O governo de Sócrates é cheio de meios-entendidos. Mesmo quando há um fundo de verdade teórica, raramente sustenta o que nos pretendem impingir na prática. O fecho das escolas é mais um exemplo.
O governo proclama que há mais insucesso nas escolas com menos de 21 alunos. E espera que tiremos a conclusão saloia de que o insucesso se deve ao tamanho das escolas. É evidente que não é. Aliás, duvido sempre das estatísticas deste governo, geralmente não têm base séria e servem só para dar um ar “científico” a coisas que tendem vertiginosamente para o absurdo.
Uma escola de 1.º Ciclo com 20 alunos tem, em princípio, 2 turmas. Em média são 10 alunos por professor. Isso permite, em teoria, um acompanhamento muito melhor de cada aluno do que nas escolas maiores. Então, de onde aparece a estatística do governo? Duas possibilidades: ou é uma invenção, o que não é inédito; ou até pode existir, provavelmente porque em escolas menores a percentagem de alunos com dificuldades de aprendizagem é mais visível. Perdidos no meio de escolas massificadas, os mesmos alunos com dificuldades não passam ser menos, mas passam mais facilmente despercebidos nas estatísticas.
Se for esta a razão, o encerramento das escolas é uma não-solução, ou uma solução de gente tonta. Por serem deslocados de autocarro para escolas maiores, em princípio os alunos não passarão a ter menos dificuldades de aprendizagem. Ou prevê-se que sim?
Mas o engano não fica por aqui. Para dourar um pouco mais a pílula, o governo anuncia que fecha escolas com poucas condições e desloca os alunos para escolas mais bem apetrechadas. Se isso fosse verdade, talvez fosse uma pequena vantagem. Quem olha para a realidade percebe que não é assim. Por exemplo no Agrupamento da Freixianda pré-anunciaram o encerramento de algumas escolas já no próximo ano. Mas como não há as tais escolas moderníssimas de que fala o governo, os alunos vão ser deslocados para escolas velhíssimas, iguaizinhas às que fecham, apenas um pouco mais distantes.
Entretanto, no estrangeiro, o processo é o inverso. Depois de dezenas de estudos que comprovam que escolas mais pequenas são mais eficientes, grandes escolas estão a ser separadas em unidades menores. Por exemplo, em Nova Iorque. Eu acho que nem eram precisos estudos, bastava o bom senso para perceber.
Para mim, em condições iguais, será sempre preferível uma escola de 1.º ciclo com 20 alunos, próxima dos pais, a uma escola massificada, com 300 ou 400 alunos, onde dificilmente cada um recebe toda a atenção de que precisa enquanto é criança, escolas enormes onde os mais fracos não podem ser mais eficazmente protegidos.
E por fim, também é do mais elementar bom senso perceber que o encerramento de escolas (a juntar ao fecho de centros de saúde e deslocalização de serviços) é um convite declarado ao abandono do espaço rural, é uma sentença de morte para mais uns milhares de pequenas comunidades. Tudo em nome de um falso progresso que dois ou três governantes medíocres provincianamente acham que é o “top” da modernidade.
Publicado no Notícias de Ourém : Junho 2010
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14 comentários:
Tens razão João! A escola c+s da Freixianda foi criada no tempo em que, estes mesmo senhores, apregoavam a necessidade dos alunos terem a escola no seu meio. Independentemente de se concordar que isso é bom ou mau, essa ideia surgia fundamentada nas ciências da educação. Pelo contrário, este novo tsumani de encerramento das escolas não se baseia em estudo nenhum, é com certeza uma decisão tomada no espírito herdado de Valter Lemos, uma socretinice, mais por capricho que por razões económicas.
No caso de Ourém, o caso das escolas que se fecham, com razão ou sem razão, é ainda mais valter-lemisado porque os socretinos cá da comarca se antecederam à notícia: meses antes do ministério ter decidido, já a prol local tinha anunciado o fecho de uma catrefa de escolas do 1ºciclo e por um triz não disseram que foi a pedido dos pais. É caso para dizer a Parque Escolar paga-se cara!
prole em vez de prol
antes que venha a inquisição
É a primeira vez que comento para a "Minuciosa Formiga", apesar de aceder com alguma regularidade a este blog. Então, permitam-me que questione acerca das verdadeiras razões que levam o governo a seguir uma política de encerramento das escolas e ainda de outros equipamentos como hospitais e centros de saúde, pois tudo leva a crer que ela se inscreve numa estratégia mais global que inclui ainda as dificuldades de acesso pelo interior do país a localidades raianas quando as mesmas são facilitadas através de ligações do país vizinho.
Com efeito, para além das questões de carácter "económico", o encerramento de hospitais e centros de saúde nalguns casos parece propositadamente destinado a promover o despovoamento do interior do país e, sobretudo, dos concelhos raianos. E, quando verificamos o incentivo ao recurso à maternidade de Badajoz, as nossas suspeitas parecem confirmar-se.
Em relação às escolas que apenas dispõem de duas dezenas de alunos, em regra escolas primárias a funcionar nos edifícios que ficaram conhecidos por "escolas dos centenários", para além do incentivo ao despovoamento do interior parece indiciar um exercício de revisão da História através do apagamento de todos os vestígios deixados pelo Estado Novo. É que, independentemente da apreciação política que possamos fazer em relação ao anterior regime, e essa seguramente não é a mais favorável, afigura-se um absurdo pretender a que, de futuro, as próximas gerações venham a convencer-se de que tudo foi feito ao tempo do actual governo - escolas, hospitais, centros de saúde. E, desse modo, perpectuar a memória do engº Sócrates como o benemérito da Pátria!
Talvez haja um propósito deliberado de encerrar o interior do país e em especial as pequenas localidades, ou talvez seja apenas um provincianismo deslumbrado com os brilhos da cidade grande. Os nossos governantes acham-se muito cosmopolitas, mesmo se têm mentalidades muito estreitas. E acham que o "moderno" é isto... Por isso não acho que se corra o risco de as gerações futuras olharem com devoção para Sócrates. Se ele tiver um lugar na história, será um vulto da dimensão de algum dos nossos medíocres governantes de outros tempo. Que afinal não são raros na nossa história.
Um aspecto que também me parece interessante verificar é o que respeita à "participação democrática no ensino" que a Constituição da República Portuguesa, no seu artigo 77º, consagrou nos seguintes termos: "Os professores e alunos têm o direito de participar na gestão democrática das escolas, nos termos da lei".
Sucede que, ao que me parece, o actual modelo de nomeação de director apresenta demasiadas semelhanças com o que vigorava ao tempo do anterior regime, tudo levando a crer que nalguns domínios e aspectos este já foi subrepticiamente restaurado!...
Antes de mais quero pedir desculpa ao Dr. João Oliveira pelo facto deste comentário não ter a ver directamente com a notícia mas sucede que não encontrei de momento outro meio de transmitir o que se segue.
Constou-me que o projectado "restauro" da Capela da Perucha pode implicar a remoção do piso superior sobre o nártex o que, a verificar-se, as projectadas obras não poderão ser propriamente classificadas de "restauro" mas simplesmente uma acção de destruição.
Será realmente verdade ou tratar-se-á de um boato sem qualquer fundamento?
Afinal de contas, depois da destrição das escadas de acesso ao púlpito e o entaipamento do acesso, da remoção do gradeamento junto à capela-mor e da degradação patente, o que restará daquele templo para além de um descaracterizado pavilhão? Quero acreditar que tal propósito não passe de um mau pesadelo que me assaltou sem qualquer concretização na realidade!
Depois do encerramento de escolas segue-se a eliminação das reprovações, vulgo "chumbo", agora eufemisticamente apelidado de "retenção". O que equivale a suprimir a avaliação... afinal, para que servirão os testes de avaliação e a consequente correcção? porque não se decide entregar o diploma apenso à cédula de nascimento?
É claro que as melhores colocações no mercado de trabalho são encaminhadas para aqueles que, dispondo de miores recursos financeiros ou sejam oriundos de famílias politicamente influentes, frequentam determinados colegios e universidades particulares que, nalguns casos, até os premeiam com um avental... e, se estes não forem suficientes para ocuparem os cargos, importam-se de Espanha os licenciados!
Aos potenciais "beneficiários" da bondosa política educativa do governo estará reservado o desemprego e o rendimento social de insersão... e, caso não tenham concluído um curso superior, sempre o poderão fazê-lo através de um programa de Novas Oportunidades, como diploma emitido ao domingo!
Pois é, Carlos. Concordo e só acrescento que, além de importar de Espanha os licenciados, também se exportam para lá os serviços, como a assistência médica, a formação superior em Salamanca ou Barcelona, e o resto. Aos poucos. Mas o povo é que vota e parece gostar assim.
O povo é que vota realmente e o voto dá-lhe a sensação de que é ele que decide mas também em democracia, o poder possui mecanismos de controlo que se revelam bem mais eficazes e subtis do que os empregues pelas ditaduras. O jogo fica viciado logo à partida, desde a fase de transição, com a distribuição de centros de decisão política, económica e meios de comunicação social por um pequeno grupo de forças políticas que lhes permite criar clientelas em torno dos seus próprios interesses. De resto, quando os principais orgãos de comunicação social discrimina com base num critério de "principais" candidatos, não está a fazer mais do que assegurar o controlo desse mesmo poder... ainda assim, já praticamente metade do eleitorado que deixou de exercer o voto, o que atesta o crédito que dá ao actual regime político.
Recordo que, poucos meses antes do 25 de Abril, quando regressou de uma viagem a Londres, Marcello Caetano reuniu em Lisboa uma gigantesca manifestação de apoio e, algum tempo depois, ninguém se lembrava de ter apoiado o anterior regime. Em 5 de Outubro de 1910, chamavam-lhes os adesivos...
Portanto, apesar dos votos que entram nas urnas, o descontentamento é bem mais profundo e está a revelar características perigosas como o desinteresse e o silêncio!
Afinal, está tudo explicado... o governo está a encerrar as escolas mas, de acordo com o programa das comemorações do Centenário da Implantação da República, recentemente publicado em "Diário da República", vão ser inauguradas muitas escolas em todo o país já no próximo dia 5 de Outubro!!!
Dentro de alguns anos, os portugueses apenas se lembrarão das escolas do centenário, inauguradas pelo engº Sócrates, qual Afonso Costa do século XXI... antes destas que vão agora ser inauguradas, não existiam sequer escolas em Portugal: éramos todos analfabetos! só se fizeram engenheiros, sabe-se lá aonde...
Dr. Luís Oliveira,
Como não localizo o seu endereço de e-mail, recorro a este meio para o convidar a visitar o http://auren.blogs.sapo.pt/
Como não pretende ser uma forma oportunista de divulgar o blog, agradeço que apague este post.
Carlos Gomes
Tenho todo o gosto, não vou apagar a mensagem. E já fui dar uma primeira voltinha ao blogue. Volto em breve com mais vagar.
Acerca do encerramento de escolas, sugiro a leitura do seguinte diploma: Resolução do Conselho de Ministros n.º 56/2010. D.R. n.º 154, Série I de 2010-08-10, da Presidência do Conselho de Ministros. Inclui o Programa das Comemorações do Centenário da República, aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 28/2009, de 27 de Março, uma acção de inauguração de novas escolas e centros escolares, ou da sua requalificação, a ter lugar no dia 5 de Outubro de 2010
Como antes referi, o governo vai hoje "inaugurar" 100 escolas para assinalar 100 anos da República. Trata-se, sobretudo, de um processo de revisão da História e ao mesmo tempo procurar deixar algo que possa constituir uma marca da obra da III República. Na realidade, a tão propalada obra da República na área do ensino é bastante questionável. E, para além da Ponte Vasco da Gama e da monumental feijoada que ali foi servida, a III República também não vai deixar grande obra!
Pese embora o autoritarismo repressivo do Estado Novo, a maioria das escolas primárias (e não só!) foram construídas ao abrigo do Plano dos Centenários.
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