segunda-feira, 17 de março de 2008

Na outra margem

Notícias de Ourém, Março 2008


De repente toda a gente começou a falar de professores. E como entre nós todos sabem de tudo, basta ouvir uma coisa aqui ou ali para ir dando opinião. Diz-se agora pelos cafés que para livrar a escola de maus professores, a solução é castigá-los a todos com uma avaliação rigorosa, coisa que eles não querem. Há nessa ideia dois erros elementares: nem isso é remédio contra os maus professores, nem os professores rejeitam a avaliação.
Quando alguém se queixa de maus professores, é porque não deve haver professores nenhuns? Não! Essa conclusão é uma estupidez. O que é preciso é bons professores.
Quando os professores reclamam que esta avaliação é má, significa que recusam a avaliação? Não! É uma conclusão tão estúpida como a primeira. O que os professores querem é um sistema correcto.
Então e os professores não deviam apresentar alternativas? Sim e já as apresentaram, mas o Governo não aceita lições de ninguém. E além disso, como as podiam aceitar? Se até nos querem fazer crer que os professores é que dão cabo da escola.
Para quem ainda se lembra do caso da Ota, tem aí um bom exemplo do que se está a passar. Como dizem Sócrates e a Ministra, o seu caminho é o único caminho, não há alternativas, recuar não é possível, parar este modelo é pior do que nada fazer, porque o país não pode esperar. Como na Ota.
Como se, ao fim de 15 anos a aplicar a avaliação de professores pelas regras definidas por Cavaco Silva, elas tivessem perdido a validade de repente. Como se o mundo se acabasse por gastarem mais dois ou três meses a pensar em soluções melhores. Tem de ser agora, tem de ser às cegas, tem de ser sem preparação.
E assim se prossegue uma espécie de novela mexicana, com dobragem em brasileiro. A história é sempre a mesma, as vozes não acertam com os actores e a linguagem em que falam é vagamente parecida com a nossa, mas não é a nossa.
O argumento é fraco, os actores mal preparados, e só nos resta o triste consolo de podermos adivinhar o final: a ministra vai continuar no lugar, com a autoridade feita em cacos, como um Mário Lino, que tanto diz branco como diz preto; as certezas absolutas de hoje valerão amanhã menos de meio tostão furado; finalmente, numa reviravolta previsível, apoiada num estudo independente qualquer, vão descobrir outro caminho e passar à outra margem.
Se isso acontecer, caros governantes, os professores esperam lá por vocês.

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