A posição de Portugal nos testes PISA 2009 apresenta uma melhoria de 2006 para cá. Mas será que isso significa que os alunos portugueses estão melhores? Não é isso que notamos nas escolas. Então, porque é que a generalidade dos políticos, com Sócrates como porta-bandeira, jornalistas e comentadores, aceitam sem se interrogar esta suposta verdade aparentemente indesmentível?
Eu, que não tenho visto absolutamente nenhuma melhoria nos conhecimentos dos alunos nestes últimos anos, nem na minha escola, nem nos exames nacionais que corrijo anualmente, fiquei com muitas dúvidas e todas as reservas. Acho que, mais uma vez, os dados estão falseados.
E acho que há uma explicação plausível. Acho eu e acham muitos professores, como se pode ver pela internet fora.
Os alunos de agora na verdade não sabem mais, mas os alunos com mais dificuldades foram retirados do projecto, e assim não dão má imagem do país. E como se faz isso? Afastando da escolaridade regular os alunos que não conseguem acompanhar o ritmo. Em 2006 a percentagem de alunos nos cursos CEF estava abaixo dos 7%, em 2009 já chegava perto dos 14%. Basta ver os relatórios estatísticos do Ministério (GEPE). Em resumo: em 2006 a probabilidade de alunos fracos participarem nos testes do PISA era muito mais importante. Em 2009 essa probabilidade desceu 50%!
Isso explica também "aquele" pormenor: os resultados mais altos não evoluiram, foram os resultados mais baixos que subiram. Foi o que ajudou a média nacional. Com menos alunos fracos no estudo, os resultados ficaram mais bonitinhos, mas não a qualidade. E assim nos enganamos e nos deixamos facilmente enganar pelos manipuladores de estatísticas.
É ridículo que toda uma classe política e a elite intelectual do país, e ainda jornalistas e os opinadores de serviço, com honrosas mas quase imperceptíveis excepções, embarque sem qualquer sentido crítico neste embuste.
A discussão, de resto, está toda feita ao contrário: teria de preocupar-nos o facto de continuarmos abaixo da média, em vez de festejar um progresso que nem sequer é real. Preferimos continuar a mentir uns aos outros, em vez de encarar a realidade. Até quando é que isto aguenta?
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8 comentários:
A este propósito, penso que a constatação que por vezes algumas pessoas fazem ao afirmarem que aprenderam a resolver a raíz quadrada quando frequentaram a antiga 4ª classe, sintetiza bem o inflaccionamento actual do ensino.
Convém verificar, desde já, que o Tratado de Bolonha vai produzir efeitos negativos para a sociedade dentro de pouco tempo... as licenciaturas estão a perder qualidade e a transformar-se numa espécie de "novas oportunidades" E, no mercado de trabalho, os grupos profissionais estão a ser ordenados de acordo com os níveis habilitacionais estabelecidos, sem consideração pela especialização profissional. Assim, um operário com ofício ou especialidade fica indistintamente classificado e remunerado como "assistente operacional" ao lado de outro indivíduo sem qualquer espécie de formação, apenas os distinguindo a "área funcional"... isto apenas porque ambos possuem as mesmas habilitações literárias! Dentro de algum tempo, quem pretender um electricista ou um canalizador terá de o contratar nos países do leste europeu...
Subscrevo inteiramente o teu comentário, João. Sugiro que o remetas para alguns jornais, a começar pelo Expresso.
Paulo Fonseca
Paulo, este assunto tem sido mais do que comentado em sítios da maior visibilidade e quem não embarca nesta onda entusiástica é sempre tomado por alguém que está do contra só por ser do contra. A grande imprensa nacional está extasiada com os resultados.
Mesmo que estes resultados fossem reais, é ridículo atribuí-los às políticas do governo. Na mesma linha de ideias, teríamos de atribuir às políticas dos respectivos governo a descida das médias em países como o Japão, Austrália, Bélgica, Canadá, Suíça... etc.
Enquanto Portugal tiver condescendência com os políticos que nos enganam sem vergonha, não haverá futuro.
Tenho acompanhado e, profrssor reformado mas cidadão no activo, estou contigo.
Leste a mensagem no autoridadenacional do Miguel Tiago?
Abraço
Sérgio, já tinha lido (a partir da referência que fizeste no anonimoxxi). Tanta coisa a dizer para tanta lata que eles têm!
Dr. Filipe Oliveira,
Visito de vez em quando o seu blogue aguardando novidades...
Aproveito para lhe transmitir que o AUREN também se encontra à sua disposição. Não encontro em parte alguma o seu endereço electrónico pelo que utilizo este espaço.
Caro Carlos, obrigado pelo interesse. Passo regularmente no Auren. A Formiga Minuciosa anda numa fase menos inspirada. A vida de professor, ao contrário do que as pessoas pensam, não é para meninos. Ehehehe.
Eu compreendo. Tenho uma professora em casa...
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