irá a seguir, na enxurrada de remendos que o Ministério vai promovendo na TV e que tardam a ganhar expressão jurídica.
E no meio da confusão os professores é que têm obrigação de ir apanhar os cacos, apresentando alternativas? Isso é a política de pernas para o ar: os cidadãos governam e o Governo limita-se a atrapalhar.
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