Notícias de Ourém, Julho 2007
Lembram-se daquela história do lobo e da raposa que apanharam um carneiro? Como foi uma caçada a meias, decidiram partilhar o banquete. Mas a raposa, com as desculpas de ser madrinha de baptizado, foi comendo três dias sozinha em segredo, e dizia ao lobo que o banquete ficava para o dia a seguir. O primeiro afilhado chamava-se “Comeceite”, o segundo era “Mieite” e o terceiro era “Findeite”. Resultado: o lobo foi na conversa da raposa e quando chegou ao local já só restava o rabo.
Li com atenção a notícia sobre o núcleo da Freixianda do PSD, que eu tenho gosto em saudar. As pessoas que o encabeçam são “velhos companheiros” de várias aventuras e já colaborámos muitas vezes para o bem da região.
É certo que neste projecto eu não tenho intenção de entrar. Prezo muito o objectivo, a união de esforços pelo desenvolvimento das pontas mais esquecidas do concelho de Ourém, mas não acredito nem um milímetro na capacidade da força política que governa a nossa autarquia. É só isso que nos separa.
Reparei com curiosidade que o tal núcleo da Freixianda inclui cinco freguesias. Tem toda a lógica, não podia estar mais de acordo. Quando ouço falar do “norte do concelho”, entendo que querem dizer Formigais e a Freixianda junto com as três freguesias filhas, que ao longo da história se formaram a partir dela: Rio de Couros, Casal dos Bernardos e Ribeira do Fárrio. Em termos geográficos, a ideia faz sentido. Já em termos de união das pessoas, é uma completa fantasia, inventada por alguns políticos, em que só acredita quem quer.
Depois do recente debate da Carta Educativa, fiquei ainda com mais certezas sobre isto. Foi público e notório que Rio de Couros e Casal dos Bernardos se recusaram, com enorme convicção, pertencer ao território da Freixianda. Conduziram essa batalha sem tréguas e acabaram por levar a deles avante.
Ora, a primeira bandeira do tal “norte do concelho” poderia ter sido muito bem a defesa da instituição mais significativa daquela região, a Escola EB2,3 da Freixianda. Pelo contrário, depois de combater energicamente a proposta da Câmara e do Ministério da Educação, que queriam dar-lhe maior importância, votaram todos contra ela, à excepção do senhor Caetano.
Em Rio de Couros até se declaram “prontos para o combate, para restabelecer a normalidade”. Entenda-se: o combate era contra a Freixianda, a normalidade era a ligação a Caxarias.
O projecto agora em andamento tem boas intenções e um discurso que parece música, mas a partida ameaça ficar desafinada. Pela defesa da escola, tiveram o primeiro pássaro na mão, e logo o deixaram voar.
Desejo-lhes verdadeiramente muita sorte e todo o jeito, para serem bem sucedidos nas justas intenções de puxar por estas terras e estas gentes. Ganha a região e o concelho. Mas aguardo com curiosidade sobretudo os ventos que sopram de Rio de Couros e Casal dos Bernardos para um projecto assim tão nobre. Se mostrarem tanto empenho como para a Carta Educativa, fica tudo em boas mãos.
Vamos ver se não é como na velha história: companheiros de aventura, dizem umas belas palavras, mas cada um trata da sua vidinha o melhor que conseguir. O parceiro lobo que se dane, que a raposa matreira sempre se há-de ir amanhando.
domingo, 22 de julho de 2007
segunda-feira, 16 de julho de 2007
Câmara à venda
Notícias de Ourém, Julho 2007
«Quem, dentre vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro a calcular a despesa para ver se tem com que acabá-la? Não suceda que, depois de assentar os alicerces, não a podendo acabar, todos os que viram, comecem a troçar dele, dizendo: Este homem principiou a construir e não pôde acabar.» (Evangelho de São Lucas, 14:28-30)
Bem se vê que na Câmara de Ourém a leitura do evangelho não está na ordem do dia. Até seria útil, não necessariamente por motivos religiosos, mas por razões de simples bom senso. Há por lá umas passagens que podiam evitar mais um episódio do planeamento à moda da nossa autarquia. A história mais recente do nosso município parece inspirada nesta citação da Bíblia, só que não é uma torre, são os Paços do Concelho.
Veio nos jornais que se acabou o dinheiro para concluir o novo edifício da Câmara Municipal, já começado a construir mas que ainda vai a meio. Solução encontrada: vendê-lo já, antes de estar acabado!
É uma solução engenhosa, proposta da imaginativa maioria, que resolve, de uma vez só, uma série de problemas. Primeiro, passam a batata quente a quem a quiser; segundo, livram-se da vergonha de ter um esqueleto de prédio plantado no quintal da cidade; terceiro, fazem o negócio do século.
Por 5 ou 6 milhões de euros, desconfio que a fila de compradores não chegue a dar muito trabalho a contar. Mas se o negócio for um bom negócio... acaba sempre por ser um sucesso. E é certo que vai ser um bom negócio. Afinal, quando o vendedor está aflito, há sempre quem faça bom negócio.
Mas como é que se chegou a isto? Mesmo descontando que a maioria municipal já não consegue acertar uma, esta é o cúmulo.
Apesar dos avisos em contrário, lançaram-se à tonta para uma obra, sem fazer contas ao que tinham que pagar, ainda por cima com um mau projecto.
Já sabiam que estavam a nadar em dívidas até ao pescoço e que a lei não dava margem de manobra para mais empréstimos. Mas diziam que era muito urgente, porque não havia espaço para os serviços todos e se pagava muito de rendas para os ter espalhados pela cidade. Pois agora resolve-se isso: vende-se o prédio e faz-se um contrato de renda para os serviços todos, por 40 anos.
Da Assembleia Municipal poderia ainda vir um sinal de lucidez, que travasse esta cegueira. Mas pelo alinhamento tradicional de amouchar ao que a Câmara manda fazer, pouco há a esperar.
Resta-nos a fé nas autoridades deste país, que não andem todas a dormir. As palavras estrangeiras de “project finance” podem impressionar os tolos, mas basta olhar para a explicação, para ver que isto não passa de uma tentativa de fazer um empréstimo bancário: com um nome complicado, com um prazo a quarenta anos, com direito de superfície em vez de hipoteca. Será que cumprir a lei é só uma questão de mudar os nomes às coisas?
Se não houver quem ponha freio a isto, em vez de património, para o futuro ficam só dívidas, não só para uma próxima equipa autárquica, mas para as próximas 10!
De nada há-de valer às gerações futuras escolher melhores gestores do que estes que nos governam, porque terão às costas os encargos que a vaidade de hoje lhes impõe. Mesmo a partir de um lar de idosos, o fantasma destes políticos ainda vai continuar a assombrar o concelho durante uns bons quarenta anos.
Desta maneira não há dúvida de que ficam para a história.
«Quem, dentre vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro a calcular a despesa para ver se tem com que acabá-la? Não suceda que, depois de assentar os alicerces, não a podendo acabar, todos os que viram, comecem a troçar dele, dizendo: Este homem principiou a construir e não pôde acabar.» (Evangelho de São Lucas, 14:28-30)
Bem se vê que na Câmara de Ourém a leitura do evangelho não está na ordem do dia. Até seria útil, não necessariamente por motivos religiosos, mas por razões de simples bom senso. Há por lá umas passagens que podiam evitar mais um episódio do planeamento à moda da nossa autarquia. A história mais recente do nosso município parece inspirada nesta citação da Bíblia, só que não é uma torre, são os Paços do Concelho.
Veio nos jornais que se acabou o dinheiro para concluir o novo edifício da Câmara Municipal, já começado a construir mas que ainda vai a meio. Solução encontrada: vendê-lo já, antes de estar acabado!
É uma solução engenhosa, proposta da imaginativa maioria, que resolve, de uma vez só, uma série de problemas. Primeiro, passam a batata quente a quem a quiser; segundo, livram-se da vergonha de ter um esqueleto de prédio plantado no quintal da cidade; terceiro, fazem o negócio do século.
Por 5 ou 6 milhões de euros, desconfio que a fila de compradores não chegue a dar muito trabalho a contar. Mas se o negócio for um bom negócio... acaba sempre por ser um sucesso. E é certo que vai ser um bom negócio. Afinal, quando o vendedor está aflito, há sempre quem faça bom negócio.
Mas como é que se chegou a isto? Mesmo descontando que a maioria municipal já não consegue acertar uma, esta é o cúmulo.
Apesar dos avisos em contrário, lançaram-se à tonta para uma obra, sem fazer contas ao que tinham que pagar, ainda por cima com um mau projecto.
Já sabiam que estavam a nadar em dívidas até ao pescoço e que a lei não dava margem de manobra para mais empréstimos. Mas diziam que era muito urgente, porque não havia espaço para os serviços todos e se pagava muito de rendas para os ter espalhados pela cidade. Pois agora resolve-se isso: vende-se o prédio e faz-se um contrato de renda para os serviços todos, por 40 anos.
Da Assembleia Municipal poderia ainda vir um sinal de lucidez, que travasse esta cegueira. Mas pelo alinhamento tradicional de amouchar ao que a Câmara manda fazer, pouco há a esperar.
Resta-nos a fé nas autoridades deste país, que não andem todas a dormir. As palavras estrangeiras de “project finance” podem impressionar os tolos, mas basta olhar para a explicação, para ver que isto não passa de uma tentativa de fazer um empréstimo bancário: com um nome complicado, com um prazo a quarenta anos, com direito de superfície em vez de hipoteca. Será que cumprir a lei é só uma questão de mudar os nomes às coisas?
Se não houver quem ponha freio a isto, em vez de património, para o futuro ficam só dívidas, não só para uma próxima equipa autárquica, mas para as próximas 10!
De nada há-de valer às gerações futuras escolher melhores gestores do que estes que nos governam, porque terão às costas os encargos que a vaidade de hoje lhes impõe. Mesmo a partir de um lar de idosos, o fantasma destes políticos ainda vai continuar a assombrar o concelho durante uns bons quarenta anos.
Desta maneira não há dúvida de que ficam para a história.
Uma Câmara aos papéis
Notícias de Ourém, Maio 2007
Era nos tempos antigos que, por esses campos fora, as mulas andavam à nora a tirar água que havia de regar as hortas. Hoje já não há mulas a tirar água, mas há muito boa gente que continua à nora, sempre às voltas e sem chegar a lugar nenhum. Mas em vez de tirar, mete água.
Os instrumentos de planeamento da Câmara de Ourém têm o condão de, volta e meia, enrolar quem os criou. O plano da cidade tem o antigo caso, condenado em tribunal, de um prédio que não se encaixa no plano de urbanismo. A solução, ao que dizem, é alterar o plano para salvar o engano.
No caso Intermarché, como as regras municipais não permitiam licenciar a obra, diziam que tinham de mudar o PDM. Mas como isso era impossível, aproveitaram a ideia de quem sabe: respeitaram o PDM e mudaram o projecto. Mais recentemente, em Fátima, o exterior do novo museu não encaixava no plano de urbanização. Não sei se já se resolveu. Depois há as obras dos Paços de Concelho: ainda estavam nos alicerces e o projecto já tinha de ser corrigido.
Já parece azar, que a própria Câmara não consiga entender-se com os seus próprios projectos. Parece que esta maioria municipal não se entende a planear.
Agora piorou. Para fazer uma “simples” Carta Educativa, não vejo como podiam fazer pior: em pouco mais de dois meses já levamos com 3 versões diferentes. Quando o trabalho não fica bem feito à primeira... o melhor é emendar.
A primeira versão tinha tantos erros que a sensatez aconselhou a retirá-la de votação durante a própria Assembleia Municipal. O argumento oficial, se bem me lembro, era o mapa de territórios educativos que tinha de ser mudado. Mas não somos tão tolos a ponto de engolirmos essa. Em poucas semanas lá emendaram os erros mais grossos e fizeram novos mapas. Foi tudo aprovado, com alguns votos de protesto. Mesmo com reservas, aprovaram em Fátima, em Ourém, em todo o lado, menos em Rio de Couros e Casal dos Bernados, onde não querem nem ouvir falar em frequentar a escola da Freixianda. Lá terão as suas razões.
Mas como era só essa a questão, o Partido Socialista propôs um mapa que contentasse os descontentes. Ora, não faltaria vergonha se em Ourém uma proposta da oposição tivesse assim aprovação! Não teve, nem foi discutida.
Surpresa, surpresa! Quinze dias depois de aprovada, e antes de entrar em vigor, a Carta Educativa já precisa de revisão. Revisão? São pequenas coisas, um novo mapa dos territórios educativos.
Surpresa, surpresa! Que mapa é esse? Basicamente voltaram ao primeiro, aquele que tinha de ser mudado. Basicamente, o mesmo que o PS tinha proposto, mas que não servia porque nunca se pode aceitar nada que venha da oposição. Pois agora há-de servir, pela mão do PSD.
Surpresa, surpresa! Esta revisão cirúrgica de um cantinho do território ajusta-se que nem uma luva às reclamações dos presidentes de Junta que recusaram votar a favor. Ainda há quem pense que eles são obrigados a aceitar tudo, caso contrário sofrem represálias da parte da Câmara. Nada mais afastado da verdade, como acaba de se provar.
Moral da história: UM - quando a Câmara faz um plano, o melhor é fazê-lo três ou quatro vezes antes do aprovar, já sabemos que nunca sai bem à primeira... nem à segunda... nem à terceira... DOIS - quando os presidentes da Junta querem alguma coisa, basta mostrarem as garras, a Câmara reage logo; TRÊS - as ideias da oposição até podem ser melhores, mas só servem depois da maioria ter dado sete voltas à questão e acabar por se render às evidências.
Eu acho que era mais prático deixar logo fazer a quem sabe, em vez de andar a perder tempo com propostas sem sentido. Mas o povo prefere assim... Pois que seja! Deixemos estes senhores trabalhar, deixemo-los continuar a andar à nora, deixemo-los continuar a regar. Sobre capacidade de planeamento, estamos todos conversados.
Era nos tempos antigos que, por esses campos fora, as mulas andavam à nora a tirar água que havia de regar as hortas. Hoje já não há mulas a tirar água, mas há muito boa gente que continua à nora, sempre às voltas e sem chegar a lugar nenhum. Mas em vez de tirar, mete água.
Os instrumentos de planeamento da Câmara de Ourém têm o condão de, volta e meia, enrolar quem os criou. O plano da cidade tem o antigo caso, condenado em tribunal, de um prédio que não se encaixa no plano de urbanismo. A solução, ao que dizem, é alterar o plano para salvar o engano.
No caso Intermarché, como as regras municipais não permitiam licenciar a obra, diziam que tinham de mudar o PDM. Mas como isso era impossível, aproveitaram a ideia de quem sabe: respeitaram o PDM e mudaram o projecto. Mais recentemente, em Fátima, o exterior do novo museu não encaixava no plano de urbanização. Não sei se já se resolveu. Depois há as obras dos Paços de Concelho: ainda estavam nos alicerces e o projecto já tinha de ser corrigido.
Já parece azar, que a própria Câmara não consiga entender-se com os seus próprios projectos. Parece que esta maioria municipal não se entende a planear.
Agora piorou. Para fazer uma “simples” Carta Educativa, não vejo como podiam fazer pior: em pouco mais de dois meses já levamos com 3 versões diferentes. Quando o trabalho não fica bem feito à primeira... o melhor é emendar.
A primeira versão tinha tantos erros que a sensatez aconselhou a retirá-la de votação durante a própria Assembleia Municipal. O argumento oficial, se bem me lembro, era o mapa de territórios educativos que tinha de ser mudado. Mas não somos tão tolos a ponto de engolirmos essa. Em poucas semanas lá emendaram os erros mais grossos e fizeram novos mapas. Foi tudo aprovado, com alguns votos de protesto. Mesmo com reservas, aprovaram em Fátima, em Ourém, em todo o lado, menos em Rio de Couros e Casal dos Bernados, onde não querem nem ouvir falar em frequentar a escola da Freixianda. Lá terão as suas razões.
Mas como era só essa a questão, o Partido Socialista propôs um mapa que contentasse os descontentes. Ora, não faltaria vergonha se em Ourém uma proposta da oposição tivesse assim aprovação! Não teve, nem foi discutida.
Surpresa, surpresa! Quinze dias depois de aprovada, e antes de entrar em vigor, a Carta Educativa já precisa de revisão. Revisão? São pequenas coisas, um novo mapa dos territórios educativos.
Surpresa, surpresa! Que mapa é esse? Basicamente voltaram ao primeiro, aquele que tinha de ser mudado. Basicamente, o mesmo que o PS tinha proposto, mas que não servia porque nunca se pode aceitar nada que venha da oposição. Pois agora há-de servir, pela mão do PSD.
Surpresa, surpresa! Esta revisão cirúrgica de um cantinho do território ajusta-se que nem uma luva às reclamações dos presidentes de Junta que recusaram votar a favor. Ainda há quem pense que eles são obrigados a aceitar tudo, caso contrário sofrem represálias da parte da Câmara. Nada mais afastado da verdade, como acaba de se provar.
Moral da história: UM - quando a Câmara faz um plano, o melhor é fazê-lo três ou quatro vezes antes do aprovar, já sabemos que nunca sai bem à primeira... nem à segunda... nem à terceira... DOIS - quando os presidentes da Junta querem alguma coisa, basta mostrarem as garras, a Câmara reage logo; TRÊS - as ideias da oposição até podem ser melhores, mas só servem depois da maioria ter dado sete voltas à questão e acabar por se render às evidências.
Eu acho que era mais prático deixar logo fazer a quem sabe, em vez de andar a perder tempo com propostas sem sentido. Mas o povo prefere assim... Pois que seja! Deixemos estes senhores trabalhar, deixemo-los continuar a andar à nora, deixemo-los continuar a regar. Sobre capacidade de planeamento, estamos todos conversados.
Livro de boas maneiras
Notícias de Ourém, Maio 2007
Se calhar existe um livro para políticos de província onde se ensina a elevada esperteza saloia de usar o dinheiro do Estado para fidelizar uns votozitos e produzir grandes maiorias à maneira da Madeira.
Uma ideia que certamente ficava bem num livro desses era a distribuição avulsa de subsídios, sem regras e sem critério, como se fossem biscoitos para manter fiéis alguns votos amestrados. Uma ideia assim, reconheça-se, é bem catita! É barata, porque usa dinheiro público (e isso não custa a ninguém). Além disso, como não tem regulamento e é avulsa, pode seguir a norma universal do “ou te portas bem, ou acaba-se a maminha”. Não deixa de ser um forte argumento.
Conta-se por aí que este ano o subsídio avulso da Câmara às Associações do Concelho seguiu uma ideia que faz lembra qualquer coisa assim parecida. Pelo correio já seguiu o anúncio do biscoito para daqui a um tempito, com o aviso de que “votaram contra os vereadores do PS”.
Lendo nas entrelinhas o que lá não ia escrito, parece-me descortinar a mensagem: “vejam lá se têm juizinho e não votam nesses malandros, que só vos querem tirar o bombom. Nós é que somos os amiguinhos!”. Mas isto não vem mesmo lá escrito e sou eu a imaginar. Em conclusão, os serviços da Câmara Municipal inauguraram a pré-campanha eleitoral.
Os vereadores do PS não devem ter lido do mesmo livro para políticos espertinhos e ainda estão agarrados à ideia da transparência, à ideia de que usar o dinheiro público deveria seguir certas regras e não ser à vontade do freguês. Em vez de subsídios mais ou menos ao calha, queriam agora essas modernices de atribuir dinheiro às colectividades com base em regras claras e públicas. Mas não há-de ser como eles querem, quem tem o dinheirinho é que manda e faz como bem entender. Não há regulamento e ponto final.
A esperança que nos resta é que haja também um livro da esperteza para eleitores que ajude a perceber o significado das palmadinhas nas costas que certos políticos gostam de dar, com um arzinho de “toma lá, mas não digas nada a ninguém, que isto é especial para ti e só eu é que dou”. E já agora um livro que explique como é que se consegue ver quando um desses espertinhos não está a contar a história toda e está a tentar fazer-nos passar por pobres idiotas amestrados, que dão logo a patita, ao tinir do subsídio.
Uma saudação à atitude do PS, pelo respeito à inteligência dos eleitores. E outra mais pequenina à maioria municipal pela esperteza da golpada. Somos todos inteligentes e acho que percebemos muito bem onde é que queriam chegar.
Se calhar existe um livro para políticos de província onde se ensina a elevada esperteza saloia de usar o dinheiro do Estado para fidelizar uns votozitos e produzir grandes maiorias à maneira da Madeira.
Uma ideia que certamente ficava bem num livro desses era a distribuição avulsa de subsídios, sem regras e sem critério, como se fossem biscoitos para manter fiéis alguns votos amestrados. Uma ideia assim, reconheça-se, é bem catita! É barata, porque usa dinheiro público (e isso não custa a ninguém). Além disso, como não tem regulamento e é avulsa, pode seguir a norma universal do “ou te portas bem, ou acaba-se a maminha”. Não deixa de ser um forte argumento.
Conta-se por aí que este ano o subsídio avulso da Câmara às Associações do Concelho seguiu uma ideia que faz lembra qualquer coisa assim parecida. Pelo correio já seguiu o anúncio do biscoito para daqui a um tempito, com o aviso de que “votaram contra os vereadores do PS”.
Lendo nas entrelinhas o que lá não ia escrito, parece-me descortinar a mensagem: “vejam lá se têm juizinho e não votam nesses malandros, que só vos querem tirar o bombom. Nós é que somos os amiguinhos!”. Mas isto não vem mesmo lá escrito e sou eu a imaginar. Em conclusão, os serviços da Câmara Municipal inauguraram a pré-campanha eleitoral.
Os vereadores do PS não devem ter lido do mesmo livro para políticos espertinhos e ainda estão agarrados à ideia da transparência, à ideia de que usar o dinheiro público deveria seguir certas regras e não ser à vontade do freguês. Em vez de subsídios mais ou menos ao calha, queriam agora essas modernices de atribuir dinheiro às colectividades com base em regras claras e públicas. Mas não há-de ser como eles querem, quem tem o dinheirinho é que manda e faz como bem entender. Não há regulamento e ponto final.
A esperança que nos resta é que haja também um livro da esperteza para eleitores que ajude a perceber o significado das palmadinhas nas costas que certos políticos gostam de dar, com um arzinho de “toma lá, mas não digas nada a ninguém, que isto é especial para ti e só eu é que dou”. E já agora um livro que explique como é que se consegue ver quando um desses espertinhos não está a contar a história toda e está a tentar fazer-nos passar por pobres idiotas amestrados, que dão logo a patita, ao tinir do subsídio.
Uma saudação à atitude do PS, pelo respeito à inteligência dos eleitores. E outra mais pequenina à maioria municipal pela esperteza da golpada. Somos todos inteligentes e acho que percebemos muito bem onde é que queriam chegar.
O rio da minha aldeia
Notícias de Ourém, Abril 2007
“... Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.”
O poema é de Alberto Caeiro e lembra quem vive no seu cantinho modesto e pensa que aquele pequeno mundo é mesmo, mesmo especial. Acontece assim a quem vê com o coração.
No discurso político do nosso concelho adoptou-se uma daquelas palavras que se colam e nunca mais desgrudam: “especificidade”. A “especificidade” de Fátima. Vista de perto, Fátima é tão especial, que parece justificar todas as excepções do mundo. Mas vista de longe, pode parecer igual a muitas outras, e não chega para sustentar um tratamento diferente.
Já uma vez aconteceu assim com o Concelho de Fátima. Visto de cá, era a quase unanimidade. Visto de longe, as razões não eram assim tão evidentes. A ilusão poética do cantinho mais especial do mundo tornou-se na desilusão, quando se viu que o argumento era demasiado frágil.
Agora o sonho da “especificidade” voltou outra vez, com a reorganização das escolas do concelho.
Cá na terra, é opinião quase unânime que Fátima, por ser tão especial, justificava a diferença do seu sistema de ensino. É um caso tão singular, que nunca fez espanto a ninguém ter aqui, entre todas a cidades e vilas de Portugal, provavelmente a única que não tem, pelo menos, uma Escola EB2,3. Já para não falar em Ensino Secundário.
Com três colégios privados, nunca se achou necessário construir uma escola pública. Os privados têm prestado um serviço de qualidade, que não fica atrás das públicas, como a Secundária de Ourém. Não fica atrás nem à frente, é apenas equivalente. Ainda bem que assim é, para justificar os subsídios do Estado.
Só que agora, esta “especificidade” de Fátima resulta num problema. Uma nova regra geral para todo o país manda que os Jardins de Infância e Escolas de 1.º Ciclo se agrupem a uma escola com 2.º e 3.º Ciclo. No caso de Fátima, como não há mais perto, hão-de formar Agrupamento com a Secundária de Ourém.
Vista de perto, a solução é um bocado bizarra e parece não agradar a ninguém. Nem à Secundária, nem às escolas de Fátima, nem aos pais dos alunos. Mas até é irónico que esteja tão dentro do espírito da diferença constantemente apregoada.
Não há outras soluções? Talvez houvesse, mas parecem todas um bocado impossíveis.
Na sede de Agrupamento gerem-se e coordenam-se orientações pedagógicas e questões administrativas. Por outras palavras: ordenados de pessoal, gestão de carreiras, processos de matrícula e avaliação dos alunos, avaliação de professores, coordenação pedagógica das aulas, etc., etc., etc. Por tudo isto, agrupar com um Colégio privado era tão confuso como agrupar com Santa Catarina da Serra, ali tão perto. Num caso era misturar administração pública com privada, no outro eram concelhos, distritos e Direcções Regionais de Educação diferentes. Teria de ser um motivo muito forte para justificar esta solução. Mais forte do que a distância de 10 ou 20 quilómetros do percurso até Ourém.
A solução preferida era mesmo um Agrupamento sem ligação a nenhuma escola com 2.º e 3.º Ciclo, como era pelas regras anteriores. Mas como se fundamenta agora esta excepção? Com a “especificidade”? Com a distância? Então e não se podia fazer o mesmo, por exemplo, com Espite, Cercal e Matas? Vista de fora, a “especificidade” é uma ideia poética, mas não tem bases em que se apoie.
À falta de argumentos eficazes, resta a saída que o Ministério impõe ao concelho. O Agrupamento de Fátima passa a ter sede em Ourém, com todos os inconvenientes que isso vai trazer, sobretudo para os pais, que passam a dirigir-se à Secundária de Ourém para tratar da escola dos filhos.
Para já, é isto. E no futuro? Não se pensa numa solução mais elegante? Agora que a Carta Educativa voltou ao gabinete para ser melhorada, haverá uma saída?
Cá por mim, mesmo sabendo que não me acompanham as forças políticas do concelho, aqui está o que eu defendo: criar em Fátima a escola pública, que lhe é devida há mais de vinte anos. Só vinha engrandecer a cidade.
Provavelmente a Câmara argumentará com dificuldades, aceitará o que vier e ficará tudo na mesma. Bem sei também que não comprometo opiniões diferentes dentro dos outros partidos, enquanto insistir nesta ideia. E ao mesmo tempo o concelho continuará a sonhar com a “especificidade”. Afinal, vista de perto e olhada com o coração, Fátima até pode merecer mais esta excepção.
“Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.” (Alberto Caeiro)
“... Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.”
O poema é de Alberto Caeiro e lembra quem vive no seu cantinho modesto e pensa que aquele pequeno mundo é mesmo, mesmo especial. Acontece assim a quem vê com o coração.
No discurso político do nosso concelho adoptou-se uma daquelas palavras que se colam e nunca mais desgrudam: “especificidade”. A “especificidade” de Fátima. Vista de perto, Fátima é tão especial, que parece justificar todas as excepções do mundo. Mas vista de longe, pode parecer igual a muitas outras, e não chega para sustentar um tratamento diferente.
Já uma vez aconteceu assim com o Concelho de Fátima. Visto de cá, era a quase unanimidade. Visto de longe, as razões não eram assim tão evidentes. A ilusão poética do cantinho mais especial do mundo tornou-se na desilusão, quando se viu que o argumento era demasiado frágil.
Agora o sonho da “especificidade” voltou outra vez, com a reorganização das escolas do concelho.
Cá na terra, é opinião quase unânime que Fátima, por ser tão especial, justificava a diferença do seu sistema de ensino. É um caso tão singular, que nunca fez espanto a ninguém ter aqui, entre todas a cidades e vilas de Portugal, provavelmente a única que não tem, pelo menos, uma Escola EB2,3. Já para não falar em Ensino Secundário.
Com três colégios privados, nunca se achou necessário construir uma escola pública. Os privados têm prestado um serviço de qualidade, que não fica atrás das públicas, como a Secundária de Ourém. Não fica atrás nem à frente, é apenas equivalente. Ainda bem que assim é, para justificar os subsídios do Estado.
Só que agora, esta “especificidade” de Fátima resulta num problema. Uma nova regra geral para todo o país manda que os Jardins de Infância e Escolas de 1.º Ciclo se agrupem a uma escola com 2.º e 3.º Ciclo. No caso de Fátima, como não há mais perto, hão-de formar Agrupamento com a Secundária de Ourém.
Vista de perto, a solução é um bocado bizarra e parece não agradar a ninguém. Nem à Secundária, nem às escolas de Fátima, nem aos pais dos alunos. Mas até é irónico que esteja tão dentro do espírito da diferença constantemente apregoada.
Não há outras soluções? Talvez houvesse, mas parecem todas um bocado impossíveis.
Na sede de Agrupamento gerem-se e coordenam-se orientações pedagógicas e questões administrativas. Por outras palavras: ordenados de pessoal, gestão de carreiras, processos de matrícula e avaliação dos alunos, avaliação de professores, coordenação pedagógica das aulas, etc., etc., etc. Por tudo isto, agrupar com um Colégio privado era tão confuso como agrupar com Santa Catarina da Serra, ali tão perto. Num caso era misturar administração pública com privada, no outro eram concelhos, distritos e Direcções Regionais de Educação diferentes. Teria de ser um motivo muito forte para justificar esta solução. Mais forte do que a distância de 10 ou 20 quilómetros do percurso até Ourém.
A solução preferida era mesmo um Agrupamento sem ligação a nenhuma escola com 2.º e 3.º Ciclo, como era pelas regras anteriores. Mas como se fundamenta agora esta excepção? Com a “especificidade”? Com a distância? Então e não se podia fazer o mesmo, por exemplo, com Espite, Cercal e Matas? Vista de fora, a “especificidade” é uma ideia poética, mas não tem bases em que se apoie.
À falta de argumentos eficazes, resta a saída que o Ministério impõe ao concelho. O Agrupamento de Fátima passa a ter sede em Ourém, com todos os inconvenientes que isso vai trazer, sobretudo para os pais, que passam a dirigir-se à Secundária de Ourém para tratar da escola dos filhos.
Para já, é isto. E no futuro? Não se pensa numa solução mais elegante? Agora que a Carta Educativa voltou ao gabinete para ser melhorada, haverá uma saída?
Cá por mim, mesmo sabendo que não me acompanham as forças políticas do concelho, aqui está o que eu defendo: criar em Fátima a escola pública, que lhe é devida há mais de vinte anos. Só vinha engrandecer a cidade.
Provavelmente a Câmara argumentará com dificuldades, aceitará o que vier e ficará tudo na mesma. Bem sei também que não comprometo opiniões diferentes dentro dos outros partidos, enquanto insistir nesta ideia. E ao mesmo tempo o concelho continuará a sonhar com a “especificidade”. Afinal, vista de perto e olhada com o coração, Fátima até pode merecer mais esta excepção.
“Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.” (Alberto Caeiro)
A Carta Educativa
Notícias de Ourém, Fevereiro 2007
Todos se lembram da “guerra” do PDM? Ourém era dos poucos municípios do país que não tinha PDM. Depois veio o ultimato, quem não tivesse PDM não podia concorrer a certo tipo de financiamentos. A Câmara ameaçou pôr o Estado em tribunal e tudo, mas lá teve que se resolver a aprovar um documento. Acabou por ficar cheio de falhas e hoje é consensual que precisa de ser revisto.
Agora parece que a história se repete. Aparentemente há uma urgência incrível em aprovar uma Carta Educativa que anda há anos a ser escrita por uma qualquer empresa contratada para o efeito, mas que nunca mais a acaba. Suspeito que é outra vez o acesso a financiamentos que move a Câmara. A Carta Educativa deverá estabelecer o planeamento da educação para o Concelho e sem planos definidos não há dinheiro. Portanto, é urgentíssimo aprovar qualquer coisa.
Segundo o que eu percebo, a empresa não tinha o documento pronto, tinha apenas um rascunho. Mas dada a pressa, o que havia lá teve que servir e "ala, que se faz tarde".
Pegou pois a Câmara no dito rascunho e toca de o apresentar assim, mais ou menos, a ver se a coisa passa. Para já, passou na reunião de 12 de Fevereiro na Câmara Municipal e segue para a Assembleia Municipal a 28. Enquanto eu escrevo, ainda falta uma semana para a votação e eu, evidentemente, não sei o resultado. Mas olhando para a tradição de confiar nas propostas da Câmara e votar sem confirmar, estou em crer que a maioria vai dizer "amen" e o rascunho segue alegremente o seu caminho para as instâncias superiores, até que alguém responsável se dê ao trabalho de o ler.
E quando isso acontecer, vai haver uma surpresa. Vejamos porquê.
O projecto de Carta Educativa é composto de três partes. A primeira é um longo estudo sócio-económico da Alta Estremadura, com 165 páginas e muita informação que tem pouco ou nenhum interesse para o objectivo do documento. A segunda parte é sobre o Concelho de Ourém. Chama-se “Diagnóstico do Concelho de Ourém” e deveria ser a parte mais importante. A terceira parte faz a identificação dos edifícios de Jardins de Infância e Escolas de 1.º Ciclo que deverão ser alvo de intervenções.
Pois bem, é na segunda parte, a mais importante, que surgem os problemas. O maior deles é que os dados que lá estão apresentados não são de confiança. Há somas mal feitas, há projecções calculadas ao acaso, há freguesias com número de alunos a zero.
Apresento só um ou dois exemplos, retirados das tabelas. Na p. 30, na tabela sobre a Freguesia de Caxarias, número de alunos nos Jardins de Infância em 2005/2006: 14+24+25=49 alunos. Pois não, pois não! 63 é o resultado correcto. Freguesia de Espite, escolas de 1.º Ciclo: 9+45+22=22. Pois não, bem sei! O resultado correcto é 76. Na p. 39, a evolução do número de alunos no Casal dos Bernardos entre 2005 e 2014: nos Jardins de Infância uma redução de 18%, nas escolas de 1.º Ciclo um aumento de 68%. Na p. 43, o total de alunos em Jardins de Infância e 1.º Ciclo nas freguesias de Atouguia e Fátima, tanto em 2005 como em 2014... ZERO. Caxarias, Espite, Casal dos Bernardos, Atouguia, Fátima...
Vale a pena continuar com os exemplos? Se calhar não vale a pena, porque os casos são muitos mais. Quem se der ao trabalho vai ver que cada freguesia tem direito ao seu errozinho. Mas estes bastam para dar o panorama das 61 páginas do texto.
Nem sequer dá para chegarmos a discutir as orientações políticas da Carta Educativa. A falta de rigor dos dados faz cair pela base todas as boas intenções.
A única questão política que resta colocar é a seguinte: a empresa que redigiu o documento, a divisão de educação da Câmara Municipal, o vereador da educação, o Presidente da Câmara, o Conselho Municipal de Educação, todos os eleitos que votaram o documento... alguém leu o que lá está escrito?
Eu sou apenas um cidadão e um professor, o que me basta para achar que este tema merece atenção. Perante o que li, só tenho uma recomendação: comecem de novo, levem o assunto mais a sério.
E assim vai o planeamento em Ourém.
Todos se lembram da “guerra” do PDM? Ourém era dos poucos municípios do país que não tinha PDM. Depois veio o ultimato, quem não tivesse PDM não podia concorrer a certo tipo de financiamentos. A Câmara ameaçou pôr o Estado em tribunal e tudo, mas lá teve que se resolver a aprovar um documento. Acabou por ficar cheio de falhas e hoje é consensual que precisa de ser revisto.
Agora parece que a história se repete. Aparentemente há uma urgência incrível em aprovar uma Carta Educativa que anda há anos a ser escrita por uma qualquer empresa contratada para o efeito, mas que nunca mais a acaba. Suspeito que é outra vez o acesso a financiamentos que move a Câmara. A Carta Educativa deverá estabelecer o planeamento da educação para o Concelho e sem planos definidos não há dinheiro. Portanto, é urgentíssimo aprovar qualquer coisa.
Segundo o que eu percebo, a empresa não tinha o documento pronto, tinha apenas um rascunho. Mas dada a pressa, o que havia lá teve que servir e "ala, que se faz tarde".
Pegou pois a Câmara no dito rascunho e toca de o apresentar assim, mais ou menos, a ver se a coisa passa. Para já, passou na reunião de 12 de Fevereiro na Câmara Municipal e segue para a Assembleia Municipal a 28. Enquanto eu escrevo, ainda falta uma semana para a votação e eu, evidentemente, não sei o resultado. Mas olhando para a tradição de confiar nas propostas da Câmara e votar sem confirmar, estou em crer que a maioria vai dizer "amen" e o rascunho segue alegremente o seu caminho para as instâncias superiores, até que alguém responsável se dê ao trabalho de o ler.
E quando isso acontecer, vai haver uma surpresa. Vejamos porquê.
O projecto de Carta Educativa é composto de três partes. A primeira é um longo estudo sócio-económico da Alta Estremadura, com 165 páginas e muita informação que tem pouco ou nenhum interesse para o objectivo do documento. A segunda parte é sobre o Concelho de Ourém. Chama-se “Diagnóstico do Concelho de Ourém” e deveria ser a parte mais importante. A terceira parte faz a identificação dos edifícios de Jardins de Infância e Escolas de 1.º Ciclo que deverão ser alvo de intervenções.
Pois bem, é na segunda parte, a mais importante, que surgem os problemas. O maior deles é que os dados que lá estão apresentados não são de confiança. Há somas mal feitas, há projecções calculadas ao acaso, há freguesias com número de alunos a zero.
Apresento só um ou dois exemplos, retirados das tabelas. Na p. 30, na tabela sobre a Freguesia de Caxarias, número de alunos nos Jardins de Infância em 2005/2006: 14+24+25=49 alunos. Pois não, pois não! 63 é o resultado correcto. Freguesia de Espite, escolas de 1.º Ciclo: 9+45+22=22. Pois não, bem sei! O resultado correcto é 76. Na p. 39, a evolução do número de alunos no Casal dos Bernardos entre 2005 e 2014: nos Jardins de Infância uma redução de 18%, nas escolas de 1.º Ciclo um aumento de 68%. Na p. 43, o total de alunos em Jardins de Infância e 1.º Ciclo nas freguesias de Atouguia e Fátima, tanto em 2005 como em 2014... ZERO. Caxarias, Espite, Casal dos Bernardos, Atouguia, Fátima...
Vale a pena continuar com os exemplos? Se calhar não vale a pena, porque os casos são muitos mais. Quem se der ao trabalho vai ver que cada freguesia tem direito ao seu errozinho. Mas estes bastam para dar o panorama das 61 páginas do texto.
Nem sequer dá para chegarmos a discutir as orientações políticas da Carta Educativa. A falta de rigor dos dados faz cair pela base todas as boas intenções.
A única questão política que resta colocar é a seguinte: a empresa que redigiu o documento, a divisão de educação da Câmara Municipal, o vereador da educação, o Presidente da Câmara, o Conselho Municipal de Educação, todos os eleitos que votaram o documento... alguém leu o que lá está escrito?
Eu sou apenas um cidadão e um professor, o que me basta para achar que este tema merece atenção. Perante o que li, só tenho uma recomendação: comecem de novo, levem o assunto mais a sério.
E assim vai o planeamento em Ourém.
Fatiparques
Notícias de Ourém, Janeiro 2007
A propósito da compra (e da ameaça de expropriação) dos terrenos no futuro Parque de Negócios de Fátima, dizem os dirigentes da Câmara que os proprietários se têm de convencer que aquelas não são propriedades ao pé da Capelinha. O que, segundo consta, é verdade. A Câmara Municipal tem razão.
Ora, quem passar por estes dias no Agroal, vai facilmente descobrir que também não está perto da Capelinha das Aparições. Aliás, essa é uma das poucas semelhanças que o Agroal tem com a nova ideia da Fatiparques. A outra semelhança é que o Agroal também fica situado mais ou menos no meio de mato e pedras. De resto é tudo bastante diferente.
Por exemplo, o projecto do Agroal anda às voltas há anos, embrulhado primeiro em promessas, depois em anúncios, e desculpas e projectos, mas não se vê lá nada feito. No Parque de Negócios de Fátima fiquei com a impressão de que foi o contrário. Falou-se no caso algum tempo, começaram a surgir construções, depois veio o projecto e por fim já se anuncia a definição de um plano.
Mas afinal o que é que um caso tem a ver com o outro? É que no Agroal, antes de se começar seja o que for, negociou-se em privado e comprou-se o terreno ao proprietário. Segundo o que apareceu na comunicação social, o preço andou à volta dos 50 euros por metro quadrado. E não é ao pé da Capelinha!
Em Fátima, por terrenos que também têm mato e pedras e que também não ficam ao pé da Capelinha, a Câmara ofereceu 4 euros e lançou em simultâneo a ameaça da expropriação por 3. Se não for a bem, vai a mal. A bem do interesse público, dizem eles. Parece que os valores até foram definidos por um avaliador independente.
Eu não sei se foi o mesmo avaliador que definiu o preço do terreno no Agroal, mas se foi, então o critério não pode ter sido o da distância em relação à Capelinha, porque o Agroal fica ainda mais longe e mesmo assim o preço subiu mais de 10 vezes. Terá havido outro critério, mas acho que ainda não foi tornado público.
É evidente que não está em causa o princípio de que a Câmara deve procurar o interesse público e todos achamos que é sua obrigação promover o desenvolvimento do Concelho. O que está em causa é a justiça e até mesmo a educação com que se tratam os cidadãos.
O esclarecimento que agora surge nos jornais só vem, em minha opinião, reforçar o tom já usado na célebre carta, que, segundo lemos nos jornais, não foi enviada pela Câmara, mas foi mesmo assim assinada pelo Presidente da Câmara.
Os quatro pontos do esclarecimento resumem-se a dizer que: há interesse público, que haverá no futuro um Plano de Pormenor; que poderá haver entendimento quanto ao preço; que a autarquia busca o consenso entre as partes. Quatro pontos que até poderiam recolher a aceitação. Mas o que não fica lá muito bem é um evidente e repetitivo pormenor: todos os quatro pontos terminam sempre com a ameaça da expropriação. Basta ler de novo, para ver que não há no esclarecimento nada de verdadeiramente novo.
Eu obviamente não sou proprietário de nenhum terreno naquele lugar, mas se fosse não partiria para esta negociação muito seguro da boa-fé de quem se apresenta a gritar ameaças.
E o que continua a não me caber na cabeça é esta diferença tão grande de valores. Mas é natural, em boa verdade eu não percebo nada de terrenos.
A propósito da compra (e da ameaça de expropriação) dos terrenos no futuro Parque de Negócios de Fátima, dizem os dirigentes da Câmara que os proprietários se têm de convencer que aquelas não são propriedades ao pé da Capelinha. O que, segundo consta, é verdade. A Câmara Municipal tem razão.
Ora, quem passar por estes dias no Agroal, vai facilmente descobrir que também não está perto da Capelinha das Aparições. Aliás, essa é uma das poucas semelhanças que o Agroal tem com a nova ideia da Fatiparques. A outra semelhança é que o Agroal também fica situado mais ou menos no meio de mato e pedras. De resto é tudo bastante diferente.
Por exemplo, o projecto do Agroal anda às voltas há anos, embrulhado primeiro em promessas, depois em anúncios, e desculpas e projectos, mas não se vê lá nada feito. No Parque de Negócios de Fátima fiquei com a impressão de que foi o contrário. Falou-se no caso algum tempo, começaram a surgir construções, depois veio o projecto e por fim já se anuncia a definição de um plano.
Mas afinal o que é que um caso tem a ver com o outro? É que no Agroal, antes de se começar seja o que for, negociou-se em privado e comprou-se o terreno ao proprietário. Segundo o que apareceu na comunicação social, o preço andou à volta dos 50 euros por metro quadrado. E não é ao pé da Capelinha!
Em Fátima, por terrenos que também têm mato e pedras e que também não ficam ao pé da Capelinha, a Câmara ofereceu 4 euros e lançou em simultâneo a ameaça da expropriação por 3. Se não for a bem, vai a mal. A bem do interesse público, dizem eles. Parece que os valores até foram definidos por um avaliador independente.
Eu não sei se foi o mesmo avaliador que definiu o preço do terreno no Agroal, mas se foi, então o critério não pode ter sido o da distância em relação à Capelinha, porque o Agroal fica ainda mais longe e mesmo assim o preço subiu mais de 10 vezes. Terá havido outro critério, mas acho que ainda não foi tornado público.
É evidente que não está em causa o princípio de que a Câmara deve procurar o interesse público e todos achamos que é sua obrigação promover o desenvolvimento do Concelho. O que está em causa é a justiça e até mesmo a educação com que se tratam os cidadãos.
O esclarecimento que agora surge nos jornais só vem, em minha opinião, reforçar o tom já usado na célebre carta, que, segundo lemos nos jornais, não foi enviada pela Câmara, mas foi mesmo assim assinada pelo Presidente da Câmara.
Os quatro pontos do esclarecimento resumem-se a dizer que: há interesse público, que haverá no futuro um Plano de Pormenor; que poderá haver entendimento quanto ao preço; que a autarquia busca o consenso entre as partes. Quatro pontos que até poderiam recolher a aceitação. Mas o que não fica lá muito bem é um evidente e repetitivo pormenor: todos os quatro pontos terminam sempre com a ameaça da expropriação. Basta ler de novo, para ver que não há no esclarecimento nada de verdadeiramente novo.
Eu obviamente não sou proprietário de nenhum terreno naquele lugar, mas se fosse não partiria para esta negociação muito seguro da boa-fé de quem se apresenta a gritar ameaças.
E o que continua a não me caber na cabeça é esta diferença tão grande de valores. Mas é natural, em boa verdade eu não percebo nada de terrenos.
No Agroal
Notícias de Ourém, Novembro 2006
Na história do pastor e do lobo, o pastor gritava a fingir que estava a ser atacado. Os vizinhos acreditavam e iam para o ajudar. Até que um dia, fartos de ser enganados, desistiram de o escutar. E quando o lobo atacou mesmo, o pastor ficou sem nada, porque ninguém o foi auxiliar.
É mais ou menos isso que sucede com os projectos do Agroal. Já tanta vez foram anunciados, que me custa a acreditar no que li, outra vez, no jornal, que em breve a obra vai avançar.
Agora até se anuncia, para provar que é mesmo verdade, que 50 mil contos pagaram um terreno de 5 mil metros, que era só o que impedia a Câmara de ir em frente. Fez bom negócio quem vendeu, isso não há que negar. Um terreno em zona de Reserva, em leito de cheia, e sem acesso possível por estrada, ser pago a 10 contos o metro, é uma boa referência de preço para todos os proprietários que no futuro precisem de ceder à Câmara alguma parcela um pouco melhor situada. Mas prossigamos...
Resta ver, quando a obra afinal já não for só de palavras e papel, quando tiver início e fim, o que lá vão construir e como se vai aguentar. Para já temos bons exemplos com as últimas cheias de Outubro.
As barracas que ganharam raízes na via pública e se foram multiplicando a cada ano que passa, andaram todas a boiar. A regra que está escrita diz que todas as construções provisórias de vendas devem desocupar o lugar quando chega o Verão ao fim. Mas a incapacidade de quem dirige o que é público, nos últimos anos, tem sempre perdido essa batalha e os mamarrachos lá vão ficando, ilegalmente a ocupar espaço. Agora se prova que o que está escrito afinal tem razão de ser. Além de estragarem a paisagem, as tais barracas de lata criam riscos desnecessários, quando o rio não aguenta toda a água que por lá passa e limpa o que lhe estorvar.
Mais acima está outro exemplo de como é a Câmara a planear. O Parque Aventura também andou a nadar. Mesmo sem ser técnico formado, qualquer simples cidadão, armado de um pouco de bom senso, diria que era arriscado instalar vedações junto às margens, e piscina e mesas e bancos de madeira ali mesmo rente à água. Mais tarde ou mais cedo um Inverno a sério ia provar que era uma ideia arriscada.
Quem depois das cheias recentes visitasse aquele local, via as tais mesas e bancos encavalitados nas árvores, redes cheias de entulho e muros deitados abaixo. Isso era de prever e se voltarem a insistir, vai voltar a acontecer.
Por exemplos como estes, é que eu me preocupo com o que poderá ser feito junto à nascente do Agroal. Sendo optimista, talvez se aguentem tanto como a famosa e inútil porta verde que a Câmara lá mandou colocar e que nem uma cheia desta ordem conseguir arrancar do local.
Se tudo correr pelo melhor, e se desta vez for verdade, estará o concelho de parabéns por ganhar finalmente um equipamento que há décadas se faz esperar. Mas se tudo correr mal, como na história do pastor, e o rio não se deixar iludir, quais são os técnicos que a Câmara irá responsabilizar? Sim, porque responsáveis políticos, parece que esses não há quem os queira procurar.
Na história do pastor e do lobo, o pastor gritava a fingir que estava a ser atacado. Os vizinhos acreditavam e iam para o ajudar. Até que um dia, fartos de ser enganados, desistiram de o escutar. E quando o lobo atacou mesmo, o pastor ficou sem nada, porque ninguém o foi auxiliar.
É mais ou menos isso que sucede com os projectos do Agroal. Já tanta vez foram anunciados, que me custa a acreditar no que li, outra vez, no jornal, que em breve a obra vai avançar.
Agora até se anuncia, para provar que é mesmo verdade, que 50 mil contos pagaram um terreno de 5 mil metros, que era só o que impedia a Câmara de ir em frente. Fez bom negócio quem vendeu, isso não há que negar. Um terreno em zona de Reserva, em leito de cheia, e sem acesso possível por estrada, ser pago a 10 contos o metro, é uma boa referência de preço para todos os proprietários que no futuro precisem de ceder à Câmara alguma parcela um pouco melhor situada. Mas prossigamos...
Resta ver, quando a obra afinal já não for só de palavras e papel, quando tiver início e fim, o que lá vão construir e como se vai aguentar. Para já temos bons exemplos com as últimas cheias de Outubro.
As barracas que ganharam raízes na via pública e se foram multiplicando a cada ano que passa, andaram todas a boiar. A regra que está escrita diz que todas as construções provisórias de vendas devem desocupar o lugar quando chega o Verão ao fim. Mas a incapacidade de quem dirige o que é público, nos últimos anos, tem sempre perdido essa batalha e os mamarrachos lá vão ficando, ilegalmente a ocupar espaço. Agora se prova que o que está escrito afinal tem razão de ser. Além de estragarem a paisagem, as tais barracas de lata criam riscos desnecessários, quando o rio não aguenta toda a água que por lá passa e limpa o que lhe estorvar.
Mais acima está outro exemplo de como é a Câmara a planear. O Parque Aventura também andou a nadar. Mesmo sem ser técnico formado, qualquer simples cidadão, armado de um pouco de bom senso, diria que era arriscado instalar vedações junto às margens, e piscina e mesas e bancos de madeira ali mesmo rente à água. Mais tarde ou mais cedo um Inverno a sério ia provar que era uma ideia arriscada.
Quem depois das cheias recentes visitasse aquele local, via as tais mesas e bancos encavalitados nas árvores, redes cheias de entulho e muros deitados abaixo. Isso era de prever e se voltarem a insistir, vai voltar a acontecer.
Por exemplos como estes, é que eu me preocupo com o que poderá ser feito junto à nascente do Agroal. Sendo optimista, talvez se aguentem tanto como a famosa e inútil porta verde que a Câmara lá mandou colocar e que nem uma cheia desta ordem conseguir arrancar do local.
Se tudo correr pelo melhor, e se desta vez for verdade, estará o concelho de parabéns por ganhar finalmente um equipamento que há décadas se faz esperar. Mas se tudo correr mal, como na história do pastor, e o rio não se deixar iludir, quais são os técnicos que a Câmara irá responsabilizar? Sim, porque responsáveis políticos, parece que esses não há quem os queira procurar.
É a estratégia...
Notícias de Ourém, Junho 2006
É o xadrez o jogo por excelência que assenta na estratégia. Mas bem vistas as coisas, para ganhar, qualquer que seja o jogo ou a jogada, nunca basta a força bruta e ainda menos a força de vontade: é preciso usar a cabeça.
Lemos há pouco no Notícias de Ourém os comentários do presidente da Câmara de Tomar sobre a estação de Fátima: “estação de Fátima em Caxarias é uma opção ridícula e provinciana... Chão de Maçãs fica servida pelo nó do IC9, Caxarias é servida por uma estrada secundária, cheia de curvas”. É preciso dizê-lo: infelizmente ele tem razão.
Durante anos em Ourém assistimos a movimentações, com mais ou menos espectáculo, que deveriam garantir para Caxarias os comboios do turismo de Fátima. Até se quis mudar o nome da estação. Tudo, mais ou menos, fogo de vista. Tudo, mais ou menos, com a técnica do costume: muito voluntarismo e força de vontade, pouca estratégia e pouca astúcia.
Em Tomar, pelo contrário, planeou-se e executou-se o projecto de servir a estação de Vale dos Ovos / Fátima com bons acessos rodoviários, através de um nó do IC9. E agora todos os trunfos estão do lado deles. Conforme diz o presidente da Câmara de Tomar, Caxarias está mesmo mal servida de estradas. É verdade. Está em desvantagem. É verdade.
E como é que chegámos a esta situação? Foi tudo uma questão de estratégia: uns têm, outros não. Quanto às boas intenções de Ourém para a estação de Caxarias, é caso para dizer: Xeque ao Rei!
As voltas que tem levado o IC9 relativamente ao atravessamento do concelho de Ourém são a imagem do conceito de planeamento que se instalou no Município: hoje é assim, amanhã é assado. Se bem me lembro (e ando nisto há relativamente pouco tempo), a ideia original era melhorar os acessos a Leiria. A ideia era uma boa ideia. Mas alguém arranjou maneira de a estragar. Já dizia Camões, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, e o projecto deu uma volta. A ligação a Leiria caiu no esquecimento e o importante passou a ser, com grande espanto de todos, a ligação a... Porto de Mós! Pelo caminho, mais de metade do concelho de Ourém ficou longe das grandes acessibilidades.
Depois, embora com pouca vontade, a Câmara viu-se obrigada por Lei a fazer um Plano. Um Plano Director Municipal! E a ideia fixa de um IC9 mal traçado ganhou toda a força de um PDM. Até que afinal... parece que não, muda-se tudo mais uma vez, para passar um pouco mais pelo meio do concelho.
Por sorte, o traçado agora preferido já não é tão absurdo como o que foi marcado no PDM. Mas, mesmo assim, continua a ser o espelho de duas grandes oportunidades perdidas. A primeira delas, a mais evidente, era a oportunidade de resolver a ligação de Ourém a Leiria. Esse é um assunto esquecido, nunca é referido, não está nas prioridades da política do Concelho. A segunda oportunidade perdida foi a de colocar Caxarias no centro de uma rede de vias de comunicação de nível regional. Nem a Junta de Freguesia nem a Câmara Municipal estiveram à altura para ganhar este desafio. E quem aproveitou a oportunidade foi Tomar, que teve a inteligência de garantir a tempo os argumentos para desenvolver a estação de Vale dos Ovos.
Podem acusar-me de ser outra vez a voz da oposição, mas, vistas bem as coisas, este assunto não chega a ser um assunto de política. Em Ourém e em Tomar o partido do poder é o mesmo, a capacidade estratégica é que não é igual.
Neste e noutros casos, os municípios vizinhos vão colocando discretamente as peças no tabuleiro. Em Ourém, os inquilinos da Câmara andam distraídos e os eleitores que os apoiam parece que também não querem ver. De repente acordamos para a realidade e, quando ainda não acabámos a última jogada, recebemos uma resposta educada: acabou-se o jogo, Xeque-Mate!
É o xadrez o jogo por excelência que assenta na estratégia. Mas bem vistas as coisas, para ganhar, qualquer que seja o jogo ou a jogada, nunca basta a força bruta e ainda menos a força de vontade: é preciso usar a cabeça.
Lemos há pouco no Notícias de Ourém os comentários do presidente da Câmara de Tomar sobre a estação de Fátima: “estação de Fátima em Caxarias é uma opção ridícula e provinciana... Chão de Maçãs fica servida pelo nó do IC9, Caxarias é servida por uma estrada secundária, cheia de curvas”. É preciso dizê-lo: infelizmente ele tem razão.
Durante anos em Ourém assistimos a movimentações, com mais ou menos espectáculo, que deveriam garantir para Caxarias os comboios do turismo de Fátima. Até se quis mudar o nome da estação. Tudo, mais ou menos, fogo de vista. Tudo, mais ou menos, com a técnica do costume: muito voluntarismo e força de vontade, pouca estratégia e pouca astúcia.
Em Tomar, pelo contrário, planeou-se e executou-se o projecto de servir a estação de Vale dos Ovos / Fátima com bons acessos rodoviários, através de um nó do IC9. E agora todos os trunfos estão do lado deles. Conforme diz o presidente da Câmara de Tomar, Caxarias está mesmo mal servida de estradas. É verdade. Está em desvantagem. É verdade.
E como é que chegámos a esta situação? Foi tudo uma questão de estratégia: uns têm, outros não. Quanto às boas intenções de Ourém para a estação de Caxarias, é caso para dizer: Xeque ao Rei!
As voltas que tem levado o IC9 relativamente ao atravessamento do concelho de Ourém são a imagem do conceito de planeamento que se instalou no Município: hoje é assim, amanhã é assado. Se bem me lembro (e ando nisto há relativamente pouco tempo), a ideia original era melhorar os acessos a Leiria. A ideia era uma boa ideia. Mas alguém arranjou maneira de a estragar. Já dizia Camões, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, e o projecto deu uma volta. A ligação a Leiria caiu no esquecimento e o importante passou a ser, com grande espanto de todos, a ligação a... Porto de Mós! Pelo caminho, mais de metade do concelho de Ourém ficou longe das grandes acessibilidades.
Depois, embora com pouca vontade, a Câmara viu-se obrigada por Lei a fazer um Plano. Um Plano Director Municipal! E a ideia fixa de um IC9 mal traçado ganhou toda a força de um PDM. Até que afinal... parece que não, muda-se tudo mais uma vez, para passar um pouco mais pelo meio do concelho.
Por sorte, o traçado agora preferido já não é tão absurdo como o que foi marcado no PDM. Mas, mesmo assim, continua a ser o espelho de duas grandes oportunidades perdidas. A primeira delas, a mais evidente, era a oportunidade de resolver a ligação de Ourém a Leiria. Esse é um assunto esquecido, nunca é referido, não está nas prioridades da política do Concelho. A segunda oportunidade perdida foi a de colocar Caxarias no centro de uma rede de vias de comunicação de nível regional. Nem a Junta de Freguesia nem a Câmara Municipal estiveram à altura para ganhar este desafio. E quem aproveitou a oportunidade foi Tomar, que teve a inteligência de garantir a tempo os argumentos para desenvolver a estação de Vale dos Ovos.
Podem acusar-me de ser outra vez a voz da oposição, mas, vistas bem as coisas, este assunto não chega a ser um assunto de política. Em Ourém e em Tomar o partido do poder é o mesmo, a capacidade estratégica é que não é igual.
Neste e noutros casos, os municípios vizinhos vão colocando discretamente as peças no tabuleiro. Em Ourém, os inquilinos da Câmara andam distraídos e os eleitores que os apoiam parece que também não querem ver. De repente acordamos para a realidade e, quando ainda não acabámos a última jogada, recebemos uma resposta educada: acabou-se o jogo, Xeque-Mate!
Inspecção em Fátima
Notícias de Ourém, Maio 2006
O que há em comum entre alguns autarcas de Ourém, alguns representantes dos comerciantes de Ourém e um Deputado da Nação também de Ourém? É que todos são a favor das inspecções, desde que não tenham um efeito negativo! Podem vir os inspectores, desde que com a sua acção não prejudiquem os pobres empresários, ainda que eles sejam um bocadinho desleixados na higiene e segurança.
Escandalizou-se muito uma fatia de notáveis políticos do Concelho de Ourém porque um organismo de controlo multou uma série de comerciantes de Fátima, apreendeu uma tonelada de alimentos e deu ordens para encerrar quase uma dúzia de restaurantes e um hotel.
Ora, partindo do princípio que os inspectores não são um bando de lunáticos, eu suponho que eles se limitaram a cumprir a lei: as multas certamente resultam de infracções; a apreensão de alimentos significa que não estariam em bom estado; e o encerramento de restaurantes deve ter sido por falta de condições.
Mesmo aquela fatia de notáveis de Ourém, tão indignada com a inspecção surpresa, não se atreve a negar que estas acções são importantes para educar, e motivar para uma elevação da qualidade geral do serviço. Mas ficaram-me algumas dúvidas sobre a convicção das suas afirmações, quando percebi que não gostam de surpresas e que preferiam que se respeitasse um certo calendário. Pela argumentação que li no jornal, esta altura não lhes pareceu boa. Só faltou defender o direito dos comerciantes a negociar a data e hora da inspecção, para não causar transtorno ao regular serviço. Já agora, porque é que não se faz de uma maneira ainda mais delicada? Podia passar a ser o próprio comerciante a requerer a inspecção para tal data, a tal hora. De certeza que passava a haver menos multas.
Para eles, isto de fazer inspecções surpresa é realmente um abuso! E ainda pior é mostrar à população o que se está a passar, pelos jornais e pela televisão. Porque, até na infracção, o segredo é a alma do negócio.
Bem vistas as coisas, dá ideia que não há problema em escapar à lei; só há problema quando isso se vem a saber.
Por exemplo, se a inspecção tivesse sido adiada uma semana ou duas, a tal tonelada de alimentos apreendidos não se teria desperdiçado. Eventualmente meia dúzia de polacos ou peregrinos do Norte teria ficado com uma pequena indisposição, que passaria em dois ou três dias. Quando a inspecção chegasse, já não havia infracções, já as provas teriam sido alegremente comidas por uns satisfeitos clientes. As vítimas iam achar que era resultado de terem apanhado muito sol e nunca iriam culpar quem lhes tivesse servido um almoço apetitoso e fora do prazo. Isso sim é que era a perfeita história com final feliz: o negócio prosperava e nenhum laborioso oureense ficaria prejudicado, porque o mal se dividia pelas aldeias. Ninguém chegava a saber de nada, era tudo muito discreto, acabava tudo em bem.
Mas os “malandros” de Lisboa, ou de Santarém ou sabe-se lá de onde, não são capazes de deixar os “honrados” comerciantes de Fátima levar a sua vidinha descansados. Tinham de vir estragar o negociozinho com a sua mania de fazer cumprir a lei.
Pode até parecer que as opiniões contra a inspecção publicadas nos jornais vinham em defesa dos comerciantes de Fátima. Mas eu acho que isso é um perfeito engano. Enquanto tentam defender uns quantos que fazem batota para ganhar ilegitimamente à custa dos outros, esquecem que há muitos que não fazem batota, que cumprem as regras e que ingloriamente são ignorados por quem os devia elogiar. No fundo, os notáveis acusadores da inspecção, defendem quem não merece e, com essa atitude, esquecem quem mais deviam lembrar.
Honra seja feita ao presidente da Região de Turismo que foi dos primeiros a louvar a iniciativa, porque ajuda a elevar a qualidade de prestação de serviços na região e assim a melhorar a imagem do comércio e a confiança dos consumidores.
O que há em comum entre alguns autarcas de Ourém, alguns representantes dos comerciantes de Ourém e um Deputado da Nação também de Ourém? É que todos são a favor das inspecções, desde que não tenham um efeito negativo! Podem vir os inspectores, desde que com a sua acção não prejudiquem os pobres empresários, ainda que eles sejam um bocadinho desleixados na higiene e segurança.
Escandalizou-se muito uma fatia de notáveis políticos do Concelho de Ourém porque um organismo de controlo multou uma série de comerciantes de Fátima, apreendeu uma tonelada de alimentos e deu ordens para encerrar quase uma dúzia de restaurantes e um hotel.
Ora, partindo do princípio que os inspectores não são um bando de lunáticos, eu suponho que eles se limitaram a cumprir a lei: as multas certamente resultam de infracções; a apreensão de alimentos significa que não estariam em bom estado; e o encerramento de restaurantes deve ter sido por falta de condições.
Mesmo aquela fatia de notáveis de Ourém, tão indignada com a inspecção surpresa, não se atreve a negar que estas acções são importantes para educar, e motivar para uma elevação da qualidade geral do serviço. Mas ficaram-me algumas dúvidas sobre a convicção das suas afirmações, quando percebi que não gostam de surpresas e que preferiam que se respeitasse um certo calendário. Pela argumentação que li no jornal, esta altura não lhes pareceu boa. Só faltou defender o direito dos comerciantes a negociar a data e hora da inspecção, para não causar transtorno ao regular serviço. Já agora, porque é que não se faz de uma maneira ainda mais delicada? Podia passar a ser o próprio comerciante a requerer a inspecção para tal data, a tal hora. De certeza que passava a haver menos multas.
Para eles, isto de fazer inspecções surpresa é realmente um abuso! E ainda pior é mostrar à população o que se está a passar, pelos jornais e pela televisão. Porque, até na infracção, o segredo é a alma do negócio.
Bem vistas as coisas, dá ideia que não há problema em escapar à lei; só há problema quando isso se vem a saber.
Por exemplo, se a inspecção tivesse sido adiada uma semana ou duas, a tal tonelada de alimentos apreendidos não se teria desperdiçado. Eventualmente meia dúzia de polacos ou peregrinos do Norte teria ficado com uma pequena indisposição, que passaria em dois ou três dias. Quando a inspecção chegasse, já não havia infracções, já as provas teriam sido alegremente comidas por uns satisfeitos clientes. As vítimas iam achar que era resultado de terem apanhado muito sol e nunca iriam culpar quem lhes tivesse servido um almoço apetitoso e fora do prazo. Isso sim é que era a perfeita história com final feliz: o negócio prosperava e nenhum laborioso oureense ficaria prejudicado, porque o mal se dividia pelas aldeias. Ninguém chegava a saber de nada, era tudo muito discreto, acabava tudo em bem.
Mas os “malandros” de Lisboa, ou de Santarém ou sabe-se lá de onde, não são capazes de deixar os “honrados” comerciantes de Fátima levar a sua vidinha descansados. Tinham de vir estragar o negociozinho com a sua mania de fazer cumprir a lei.
Pode até parecer que as opiniões contra a inspecção publicadas nos jornais vinham em defesa dos comerciantes de Fátima. Mas eu acho que isso é um perfeito engano. Enquanto tentam defender uns quantos que fazem batota para ganhar ilegitimamente à custa dos outros, esquecem que há muitos que não fazem batota, que cumprem as regras e que ingloriamente são ignorados por quem os devia elogiar. No fundo, os notáveis acusadores da inspecção, defendem quem não merece e, com essa atitude, esquecem quem mais deviam lembrar.
Honra seja feita ao presidente da Região de Turismo que foi dos primeiros a louvar a iniciativa, porque ajuda a elevar a qualidade de prestação de serviços na região e assim a melhorar a imagem do comércio e a confiança dos consumidores.
Difícil de entender
Notícias de Ourém, Abril 2006
Há por vezes certas coisas que me custam a entender. Não é tanto por serem coisas complicadas, mas desconfio que é mais por serem coisas sem sentido.
Passo a dar um exemplo. Custa-me cá meter na cabeça que ainda hoje os políticos se ponham a falar de religião. Claro que ninguém pode impedir um político de ter convicções religiosas, mas não é essa a sua especialidade. A política é coisa pública e a religião é coisa privada, cada uma não se mistura com a outra. Por isso, eu não entendo que um político venha falar de religião, a não ser que tenha a ilusão de que isso dá boa imagem. Numa palavra, populismo.
Outra coisa que não consigo encaixar muito bem é aquele assunto do Intermarché. As últimas notícias que vi eram tão confusas, que pareceu-me que estava a confundir de propósito. Afinal vão mudar a lei, ou vão mudar o projecto para cumprir a lei, ou vão mudar a lei e mudar também o projecto, para obedecer à lei antiga? Fiquei todo baralhado. Mas não me preocupo muito, desde que uma solução legal seja encontrada. Afinal a intenção é mesmo que não se perceba nada.
Ainda mais recentemente apareceu mais uma novidade que é difícil de entender. Na semana passada o nosso Notícias de Ourém dava larga cobertura ao projecto do novo edifício da Câmara Municipal. Já se anunciava até que a obra ia avançar muito brevemente. Agora acontece que o projecto aprovado estava... incompleto? Segundo as informações, falta-lhe o estudo dos terrenos. Eu, que não sou técnico desta área, o que percebo deste caso é que o projectista se esqueceu de verificar se o terreno aguenta a construção que lá se vai fazer. Dá para acreditar?
Ora bem, quando se trata de analisar as obras dos cidadãos, sabemos que os gabinetes da Câmara são muito atentos e diligentes, para não deixar passar o mínimo detalhe. Então, como é que foi possível deixarem passar uma falha destas? Toda a gente sabe que os serviços da Câmara, para qualquer simples construção, têm o saudável costume de obrigar os cidadãos a recolher montanhas de documentos, projectos, autorização, certidões e outras coisas assim. E quando falta algum papelinho, lá se tem de correr a via-sacra outra vez. Como é que agora numa obra da própria Câmara não se aplicou a mesma diligência na verificação de todos os papelinhos mais miudinhos e se chegou a esta situação. O projecto foi dado como pronto, a obra foi a concurso e, segundo diziam, estava pronta para avançar. Só agora é que viram que faltava uma parte importante. Em casa de ferreiro, espeto de pau. Isto sim, é difícil de entender.
Das duas uma, ou há alguém interessado em que as coisas corram mal, ou há uma grande incompetência na gestão da Câmara. O prédio da rua de Castelo anda em tribunal há alguns anos. O caso Intermarché anda embrulhado por culpa da Câmara há mais de um ano. O Parque Linear vai para obras menos de um ano depois de ser inaugurado. O estádio de Fátima teve o chumbo do Tribunal de Contas e mesmo assim vai também para obras. Agora o caso do projecto inacabado do edifício da Câmara.
Ou andam a fazer de propósito, ou é muita incompetência junta. Eu acredito um pouco em ambos. Mas ainda há uma terceira possibilidade: se calhar é bruxedo. Mas, como eu estou a escrever um texto político, tenho de evitar meter-me por um caminho tão... espiritual.
Há por vezes certas coisas que me custam a entender. Não é tanto por serem coisas complicadas, mas desconfio que é mais por serem coisas sem sentido.
Passo a dar um exemplo. Custa-me cá meter na cabeça que ainda hoje os políticos se ponham a falar de religião. Claro que ninguém pode impedir um político de ter convicções religiosas, mas não é essa a sua especialidade. A política é coisa pública e a religião é coisa privada, cada uma não se mistura com a outra. Por isso, eu não entendo que um político venha falar de religião, a não ser que tenha a ilusão de que isso dá boa imagem. Numa palavra, populismo.
Outra coisa que não consigo encaixar muito bem é aquele assunto do Intermarché. As últimas notícias que vi eram tão confusas, que pareceu-me que estava a confundir de propósito. Afinal vão mudar a lei, ou vão mudar o projecto para cumprir a lei, ou vão mudar a lei e mudar também o projecto, para obedecer à lei antiga? Fiquei todo baralhado. Mas não me preocupo muito, desde que uma solução legal seja encontrada. Afinal a intenção é mesmo que não se perceba nada.
Ainda mais recentemente apareceu mais uma novidade que é difícil de entender. Na semana passada o nosso Notícias de Ourém dava larga cobertura ao projecto do novo edifício da Câmara Municipal. Já se anunciava até que a obra ia avançar muito brevemente. Agora acontece que o projecto aprovado estava... incompleto? Segundo as informações, falta-lhe o estudo dos terrenos. Eu, que não sou técnico desta área, o que percebo deste caso é que o projectista se esqueceu de verificar se o terreno aguenta a construção que lá se vai fazer. Dá para acreditar?
Ora bem, quando se trata de analisar as obras dos cidadãos, sabemos que os gabinetes da Câmara são muito atentos e diligentes, para não deixar passar o mínimo detalhe. Então, como é que foi possível deixarem passar uma falha destas? Toda a gente sabe que os serviços da Câmara, para qualquer simples construção, têm o saudável costume de obrigar os cidadãos a recolher montanhas de documentos, projectos, autorização, certidões e outras coisas assim. E quando falta algum papelinho, lá se tem de correr a via-sacra outra vez. Como é que agora numa obra da própria Câmara não se aplicou a mesma diligência na verificação de todos os papelinhos mais miudinhos e se chegou a esta situação. O projecto foi dado como pronto, a obra foi a concurso e, segundo diziam, estava pronta para avançar. Só agora é que viram que faltava uma parte importante. Em casa de ferreiro, espeto de pau. Isto sim, é difícil de entender.
Das duas uma, ou há alguém interessado em que as coisas corram mal, ou há uma grande incompetência na gestão da Câmara. O prédio da rua de Castelo anda em tribunal há alguns anos. O caso Intermarché anda embrulhado por culpa da Câmara há mais de um ano. O Parque Linear vai para obras menos de um ano depois de ser inaugurado. O estádio de Fátima teve o chumbo do Tribunal de Contas e mesmo assim vai também para obras. Agora o caso do projecto inacabado do edifício da Câmara.
Ou andam a fazer de propósito, ou é muita incompetência junta. Eu acredito um pouco em ambos. Mas ainda há uma terceira possibilidade: se calhar é bruxedo. Mas, como eu estou a escrever um texto político, tenho de evitar meter-me por um caminho tão... espiritual.
Escola próxima
Notícias de Ourém, Março 2006
Por vezes é nos momentos difíceis que somos forçados a parar para olhar o que nos rodeia por outro ponto de vista. A recente perda de um aluno da nossa comunidade escolar abriu-nos precisamente uma dessas janelas. Com a sua falta descobrimos que somos um pouco mais do que uma simples escola e um pouco menos do que uma família grande.
Veio nos jornais, viu-se na televisão: o Paulo, aluno do 7.º ano da Escola da Freixianda, caiu num poço desprotegido e não sobreviveu. No funeral muitos se recordaram certamente de situações diversas em que o Paulo tinha participado. A mim não me saía da cabeça uma imagem só: o Paulo a pular contente em frente da câmara de filmar da escola, noutro Carnaval, há talvez uns dois anos.
Na reacção individual de todos os que o conheciam viu-se com evidência que o nosso mundo de todos os dias ficou de repente um pouco mais estreito. Depois percebemos que esse sentimento ia ainda mais além das paredes da escola e dos colegas de carteira, dos professores e dos funcionários. Fora dos muros da escola descobrimos que há vizinhos, que há conhecidos, que há tantas outras pessoas para quem não é indiferente.
Foi principalmente significativa uma reunião que a Presidente do Agrupamento decidiu organizar. Foram convidados encarregados de educação, párocos, dirigentes autárquicos, professores e alunos. Muitos, de uma forma ou de outra, ou estiveram presentes, ou se fizeram representar. Assim se reforçou a ideia fundamental de que formamos verdadeiramente uma comunidade.
E do debate surgiram duas ou três ideias positivas que merecem passar além das paredes da escola. A ideia mais repetida reclama que cada um se deve sentir responsável, para evitar que no futuro aconteça outra desgraça assim. A mensagem tem de chegar a todos, para que cada proprietário cumpra a lei e assegure que os poços dos seus terrenos não constituem mais perigo para ninguém. Nesse sentido, uma campanha de sensibilização prepara-se para partir de várias instâncias: da Escola, da Paróquia, da Junta de Freguesia. Esperamos que outras Juntas, outras Paróquias e outras Escolas se juntem a nós.
Mas mais importante de tudo, ficou o compromisso do Vereador Humberto Piedade de que também a Câmara vai também participar neste esforço conjunto. O maior obstáculo ao cumprimento integral da Lei tem sido a falta de conhecimento dos casos concretos. Por isso, o primeiro passo é procurar saber onde estão os perigos. Realço com entusiasmo o compromisso da Câmara: de implementar um cadastro actualizado de todos os poços, fossas, lagoas, que são a todo o instante armadilhas fatais. Quando a Câmara estiver na posse desses dados, será mais fácil notificar os proprietários para fazerem resguardos sempre que isso se revelar necessário, ou actuar por outras vias para encontrar uma solução.
Quanto ao passado, já não podemos voltar atrás para emendar o que esteve mal. Mas para o futuro este espírito de quase família, esta ideia de comunidade que vamos construindo, pode servir-nos de alguma coisa para edificar um mundo mais seguro e mais feliz. Afinal uma escola é feita principalmente de ideias assim.
Por vezes é nos momentos difíceis que somos forçados a parar para olhar o que nos rodeia por outro ponto de vista. A recente perda de um aluno da nossa comunidade escolar abriu-nos precisamente uma dessas janelas. Com a sua falta descobrimos que somos um pouco mais do que uma simples escola e um pouco menos do que uma família grande.
Veio nos jornais, viu-se na televisão: o Paulo, aluno do 7.º ano da Escola da Freixianda, caiu num poço desprotegido e não sobreviveu. No funeral muitos se recordaram certamente de situações diversas em que o Paulo tinha participado. A mim não me saía da cabeça uma imagem só: o Paulo a pular contente em frente da câmara de filmar da escola, noutro Carnaval, há talvez uns dois anos.
Na reacção individual de todos os que o conheciam viu-se com evidência que o nosso mundo de todos os dias ficou de repente um pouco mais estreito. Depois percebemos que esse sentimento ia ainda mais além das paredes da escola e dos colegas de carteira, dos professores e dos funcionários. Fora dos muros da escola descobrimos que há vizinhos, que há conhecidos, que há tantas outras pessoas para quem não é indiferente.
Foi principalmente significativa uma reunião que a Presidente do Agrupamento decidiu organizar. Foram convidados encarregados de educação, párocos, dirigentes autárquicos, professores e alunos. Muitos, de uma forma ou de outra, ou estiveram presentes, ou se fizeram representar. Assim se reforçou a ideia fundamental de que formamos verdadeiramente uma comunidade.
E do debate surgiram duas ou três ideias positivas que merecem passar além das paredes da escola. A ideia mais repetida reclama que cada um se deve sentir responsável, para evitar que no futuro aconteça outra desgraça assim. A mensagem tem de chegar a todos, para que cada proprietário cumpra a lei e assegure que os poços dos seus terrenos não constituem mais perigo para ninguém. Nesse sentido, uma campanha de sensibilização prepara-se para partir de várias instâncias: da Escola, da Paróquia, da Junta de Freguesia. Esperamos que outras Juntas, outras Paróquias e outras Escolas se juntem a nós.
Mas mais importante de tudo, ficou o compromisso do Vereador Humberto Piedade de que também a Câmara vai também participar neste esforço conjunto. O maior obstáculo ao cumprimento integral da Lei tem sido a falta de conhecimento dos casos concretos. Por isso, o primeiro passo é procurar saber onde estão os perigos. Realço com entusiasmo o compromisso da Câmara: de implementar um cadastro actualizado de todos os poços, fossas, lagoas, que são a todo o instante armadilhas fatais. Quando a Câmara estiver na posse desses dados, será mais fácil notificar os proprietários para fazerem resguardos sempre que isso se revelar necessário, ou actuar por outras vias para encontrar uma solução.
Quanto ao passado, já não podemos voltar atrás para emendar o que esteve mal. Mas para o futuro este espírito de quase família, esta ideia de comunidade que vamos construindo, pode servir-nos de alguma coisa para edificar um mundo mais seguro e mais feliz. Afinal uma escola é feita principalmente de ideias assim.
Carnaval
Notícias de Ourém, Fevereiro 2006
Este ano não houve carnaval em Ourém. E porquê? Se calhar é porque no ano passado tivemos carnaval a mais. Tivemos carnaval em Fevereiro e, por altura das eleições autárquicas, voltou a haver festança. Dois carnavais num só ano, tinha de dar em jejum. Gastou-se demais na folia das obras de última hora, e agora já não há.O Presidente da Câmara não o diz directamente, mas lendo bem nas entrelinhas, acaba por ir dar ao mesmo. Segundo as suas afirmações, os clubes deste concelho só queriam era deitar a mão à massa da Câmara e não faziam nada de jeito. É tudo um problema de massa.
A desculpa oficial é que o modelo de desfile dos anos anteriores estava gasto, que as escolas já não participavam, que as associações iam buscar a pardaleira e o velho fato da tropa para irem sacar o cacau que a Câmara durante anos lhes ia dando para aquela triste figura.
Não sei se o Presidente estava a falar do mesmo desfile que eu tenho visto e a que milhares de pessoas assistiam nas ruas de Ourém. Não vi no ano passado mais pardaleiras do que nos anos anteriores. Continuei a ver as escolas a participar e as associações a apresentarem o fruto de muito trabalho. Quem anda longe destas coisas não sabe dar valor ao esforço e dedicação daqueles que, todos os anos, davam o seu melhor para uma festa que é de todos. Nem todas as participações teriam a mesma qualidade, mas a grande maioria ia ao cortejo com ideias bem engraçadas e com trabalhos que não envergonhavam ninguém. Para mim, andava-se muito longe dessa falta de qualidade que a Câmara diz que havia. E tenho bem a certeza que ninguém enriqueceu com o subsídio de carnaval que a Câmara atribuía.
Além do mais, se o resultado não correspondia ao que se esperava, o problema era de quem marcava as regras, ou seja, da própria Câmara. Se agora se vêm queixar, só se podem queixar de si próprios, que definiram este modelo e o mantiveram durante anos. A culpa não é, certamente, nem das escolas, nem das associações.
Mas ainda que fosse verdade, e que as pessoas estivessem cansadas, ainda que as associações fossem umas interesseiras e o modelo estivesse gasto, havia sempre uma solução. A Câmara podia propor um novo modelo, modificar as regras, melhorar o que havia. Nada disso aconteceu. Fechou-se simplesmente a porta, que pensar dá muito trabalho.
Ora, como isto não faz muito sentido, eu retiro duas conclusões. Primeira conclusão, que o verdadeiro motivo é mesmo a falta de dinheiro. As dívidas da Câmara são muito altas, gastou-se mais do que havia, agora há que poupar.
Segunda conclusão, a Câmara continua a cuspir no prato onde comeu. Depois de anos a contar com o esforço das pessoas que trabalham de graça nas associações, agora dá-lhes o coice, a dizer que o que faziam era coisa sem valor, que não merece nenhum apoio da Câmara. Em termos de reconhecimento do esforço e de delicadeza, continua tudo igual.
Podemos, então, esperar que nos anos que virão volte a haver carnaval em Ourém? Tenho a certeza que sim. E, pelos argumentos agora usados, cá ficamos a esperar o modelo renovado que esta equipa da Câmara nos irá então apresentar. Deve ser coisa de se lhe tirar o chapéu.
Este ano não houve carnaval em Ourém. E porquê? Se calhar é porque no ano passado tivemos carnaval a mais. Tivemos carnaval em Fevereiro e, por altura das eleições autárquicas, voltou a haver festança. Dois carnavais num só ano, tinha de dar em jejum. Gastou-se demais na folia das obras de última hora, e agora já não há.O Presidente da Câmara não o diz directamente, mas lendo bem nas entrelinhas, acaba por ir dar ao mesmo. Segundo as suas afirmações, os clubes deste concelho só queriam era deitar a mão à massa da Câmara e não faziam nada de jeito. É tudo um problema de massa.
A desculpa oficial é que o modelo de desfile dos anos anteriores estava gasto, que as escolas já não participavam, que as associações iam buscar a pardaleira e o velho fato da tropa para irem sacar o cacau que a Câmara durante anos lhes ia dando para aquela triste figura.
Não sei se o Presidente estava a falar do mesmo desfile que eu tenho visto e a que milhares de pessoas assistiam nas ruas de Ourém. Não vi no ano passado mais pardaleiras do que nos anos anteriores. Continuei a ver as escolas a participar e as associações a apresentarem o fruto de muito trabalho. Quem anda longe destas coisas não sabe dar valor ao esforço e dedicação daqueles que, todos os anos, davam o seu melhor para uma festa que é de todos. Nem todas as participações teriam a mesma qualidade, mas a grande maioria ia ao cortejo com ideias bem engraçadas e com trabalhos que não envergonhavam ninguém. Para mim, andava-se muito longe dessa falta de qualidade que a Câmara diz que havia. E tenho bem a certeza que ninguém enriqueceu com o subsídio de carnaval que a Câmara atribuía.
Além do mais, se o resultado não correspondia ao que se esperava, o problema era de quem marcava as regras, ou seja, da própria Câmara. Se agora se vêm queixar, só se podem queixar de si próprios, que definiram este modelo e o mantiveram durante anos. A culpa não é, certamente, nem das escolas, nem das associações.
Mas ainda que fosse verdade, e que as pessoas estivessem cansadas, ainda que as associações fossem umas interesseiras e o modelo estivesse gasto, havia sempre uma solução. A Câmara podia propor um novo modelo, modificar as regras, melhorar o que havia. Nada disso aconteceu. Fechou-se simplesmente a porta, que pensar dá muito trabalho.
Ora, como isto não faz muito sentido, eu retiro duas conclusões. Primeira conclusão, que o verdadeiro motivo é mesmo a falta de dinheiro. As dívidas da Câmara são muito altas, gastou-se mais do que havia, agora há que poupar.
Segunda conclusão, a Câmara continua a cuspir no prato onde comeu. Depois de anos a contar com o esforço das pessoas que trabalham de graça nas associações, agora dá-lhes o coice, a dizer que o que faziam era coisa sem valor, que não merece nenhum apoio da Câmara. Em termos de reconhecimento do esforço e de delicadeza, continua tudo igual.
Podemos, então, esperar que nos anos que virão volte a haver carnaval em Ourém? Tenho a certeza que sim. E, pelos argumentos agora usados, cá ficamos a esperar o modelo renovado que esta equipa da Câmara nos irá então apresentar. Deve ser coisa de se lhe tirar o chapéu.
Ainda falta muito?
Notícias de Ourém, Fevereiro 2006
É verdade que dá alguma vaidade chegar a certo ponto e poder concluir que se teve razão antes dos outros todos. Mas também é verdade que isso, as mais das vezes, não adianta de nada, nem a quem teve razão, nem a quem fez orelhas moucas e não quis aceitar um conselho. O resultado é, nas nossas pequenas coisas de todos os dias, ouvir alguém desabafar: “eu bem te dizia, mas tu não querias crer!”.
É mais um caso desses que agora nos salta à vista nas páginas dos jornais. Reunidas as partes intervenientes, políticos, empresário e Quercus, parece que finalmente conseguiram encontrar uma solução para o caso Intermarché. Muda-se o projecto para a parte legal do terreno e assim já se pode construir. Só podemos ficar felizes com uma solução que contenta a todos e acaba com aquela tristeza de uma obra sem fim à vista!
O engraçado é que esta nova solução agora apresentada... não é mesmo nada nova e já andava nos jornais aqui há mais de dez meses. Para quem não se lembra, foi apresentada pelo José Manuel Alho na campanha eleitoral. E tinha razão.
Mas para os dirigentes da Câmara, que tinham inventado o problema, era muito difícil engolir, à distância de algumas semanas das eleições, que a solução viesse dos adversários políticos. E, por isso, inventaram uns estratagemas do arco da velha, que só enganavam quem, juntamente com eles, não queria ver o que já saltava à vista. Diziam que iam emendar a lei, mas só para aquele caso; afirmavam que bastava dizer que se tinham enganado a fazer os mapas, e tudo se resolvia com um estalar de dedos. Afinal, parece que não! Alguém se acreditou? Eu certamente que não.
Agora que o perigo eleitoral já passou, agora que os eleitores já lhes deram a confiança, e os instalaram no governo mais quatro anos; agora que já toda a gente se devia ter esquecido; agora já podem apresentar uma solução que já podia e devia ter resolvido o problema há muito tempo.
Afinal, há quem tenha tido razão antes do tempo. Mas isso de nada valeu. Ao povo de Ourém não valeu de nada, porque a solução do problema foi travada durante quase um ano. Assim se atrasou o progresso e se perdeu ainda mais dinheiro. Não valeu também ao José Manuel Alho, porque o povo não quis acreditar nele e preferiu deixar-se enganar. São as contradições da vida.
Como se diz por aí, “mais vale cair em graça do que ser engraçado”. Mesmo que apareçam ideias melhores, o povo parece gostar mais das velhas invenções tontas de sempre... É muito mais seguro, já toda a gente sabe com o que conta.
É verdade que dá alguma vaidade chegar a certo ponto e poder concluir que se teve razão antes dos outros todos. Mas também é verdade que isso, as mais das vezes, não adianta de nada, nem a quem teve razão, nem a quem fez orelhas moucas e não quis aceitar um conselho. O resultado é, nas nossas pequenas coisas de todos os dias, ouvir alguém desabafar: “eu bem te dizia, mas tu não querias crer!”.
É mais um caso desses que agora nos salta à vista nas páginas dos jornais. Reunidas as partes intervenientes, políticos, empresário e Quercus, parece que finalmente conseguiram encontrar uma solução para o caso Intermarché. Muda-se o projecto para a parte legal do terreno e assim já se pode construir. Só podemos ficar felizes com uma solução que contenta a todos e acaba com aquela tristeza de uma obra sem fim à vista!
O engraçado é que esta nova solução agora apresentada... não é mesmo nada nova e já andava nos jornais aqui há mais de dez meses. Para quem não se lembra, foi apresentada pelo José Manuel Alho na campanha eleitoral. E tinha razão.
Mas para os dirigentes da Câmara, que tinham inventado o problema, era muito difícil engolir, à distância de algumas semanas das eleições, que a solução viesse dos adversários políticos. E, por isso, inventaram uns estratagemas do arco da velha, que só enganavam quem, juntamente com eles, não queria ver o que já saltava à vista. Diziam que iam emendar a lei, mas só para aquele caso; afirmavam que bastava dizer que se tinham enganado a fazer os mapas, e tudo se resolvia com um estalar de dedos. Afinal, parece que não! Alguém se acreditou? Eu certamente que não.
Agora que o perigo eleitoral já passou, agora que os eleitores já lhes deram a confiança, e os instalaram no governo mais quatro anos; agora que já toda a gente se devia ter esquecido; agora já podem apresentar uma solução que já podia e devia ter resolvido o problema há muito tempo.
Afinal, há quem tenha tido razão antes do tempo. Mas isso de nada valeu. Ao povo de Ourém não valeu de nada, porque a solução do problema foi travada durante quase um ano. Assim se atrasou o progresso e se perdeu ainda mais dinheiro. Não valeu também ao José Manuel Alho, porque o povo não quis acreditar nele e preferiu deixar-se enganar. São as contradições da vida.
Como se diz por aí, “mais vale cair em graça do que ser engraçado”. Mesmo que apareçam ideias melhores, o povo parece gostar mais das velhas invenções tontas de sempre... É muito mais seguro, já toda a gente sabe com o que conta.
Capacidade de dialogar
Notícias de Ourém, Janeiro 2006
Na democracia apenas alguns são eleitos para representar muitos outros, simples cidadãos. O que se espera de alguém que ocupa um lugar político de representação é que seja o primeiro a defender o cumprimento das leis. E não duvido que é esse o espírito geral que os anima. Só que, às vezes há tentações.
Estranhei algumas coisas que li numa notícia do Notícias de Ourém, sobre o aniversário da Quercus. No texto diz-se que a Presidente da Assembleia Municipal e do Vice-Presidente da Câmara apelaram para que a Quercus se mostrasse flexível em casos como os do IC9 e do Intermarché. Não tenho a certeza se compreendi correctamente o alcance desses apelos, mas o que me pareceu foi que pediam aos responsáveis daquela organização para fazerem vista grossa quando alguma ilegalidade fosse detectada.
Se bem me lembro, tanto no caso IC9 como no caso Intermarché, o que a Quercus fez foi alertar para situações em que a lei não estaria a ser cumprida. E pelas decisões do tribunal, tudo indica que era uma posição correcta e justificada. Ora, se a Quercus defende que se cumpra a lei, como é que aqueles dois órgãos autárquicos aparecem agora a pedir diálogo, consenso, flexibilidade? Querem que se feche os olhos quando a lei não é cumprida?
Por mim, não posso concordar. A lei existe, em princípio, para defender o bem comum. Esta ideia de lhe dar um jeitinho, de fechar os olhos, de deixar passar em claro, faz-me um bocado confusão. Para isso, mais valia não fazer leis.
De resto, é uma atitude perigosa. Imagine-se que um cidadão resolvia, por exemplo, cortar uma estrada, ocupar espaço público, para alargar o seu quintal. Qual deveria ser a atitude? Fazer vista grossa, negociar, ser flexível? Ou se outro resolvesse desviar a água de uma fonte pública? Ou se alguém resolvesse que não se justificava cumprir os regulamentos camarários sobre construções? Ou se optasse por não pagar as taxas municipais? Será o que os órgãos autárquicos que nos representam conseguiam manter este discurso: ser flexíveis, negociar, deixar passar? Estou certo que não.
O que eu entendo do discurso daqueles dois responsáveis políticos é que, para a Câmara e para a Assembleia Municipal, há leis que são flexíveis quando lhes convém, e leis que são rigorosas quando lhes dá jeito.
Pois a minha opinião é diferente. Se as leis não servirem o bem comum, alterem-se as leis. Se, pelo contrário, as leis servem o bem comum, não há nenhuma justificação para lhes dar um jeitinho. Cumpra-se a lei, a começar por quem tem mais obrigação de o fazer, devido aos cargos públicos que ocupa.
Parabéns à Quercus, não só pelo aniversário, mas principalmente pelo esforço que desenvolve na defesa do bem de todos.
Na democracia apenas alguns são eleitos para representar muitos outros, simples cidadãos. O que se espera de alguém que ocupa um lugar político de representação é que seja o primeiro a defender o cumprimento das leis. E não duvido que é esse o espírito geral que os anima. Só que, às vezes há tentações.
Estranhei algumas coisas que li numa notícia do Notícias de Ourém, sobre o aniversário da Quercus. No texto diz-se que a Presidente da Assembleia Municipal e do Vice-Presidente da Câmara apelaram para que a Quercus se mostrasse flexível em casos como os do IC9 e do Intermarché. Não tenho a certeza se compreendi correctamente o alcance desses apelos, mas o que me pareceu foi que pediam aos responsáveis daquela organização para fazerem vista grossa quando alguma ilegalidade fosse detectada.
Se bem me lembro, tanto no caso IC9 como no caso Intermarché, o que a Quercus fez foi alertar para situações em que a lei não estaria a ser cumprida. E pelas decisões do tribunal, tudo indica que era uma posição correcta e justificada. Ora, se a Quercus defende que se cumpra a lei, como é que aqueles dois órgãos autárquicos aparecem agora a pedir diálogo, consenso, flexibilidade? Querem que se feche os olhos quando a lei não é cumprida?
Por mim, não posso concordar. A lei existe, em princípio, para defender o bem comum. Esta ideia de lhe dar um jeitinho, de fechar os olhos, de deixar passar em claro, faz-me um bocado confusão. Para isso, mais valia não fazer leis.
De resto, é uma atitude perigosa. Imagine-se que um cidadão resolvia, por exemplo, cortar uma estrada, ocupar espaço público, para alargar o seu quintal. Qual deveria ser a atitude? Fazer vista grossa, negociar, ser flexível? Ou se outro resolvesse desviar a água de uma fonte pública? Ou se alguém resolvesse que não se justificava cumprir os regulamentos camarários sobre construções? Ou se optasse por não pagar as taxas municipais? Será o que os órgãos autárquicos que nos representam conseguiam manter este discurso: ser flexíveis, negociar, deixar passar? Estou certo que não.
O que eu entendo do discurso daqueles dois responsáveis políticos é que, para a Câmara e para a Assembleia Municipal, há leis que são flexíveis quando lhes convém, e leis que são rigorosas quando lhes dá jeito.
Pois a minha opinião é diferente. Se as leis não servirem o bem comum, alterem-se as leis. Se, pelo contrário, as leis servem o bem comum, não há nenhuma justificação para lhes dar um jeitinho. Cumpra-se a lei, a começar por quem tem mais obrigação de o fazer, devido aos cargos públicos que ocupa.
Parabéns à Quercus, não só pelo aniversário, mas principalmente pelo esforço que desenvolve na defesa do bem de todos.
O preço da água
Notícias de Ourém, Janeiro 2006
Por vezes achamos não é fácil perceber quais são as diferenças entre alguns políticos e os outros. Até que chegamos a pequenos pormenores e a certos casos práticos. O aumento do preço da água que agora bate à porta dos Oureenses é uma boa ocasião para fazer esta distinção.
A proposta de aumento aprovada pela Câmara Municipal é de 6,9 por cento, um bocado acima do aumento médio de outros bens e ainda mais acima da média de aumento dos ordenados. Há alguma razão para isso? O presidente da Câmara diz que sim. Diz que é para cumprir o acordo com a Companhia francesa a quem foi entregue este serviço, aqui há uns anos. As canalizações estão velhas e há que substituí-las. E, como toda a gente sabe, isso custa dinheiro.
Esta argumentação até pode ser verdade, mas vale a pena fazer aqui um pequeno exercício de memória e um pouco de reflexão.
Quando há umas dezenas de anos o concelho de Ourém não tinha água canalizada, houve presidentes da Câmara que entenderam que esse era um bem essencial para a população e deitaram mãos à obra, gastaram dinheiro e trouxeram o progresso. Eu diria que esses foram presidentes que perceberam qual é a finalidade de uma Câmara Municipal, ou de uma Junta de Freguesia, isto é, contribuir para o progresso comum. Depois veio um presidente que achou que esse bem essencial, que devia ser de todos, ficava melhor se passasse a ser dirigido por uma empresa privada.
Agora que é preciso fazer reparações, a empresa reclama que alguém as terá que pagar. Se a Câmara não paga o investimento, quem paga é a população.
Para mim, um bem tão precioso como a água deve ser garantido pelos poderes públicos. O investimento necessário devia ser da responsabilidade da Câmara, porque uma Câmara serve para defender o bem comum.
Devia ser, mas não é. Quando o dinheiro não chega para tudo, há que fazer opções, e as opções da Câmara são diferentes. Entre construir, por exemplo, um campo de golfe e assegurar à população boas condições de abastecimento de água, a opção mais correcta é... Devia ser, mas não é.
Para a Câmara Municipal é indiferente que uma boa parte das pessoas do concelho tenham de viver com pequenas reformas de 200 euros. A esses que pouco têm é que se hão-de tirar as migalhas que vão pagar as obras urgentes, porque o orçamento da Câmara tem de ficar guardado para outro tipo de despesas, que eles consideram mais urgentes.
Enfim, este pequeno caso tem um importante significado. Há políticos que, de tanto se preocuparem com a “viabilidade financeira” de projectos, acabam por se esquecer que o mundo é feito de pessoas, muito mais do que de números. Há políticos que ficam cegos com gastos milionários em obras secundárias e se esquecem daqueles a quem 1 euro a mais ou a menos faz diferença na carteira. Certos políticos acham que cada um deve pagar por aquilo que utiliza, mas outros ainda conseguem ver que neste mundo tem de haver lugar até para quem não pode pagar.
Essa é uma grande diferença que distingue alguns políticos de todos os outros.
Por vezes achamos não é fácil perceber quais são as diferenças entre alguns políticos e os outros. Até que chegamos a pequenos pormenores e a certos casos práticos. O aumento do preço da água que agora bate à porta dos Oureenses é uma boa ocasião para fazer esta distinção.
A proposta de aumento aprovada pela Câmara Municipal é de 6,9 por cento, um bocado acima do aumento médio de outros bens e ainda mais acima da média de aumento dos ordenados. Há alguma razão para isso? O presidente da Câmara diz que sim. Diz que é para cumprir o acordo com a Companhia francesa a quem foi entregue este serviço, aqui há uns anos. As canalizações estão velhas e há que substituí-las. E, como toda a gente sabe, isso custa dinheiro.
Esta argumentação até pode ser verdade, mas vale a pena fazer aqui um pequeno exercício de memória e um pouco de reflexão.
Quando há umas dezenas de anos o concelho de Ourém não tinha água canalizada, houve presidentes da Câmara que entenderam que esse era um bem essencial para a população e deitaram mãos à obra, gastaram dinheiro e trouxeram o progresso. Eu diria que esses foram presidentes que perceberam qual é a finalidade de uma Câmara Municipal, ou de uma Junta de Freguesia, isto é, contribuir para o progresso comum. Depois veio um presidente que achou que esse bem essencial, que devia ser de todos, ficava melhor se passasse a ser dirigido por uma empresa privada.
Agora que é preciso fazer reparações, a empresa reclama que alguém as terá que pagar. Se a Câmara não paga o investimento, quem paga é a população.
Para mim, um bem tão precioso como a água deve ser garantido pelos poderes públicos. O investimento necessário devia ser da responsabilidade da Câmara, porque uma Câmara serve para defender o bem comum.
Devia ser, mas não é. Quando o dinheiro não chega para tudo, há que fazer opções, e as opções da Câmara são diferentes. Entre construir, por exemplo, um campo de golfe e assegurar à população boas condições de abastecimento de água, a opção mais correcta é... Devia ser, mas não é.
Para a Câmara Municipal é indiferente que uma boa parte das pessoas do concelho tenham de viver com pequenas reformas de 200 euros. A esses que pouco têm é que se hão-de tirar as migalhas que vão pagar as obras urgentes, porque o orçamento da Câmara tem de ficar guardado para outro tipo de despesas, que eles consideram mais urgentes.
Enfim, este pequeno caso tem um importante significado. Há políticos que, de tanto se preocuparem com a “viabilidade financeira” de projectos, acabam por se esquecer que o mundo é feito de pessoas, muito mais do que de números. Há políticos que ficam cegos com gastos milionários em obras secundárias e se esquecem daqueles a quem 1 euro a mais ou a menos faz diferença na carteira. Certos políticos acham que cada um deve pagar por aquilo que utiliza, mas outros ainda conseguem ver que neste mundo tem de haver lugar até para quem não pode pagar.
Essa é uma grande diferença que distingue alguns políticos de todos os outros.
Uma casa de cartão
Notícias de Ourém, Novembro 2005
A história dos três porquinhos há muitos anos que encanta as crianças e os adultos. O princípio que ela ensina é muito simples: quando se prepara o futuro, há que fazer as coisas com cuidado, mesmo que isso dê um pouco mais de trabalho. Dos três porquinhos da história, um fez a casa de papel, outro fez a casa de palha e só um é que fez a casa de tijolo. Evidentemente, as duas primeiras não conseguiram resistir às adversidades mais simples. Assim que chegou o lobo, os porquinhos ficaram desalojados. Só o mais avisado de todos, com uma casa bem pensada, é que acabou por “desenrascar” os porquinhos seus irmãos.
Vem isto como forma de comparação em relação a mais outra novidade, sempre da mesma nossa Câmara Municipal.
Lê-se no Região de Leiria que o novíssimo Parque Linear de Ourém vai para obras. Mas não é porque o longo passar dos anos lhe tenham estragado a beleza. Não pode ser por isso, porque só passaram cinco meses desde a sua inauguração. O que acontece é que não estava previsto chover em Ourém. Quando o Parque foi inaugurado o país estava em seca e de certeza que ninguém podia prever que algum dia havia de chover junto à ribeira de Seiça. Fez-se então o tal Parque, como se Ourém fosse em África, perdido no meio do deserto.
Acontece que, com as primeiras chuvas, ficou tudo feito em lama. E agora, em cima do milhão de contos que lá se empregou, é preciso engrossar a factura, porque está provado que lá também chove e que ali, ao lado da ribeira, a água começa a ser muita.
Mas parece que isso pouco importa, que aquele dinheiro de ninguém é para estragar com fartura no fazer e desfazer da obra mal projectada. Quando a massa se acabar, pede-se mais outro empréstimo ao banco, corrige-se o orçamento, e para a frente é que é caminho, como se viu na última Assembleia Municipal.
A fúria da obra eleitoral voltou a dar os seus frutos, com obras mal acabadas e outras por concluir. De qualquer maneira, o objectivo era só dar ilusão de fartura e o resultado não se estranha. Como na casa de papel do porquinho descuidado, há-de haver sempre alguém que acaba por “desenrascar”.
Como este filme promete assim continuar, certamente é completamente justificada a criação de mais uma vaga na Câmara, numa espécie de central oficial de reclamações, para onde foi “promovido” o antigo ajudante do Presidente da Câmara, quando teve de ceder o lugar a outro com mais influência.
E ainda há quem diga que há funcionários públicos a mais! Para ter ideias brilhantes, para servir a população, venham quantos mais melhor.
A história dos três porquinhos há muitos anos que encanta as crianças e os adultos. O princípio que ela ensina é muito simples: quando se prepara o futuro, há que fazer as coisas com cuidado, mesmo que isso dê um pouco mais de trabalho. Dos três porquinhos da história, um fez a casa de papel, outro fez a casa de palha e só um é que fez a casa de tijolo. Evidentemente, as duas primeiras não conseguiram resistir às adversidades mais simples. Assim que chegou o lobo, os porquinhos ficaram desalojados. Só o mais avisado de todos, com uma casa bem pensada, é que acabou por “desenrascar” os porquinhos seus irmãos.
Vem isto como forma de comparação em relação a mais outra novidade, sempre da mesma nossa Câmara Municipal.
Lê-se no Região de Leiria que o novíssimo Parque Linear de Ourém vai para obras. Mas não é porque o longo passar dos anos lhe tenham estragado a beleza. Não pode ser por isso, porque só passaram cinco meses desde a sua inauguração. O que acontece é que não estava previsto chover em Ourém. Quando o Parque foi inaugurado o país estava em seca e de certeza que ninguém podia prever que algum dia havia de chover junto à ribeira de Seiça. Fez-se então o tal Parque, como se Ourém fosse em África, perdido no meio do deserto.
Acontece que, com as primeiras chuvas, ficou tudo feito em lama. E agora, em cima do milhão de contos que lá se empregou, é preciso engrossar a factura, porque está provado que lá também chove e que ali, ao lado da ribeira, a água começa a ser muita.
Mas parece que isso pouco importa, que aquele dinheiro de ninguém é para estragar com fartura no fazer e desfazer da obra mal projectada. Quando a massa se acabar, pede-se mais outro empréstimo ao banco, corrige-se o orçamento, e para a frente é que é caminho, como se viu na última Assembleia Municipal.
A fúria da obra eleitoral voltou a dar os seus frutos, com obras mal acabadas e outras por concluir. De qualquer maneira, o objectivo era só dar ilusão de fartura e o resultado não se estranha. Como na casa de papel do porquinho descuidado, há-de haver sempre alguém que acaba por “desenrascar”.
Como este filme promete assim continuar, certamente é completamente justificada a criação de mais uma vaga na Câmara, numa espécie de central oficial de reclamações, para onde foi “promovido” o antigo ajudante do Presidente da Câmara, quando teve de ceder o lugar a outro com mais influência.
E ainda há quem diga que há funcionários públicos a mais! Para ter ideias brilhantes, para servir a população, venham quantos mais melhor.
Uma cena na Gondemaria
Notícias de Ourém, Novembro 2005
É normal nas eleições que apenas uma lista ganhe e as outras percam. Não é nenhuma desgraça perder uma votação justa, nem vem daí desonra nenhuma. É o que aconte a muitos milhares de candidatos.
Mas já é triste quando um candidato derrotado encena um pequeno drama por causa disso, como aconteceu na Gondemaria. O que ficava bem a todos era assumir com dignidade a escolha da população. O que pareceu muito mal foi uma cerimónia de inauguração completamente fora de prazo, um discurso a dizer bem de si próprio, e sobretudo uma pergunta dramática “o que é que não fez e poderia ter feito?”. Pois eu digo o que acho que não fez e poderia ter feito: poderia ter saído de cabeça erguida, sem passar a vergonha de mostrar a sua amargura num espectáculo público, como se fosse um menino enjeitado, como se esta derrota democrática fosse uma enorme injustiça que lhe fizeram. Acredite que não é. Eu próprio já fui derrotado mais do que uma vez em eleições e não acho que isso seja nem uma injustiça, nem o fim do mundo.
Mas há ainda um outro acto dessa espécie de tragicomédia da Gondemaria que não posso ignorar, a presença instituicional da Assembleia Municipal e da Câmara Municipal, a dar cobertura a este teatrinho ridículo.
É bem sabido de todos qual é o partido da Presidente da Assembleia Municipal, mas mesmo assim é um bocado de mau gosto o discurso que fez a consolar o pobrezinho. Se o infeliz já se tinha martirizado, julgando ser uma triste vítima de uma injustiça, a senhora Presidente só o veio enterrar ainda mais: coitadinho, qualquer dia ainda se hão-de voltar para aquele que rejeitaram.
Mas ainda mais triste é que, para mim, nem a Presidente da Assembleia acredita nisso. Foram só palavras de circunstância que, no entanto, revelam duas coisas. Primeiro, dá a entender que a escolha democrática da população da Gondemaria foi uma má escolha e que se vão arrepender. Segundo, que não alimenta grande respeito nem simpatia pela nova equipa que o povo livremente escolheu.
Se fosse numa reunião do Partido ou numa sessão política, essas ideias estariam muito bem. Mas numa sessão pública, em representação oficial de um órgão democrático, parece-me que ficava bem um pouco mais de respeito pela democracia e pelo bom relacionamento entre instituições.
No fim de contas quem ali se apresentou com dignidade foi o Presidente da Câmara, honra lhe seja feita, que não faltou à consideração a ninguém e foi apenas, com toda a legitimidade, agradecer o trabalho e dedicação dos que se empenharam nas causas públicas em favor da população daquela freguesia. Subscrevo inteiramente.
Pela minha parte, é caso para deixar uma homenagem à dedicação e ao esforço de quantos trabalham pelo bem comum. Ao mesmo tempo que deixo o meu lamento por aqueles que têm tanta dificuldade em compreender que devem respeitar os não seguem o mesmo caminho que eles.
É normal nas eleições que apenas uma lista ganhe e as outras percam. Não é nenhuma desgraça perder uma votação justa, nem vem daí desonra nenhuma. É o que aconte a muitos milhares de candidatos.
Mas já é triste quando um candidato derrotado encena um pequeno drama por causa disso, como aconteceu na Gondemaria. O que ficava bem a todos era assumir com dignidade a escolha da população. O que pareceu muito mal foi uma cerimónia de inauguração completamente fora de prazo, um discurso a dizer bem de si próprio, e sobretudo uma pergunta dramática “o que é que não fez e poderia ter feito?”. Pois eu digo o que acho que não fez e poderia ter feito: poderia ter saído de cabeça erguida, sem passar a vergonha de mostrar a sua amargura num espectáculo público, como se fosse um menino enjeitado, como se esta derrota democrática fosse uma enorme injustiça que lhe fizeram. Acredite que não é. Eu próprio já fui derrotado mais do que uma vez em eleições e não acho que isso seja nem uma injustiça, nem o fim do mundo.
Mas há ainda um outro acto dessa espécie de tragicomédia da Gondemaria que não posso ignorar, a presença instituicional da Assembleia Municipal e da Câmara Municipal, a dar cobertura a este teatrinho ridículo.
É bem sabido de todos qual é o partido da Presidente da Assembleia Municipal, mas mesmo assim é um bocado de mau gosto o discurso que fez a consolar o pobrezinho. Se o infeliz já se tinha martirizado, julgando ser uma triste vítima de uma injustiça, a senhora Presidente só o veio enterrar ainda mais: coitadinho, qualquer dia ainda se hão-de voltar para aquele que rejeitaram.
Mas ainda mais triste é que, para mim, nem a Presidente da Assembleia acredita nisso. Foram só palavras de circunstância que, no entanto, revelam duas coisas. Primeiro, dá a entender que a escolha democrática da população da Gondemaria foi uma má escolha e que se vão arrepender. Segundo, que não alimenta grande respeito nem simpatia pela nova equipa que o povo livremente escolheu.
Se fosse numa reunião do Partido ou numa sessão política, essas ideias estariam muito bem. Mas numa sessão pública, em representação oficial de um órgão democrático, parece-me que ficava bem um pouco mais de respeito pela democracia e pelo bom relacionamento entre instituições.
No fim de contas quem ali se apresentou com dignidade foi o Presidente da Câmara, honra lhe seja feita, que não faltou à consideração a ninguém e foi apenas, com toda a legitimidade, agradecer o trabalho e dedicação dos que se empenharam nas causas públicas em favor da população daquela freguesia. Subscrevo inteiramente.
Pela minha parte, é caso para deixar uma homenagem à dedicação e ao esforço de quantos trabalham pelo bem comum. Ao mesmo tempo que deixo o meu lamento por aqueles que têm tanta dificuldade em compreender que devem respeitar os não seguem o mesmo caminho que eles.
A contas com o Tribunal
Notícias de Ourém, Novembro 2005
A Câmara de Ourém parece que anda com azar no que toca aos tribunais. Já tínhamos ouvido falar da ordem do Tribunal para demolir um prédio inteiro em Ourém, por licenciamento ilegal. Depois assistimos à novela do novo Intermarché, com o Tribunal a mandar parar as obras, por serem ilegais segundo o PDM. Agora sabemos que as obras de modificação no recém-inaugurado Estádio de Fátima foram consideradas também ilegais pelo Tribunal de Contas.
Ora, este caso do Estádio de Fátima para mim tem dois problemas, um político e outro legal. O problema político está em saber se aquele investimento era o mais urgente, ou se havia outros equipamentos mais necessários para a população do Concelho. Por mim, havia outros projectos prioritários. Mas o julgamento político foi feito nas eleições, e viu-se claramente que esta escolha agradou ao povo.
O problema legal é outro. Foi feito um projecto, executou-se a obra e, ainda mal tinha sido inaugurada, já se percebia que aquele projecto tinha de levar modificações. Primeiro foi a rega, porque descobriram que Fátima é um local com pouca água! Depois foi a falta de iluminação adequada. Só depois da obra pronta é que a Câmara reparou que, como Fátima é um local central, o estádio poderia servir para eventos nacionais e internacionais. Isso implica trasmissão de televisão, o que implica outro tipo de iluminação que não tinha sido previsto. Ninguém tinha pensado nisso. Provavelmente só repararam quando o Natureza Motor Club trouxe o mundial de Enduro para o Concelho de Ourém, pela mão do actual vereador Humberto Piedade.
A questão legal está aqui. Diz o Tribunal, com toda a razão, que antes de lançarem o concurso, deviam ter pensado bem o que queriam fazer. Não há nenhuma razão para autorizar agora este aumento de custos, uma derrapagem de 25% nas contas desta obra. Fátima já era um local seco antes do estádio, também já era um local central e as acessibilidades já existiam. Como não mudaram as condições iniciais, nada justifica que o projecto tenha agora de ser emendado. Nada justifica que se queira lá gastar ainda mais dinheiro. Nada justifica... a não ser a incapacidade de prever as necessidades, a incapacidade de projectar o futuro. Mas sobre essas faltas de visão, o tribunal não se pronuncia. Assuntos dessa natureza, quem os julga é a população, com os votos, nas eleições. E aí, para já, o julgamento já foi feito.
A Câmara de Ourém parece que anda com azar no que toca aos tribunais. Já tínhamos ouvido falar da ordem do Tribunal para demolir um prédio inteiro em Ourém, por licenciamento ilegal. Depois assistimos à novela do novo Intermarché, com o Tribunal a mandar parar as obras, por serem ilegais segundo o PDM. Agora sabemos que as obras de modificação no recém-inaugurado Estádio de Fátima foram consideradas também ilegais pelo Tribunal de Contas.
Ora, este caso do Estádio de Fátima para mim tem dois problemas, um político e outro legal. O problema político está em saber se aquele investimento era o mais urgente, ou se havia outros equipamentos mais necessários para a população do Concelho. Por mim, havia outros projectos prioritários. Mas o julgamento político foi feito nas eleições, e viu-se claramente que esta escolha agradou ao povo.
O problema legal é outro. Foi feito um projecto, executou-se a obra e, ainda mal tinha sido inaugurada, já se percebia que aquele projecto tinha de levar modificações. Primeiro foi a rega, porque descobriram que Fátima é um local com pouca água! Depois foi a falta de iluminação adequada. Só depois da obra pronta é que a Câmara reparou que, como Fátima é um local central, o estádio poderia servir para eventos nacionais e internacionais. Isso implica trasmissão de televisão, o que implica outro tipo de iluminação que não tinha sido previsto. Ninguém tinha pensado nisso. Provavelmente só repararam quando o Natureza Motor Club trouxe o mundial de Enduro para o Concelho de Ourém, pela mão do actual vereador Humberto Piedade.
A questão legal está aqui. Diz o Tribunal, com toda a razão, que antes de lançarem o concurso, deviam ter pensado bem o que queriam fazer. Não há nenhuma razão para autorizar agora este aumento de custos, uma derrapagem de 25% nas contas desta obra. Fátima já era um local seco antes do estádio, também já era um local central e as acessibilidades já existiam. Como não mudaram as condições iniciais, nada justifica que o projecto tenha agora de ser emendado. Nada justifica que se queira lá gastar ainda mais dinheiro. Nada justifica... a não ser a incapacidade de prever as necessidades, a incapacidade de projectar o futuro. Mas sobre essas faltas de visão, o tribunal não se pronuncia. Assuntos dessa natureza, quem os julga é a população, com os votos, nas eleições. E aí, para já, o julgamento já foi feito.
Campeonato de Escolas
Notícias de Ourém, Outubro 2005
Saiu no sábado passado em vários jornais o famoso “ranking” de escolas secundárias do país. E, como acontece todos os anos, se apontam falhas a este sistema de classificação. Em geral, acho que são bem fundadas todas essas críticas.
O ranking de escolas é uma lista que depende muito mais dos alunos e do que eles conseguem, do que da qualidade das escolas. Por isso, esta classificação, quando muito, deixa-nos saber onde andam os melhores alunos, mas não nos deixa saber onde estão os melhores professores nem as melhores práticas pedagógicas.
A lista do Expresso apresenta os resultados comparados com os anos anteriores e isso aumenta-nos a estranheza. A Escola Secundária de Ourém, por exemplo aparece agora na posição 114, enquanto há um ano estava na 241, e há dois anos estava em 254. Seria caso para perguntar a que se deve esta diferença de mais de 100 lugares. Mudaram os professores? Mudaram as técnicas de ensino? Foi feita alguma revolução interna? Eu penso que não. O CEF e o Colégio de S. Miguel também saltam posições de ano para ano, para cima e para baixo. E também não tiveram revoluções.
Depois há esta situação curiosa, a classificação do Expresso não bate certo com a classificação de outras publicações, como do Público, por exemplo. Vejam-se os números atribuídos por estes dois jornais: CEF – 62 / 102; Escola Secundária de Ourém 114 / 158; Colégio S. Miguel – 216 / 215. Estes números tão diferentes resultam dos critérios usados para fazer as contas. Enquanto o Público só conta 7 disciplinas, aparentemente o Expresso conta-as todas. Enquanto o Público classifica todas as escolas, o Expresso desconta as escolas pequenas. Enfim, há números para todos os gostos.
Mas não termina aqui a fragilidade deste ranking, que afinal não é um só. Em termos médios, a diferença de pontuação entre as três escolas secundárias do concelho é inferior a meio ponto, na escala de 1 a 20. Isto equivale a dizer que a nota média dos exames no CEF foi de 11,4 e na Secundária de Ourém foi 11, ou 10,6 no Colégio de S. Miguel (números do Público). É uma diferença bem mais pequena do que poderíamos pensar a partir da posição ocupada na lista.
No nosso pequeno exemplo do concelho de Ourém, nem se pode dizer, como alguns apressados podem concluir, que o ensino privado produz melhores resultados. Veja-se como a Secundária de Ourém ocupa lugar entre o CEF e o S. Miguel, com umas décimas de diferença para baixo ou para cima.
Salta à vista que estes rankings de escolas, com os seus resultados flutuantes e os critérios parciais, são um curioso passatempo para entreter o pessoal. Mas não passam disso mesmo e para serem coisa séria ainda têm muito que melhorar. Neste campeonato de meios pontos ainda ninguém está a ganhar.
Saiu no sábado passado em vários jornais o famoso “ranking” de escolas secundárias do país. E, como acontece todos os anos, se apontam falhas a este sistema de classificação. Em geral, acho que são bem fundadas todas essas críticas.
O ranking de escolas é uma lista que depende muito mais dos alunos e do que eles conseguem, do que da qualidade das escolas. Por isso, esta classificação, quando muito, deixa-nos saber onde andam os melhores alunos, mas não nos deixa saber onde estão os melhores professores nem as melhores práticas pedagógicas.
A lista do Expresso apresenta os resultados comparados com os anos anteriores e isso aumenta-nos a estranheza. A Escola Secundária de Ourém, por exemplo aparece agora na posição 114, enquanto há um ano estava na 241, e há dois anos estava em 254. Seria caso para perguntar a que se deve esta diferença de mais de 100 lugares. Mudaram os professores? Mudaram as técnicas de ensino? Foi feita alguma revolução interna? Eu penso que não. O CEF e o Colégio de S. Miguel também saltam posições de ano para ano, para cima e para baixo. E também não tiveram revoluções.
Depois há esta situação curiosa, a classificação do Expresso não bate certo com a classificação de outras publicações, como do Público, por exemplo. Vejam-se os números atribuídos por estes dois jornais: CEF – 62 / 102; Escola Secundária de Ourém 114 / 158; Colégio S. Miguel – 216 / 215. Estes números tão diferentes resultam dos critérios usados para fazer as contas. Enquanto o Público só conta 7 disciplinas, aparentemente o Expresso conta-as todas. Enquanto o Público classifica todas as escolas, o Expresso desconta as escolas pequenas. Enfim, há números para todos os gostos.
Mas não termina aqui a fragilidade deste ranking, que afinal não é um só. Em termos médios, a diferença de pontuação entre as três escolas secundárias do concelho é inferior a meio ponto, na escala de 1 a 20. Isto equivale a dizer que a nota média dos exames no CEF foi de 11,4 e na Secundária de Ourém foi 11, ou 10,6 no Colégio de S. Miguel (números do Público). É uma diferença bem mais pequena do que poderíamos pensar a partir da posição ocupada na lista.
No nosso pequeno exemplo do concelho de Ourém, nem se pode dizer, como alguns apressados podem concluir, que o ensino privado produz melhores resultados. Veja-se como a Secundária de Ourém ocupa lugar entre o CEF e o S. Miguel, com umas décimas de diferença para baixo ou para cima.
Salta à vista que estes rankings de escolas, com os seus resultados flutuantes e os critérios parciais, são um curioso passatempo para entreter o pessoal. Mas não passam disso mesmo e para serem coisa séria ainda têm muito que melhorar. Neste campeonato de meios pontos ainda ninguém está a ganhar.
Uma análise nua
Notícias de Ourém, Outubro 2005
A Coluna do Centro na semana passada brindou-nos com mais uma dúzia de citações, que muito agradecemos, embora nos deixem sempre perplexos, quando não percebemos bem qual a intenção. Eu, leitor atento (sim, também eu faço parte dessa multidão), fiquei intrigado especialmente com uma, tirada do Público, que dizia assim: “Pode-se saber mais sobre o pensamento de um político, ou ausência dele, através da sua colectânea de música, de poesia ou de contos, do que através de uma colecção dos seus discursos” (Faíza Hayat). E mais do que intrigado, fiquei curioso. Será que a Coluna do Centro escolheu esta citação a pensar numa certa entrevista que passou na ABC Rádio, em quinta-feira de campanha? Nela, o candidato entrevistado confessava que não tinha vagar (nem gosto) para ler e que não estava muito a par da música que se fazia. Se calhar a Coluna do Centro ouviu a entrevista e lembrou-se logo desta citação.
Mas mais importante do que isso, a Coluna deixou-nos o anúncio, a água na boca, direi mesmo, o aviso... de que nos vai, finalmente, trazer nua e crua toda a análise política das eleições. Das actuais e das futuras!
Face a este aviso, eu vejo-me obrigado a modificar um pouco as minhas intenções, para não copiar a ideia, nem aborrecer os leitores com um pouco de repetição. Em vez de uma análise nua e crua, terei de me limitar a uma simples opinião, devidamente vestida e mais ou menos cozinhada.
Pois bem, em minha opinião, infelizmente ganharam os do costume, aqueles que nunca fazem nada e só sabem é dizer mal. Mais uma vez, perde principalmente a democracia. Com mais de 14.000 cidadãos eleitores, 2.000 acima do partido mais votado, ganhou outra vez a abstenção. Ainda por cima subiu para o dobro o número de votos brancos e até os nulos aumentaram em muitas mesas eleitorais.
Tirando estes tristes resultados, parece que ninguém ganhou tudo o que esperava, mas todos ganharam algum motivo para celebrar. É a parte feliz da política.
Ganhou principalmente o PSD, com maioria em quase todo o lado. Deu para celebrar, apesar da frustração de não ter ganho na cidade de Ourém. Ganhou o PS, acrescentando duas Juntas e alguns mandatos nas Freguesias. Também deu para celebrar, principalmente na Gondemaria, mas com um sabor amargo de sonho desfeito, porque nem sequer ficou mais perto do objectivo principal, que era a Câmara Municipal. Ganhou a CDU um mandato na Assembleia Municipal e celebra o regresso de Sérgio Ribeiro às lides autárquicas. Até o CDS ganhou nas freguesias alguns mandatos aqui e além, aguentou-se na Assembleia Municipal, mas é o partido que menos motivos tem para festejar.
Vale a pena, suponho eu, recordar aqui agora a sondagem de Agosto, publicada no Notícias de Ourém. O PSD garantia 40% dos votos, mas teve realmente quase 50%; o PS não chegava aos 19%, mas ultrapassou os 33%; o CDS deveria ter abaixo dos 3%, mas chegou aos 8%; a CDU estava abaixo dos 2%, mas veio a conseguir quase 3%.
Olhando os mesmos dados, mas por outra perspectiva, lemos os erros da sondagem: PSD – 9,6%; PS – 14,7%; CDS – 5,6%; CDU – 1,2%. O total destes erros dá 31,1%, que é um pouco mais do que os 29,6% que ainda não tinham opinião formada no final do mês de Julho, quando foi feita a entrevista. Em pouco mais de dois meses, o partido que conseguiu convencer mais indecisos foi mesmo o PS. Aliás, é também o Partido Socialista que recupera mais terreno no número de mandatos desde 2001, embora ainda fique muito longe, um pouco mais longe da meta, ao aumentar para 3.760 a diferença de votos que o separam do PSD na luta pela Câmara.
Veremos agora como decorre o mandato. Há para já um motivo que nos deixa preocupados, a dívida da Câmara, que ultrapassa a meia dúzia de milhões de contos e que alguém terá que pagar. Esperamos que o Presidente consiga contrariar a tal citação de Faíza Hayat e mostre que tem mesmo um pensamento político, para resolver esta situação.
A Coluna do Centro na semana passada brindou-nos com mais uma dúzia de citações, que muito agradecemos, embora nos deixem sempre perplexos, quando não percebemos bem qual a intenção. Eu, leitor atento (sim, também eu faço parte dessa multidão), fiquei intrigado especialmente com uma, tirada do Público, que dizia assim: “Pode-se saber mais sobre o pensamento de um político, ou ausência dele, através da sua colectânea de música, de poesia ou de contos, do que através de uma colecção dos seus discursos” (Faíza Hayat). E mais do que intrigado, fiquei curioso. Será que a Coluna do Centro escolheu esta citação a pensar numa certa entrevista que passou na ABC Rádio, em quinta-feira de campanha? Nela, o candidato entrevistado confessava que não tinha vagar (nem gosto) para ler e que não estava muito a par da música que se fazia. Se calhar a Coluna do Centro ouviu a entrevista e lembrou-se logo desta citação.
Mas mais importante do que isso, a Coluna deixou-nos o anúncio, a água na boca, direi mesmo, o aviso... de que nos vai, finalmente, trazer nua e crua toda a análise política das eleições. Das actuais e das futuras!
Face a este aviso, eu vejo-me obrigado a modificar um pouco as minhas intenções, para não copiar a ideia, nem aborrecer os leitores com um pouco de repetição. Em vez de uma análise nua e crua, terei de me limitar a uma simples opinião, devidamente vestida e mais ou menos cozinhada.
Pois bem, em minha opinião, infelizmente ganharam os do costume, aqueles que nunca fazem nada e só sabem é dizer mal. Mais uma vez, perde principalmente a democracia. Com mais de 14.000 cidadãos eleitores, 2.000 acima do partido mais votado, ganhou outra vez a abstenção. Ainda por cima subiu para o dobro o número de votos brancos e até os nulos aumentaram em muitas mesas eleitorais.
Tirando estes tristes resultados, parece que ninguém ganhou tudo o que esperava, mas todos ganharam algum motivo para celebrar. É a parte feliz da política.
Ganhou principalmente o PSD, com maioria em quase todo o lado. Deu para celebrar, apesar da frustração de não ter ganho na cidade de Ourém. Ganhou o PS, acrescentando duas Juntas e alguns mandatos nas Freguesias. Também deu para celebrar, principalmente na Gondemaria, mas com um sabor amargo de sonho desfeito, porque nem sequer ficou mais perto do objectivo principal, que era a Câmara Municipal. Ganhou a CDU um mandato na Assembleia Municipal e celebra o regresso de Sérgio Ribeiro às lides autárquicas. Até o CDS ganhou nas freguesias alguns mandatos aqui e além, aguentou-se na Assembleia Municipal, mas é o partido que menos motivos tem para festejar.
Vale a pena, suponho eu, recordar aqui agora a sondagem de Agosto, publicada no Notícias de Ourém. O PSD garantia 40% dos votos, mas teve realmente quase 50%; o PS não chegava aos 19%, mas ultrapassou os 33%; o CDS deveria ter abaixo dos 3%, mas chegou aos 8%; a CDU estava abaixo dos 2%, mas veio a conseguir quase 3%.
Olhando os mesmos dados, mas por outra perspectiva, lemos os erros da sondagem: PSD – 9,6%; PS – 14,7%; CDS – 5,6%; CDU – 1,2%. O total destes erros dá 31,1%, que é um pouco mais do que os 29,6% que ainda não tinham opinião formada no final do mês de Julho, quando foi feita a entrevista. Em pouco mais de dois meses, o partido que conseguiu convencer mais indecisos foi mesmo o PS. Aliás, é também o Partido Socialista que recupera mais terreno no número de mandatos desde 2001, embora ainda fique muito longe, um pouco mais longe da meta, ao aumentar para 3.760 a diferença de votos que o separam do PSD na luta pela Câmara.
Veremos agora como decorre o mandato. Há para já um motivo que nos deixa preocupados, a dívida da Câmara, que ultrapassa a meia dúzia de milhões de contos e que alguém terá que pagar. Esperamos que o Presidente consiga contrariar a tal citação de Faíza Hayat e mostre que tem mesmo um pensamento político, para resolver esta situação.
Tenho cá as minhas razões
Notícias de Ourém, Outubro 2005
David Catarino, segundo li num jornal, respondeu aos comerciantes de Fátima que “as pessoas para se portarem bem é por medo ou por educação, e medo não têm nenhum, e educação ainda menos”. Supondo que o autor das palavras é uma pessoa e não um bicho, para se portar bem... só se for por medo, porque de educação estamos conversados, com uma resposta destas.
Alguns dos meus amigos são do PSD. Eu sou independente. E por vezes dizem-me os meus amigos que é um desperdício eu andar a gastar energias com coisas da oposição. As minhas qualidades eram melhor aproveitadas se eu me juntasse à maioria actual, porque assim, por mais valor que tenha, nunca há ocasião para lhe dar utilidade. Ế certamente por serem meus amigos que acham as minhas qualidades assim tão importantes. E só por gostarem tanto do seu partido é que ainda têm a ilusão. Os chefes do nosso concelho não estão a morrer de interesse para aproveitar o que eu valho. Até no partido deles há muita gente de valor, que não tem oportunidade. Eu ia ser só mais um, sem proveito, e sempre de bico calado.
São muitas as razões que me fazem recusar o amigável convite de me juntar ao barco deles.
Em primeiro lugar, pela democracia. Se não houver listas fortes, não há por onde escolher. O mais importante é dar ao povo alternativas para fazer renovação. Está à vista de todos que não se cumpre esse objectivo juntando-se aos que agora lá estão.
A minha segunda razão, pelas pessoas que vão nas listas. Por mais voltas que dê à cabeça, não consigo entender o que a Câmara anda a fazer. Quarenta milhões, a fazer excêntricos todos os quatro anos? As contas da Câmara de Ourém parecem o Euromilhões, um Euromilhões ao contrário, porque é todo feito de dívidas. Quarenta milhões de euros de dívidas no final do mês de Agosto. E foram gastos em quê? Olhamos para os cartazes, é fácil de perceber. Jardins, estádios, piscinas, tudo certo, tudo bom. Vivemos todos à grande, e isso é o que o povo quer. Deve-se dinheiro aos pacotes, mas acham que está tudo bem. O progresso é assim mesmo. Um PDM cheio de erros? Isso para muitos não importa, votam todos a favor. Passam licenças ilegais? Não há problema nenhum, se não for a tribunal. Com o Intermarché parado, e um prédio em Ourém para ser deitado abaixo, por ordem de tribunal, acham que está bem assim. Mas para mim não está certo, recuso-me a perceber.
Em terceiro lugar, por causa da corrupção. Sabe muita gente, e os responsáveis da Câmara sabem melhor do que eu, que não há nenhum caso desses no nosso concelho. Por isso, não percebo porque é que os dirigentes da câmara não acabam com essas afirmações falsas e não dão garantias sérias que não há cá nada disso. Se, por exemplo, alguém achar que é mais prático pagar um suborno do que andar a caminhar para Ourém para fazer tudo legal, tem de ser contrariado e tem de se lhe mostrar que isso é tudo mentira e que está bem enganado. Coisas destas, para mim, não estão certas e recuso-me a entender.
Podem achar que me falta sentido prático. Alguns acham que estas coisas nunca se hão-de mudar. Mas eu não concordo, nem quero compreender. Para bem da democracia e do bom governo para todos, acredito na alternativa e tenho a certeza de que a mudança tem mesmo de acontecer. Onde eu agora combato, encontro mais democracia, encontro renovação, encontro gente competente, ideias de qualidade e vontade de transparência.
Mesmo respeitando as opções de alguns amigos que me questionam, na situação actual não os posso acompanhar.
David Catarino, segundo li num jornal, respondeu aos comerciantes de Fátima que “as pessoas para se portarem bem é por medo ou por educação, e medo não têm nenhum, e educação ainda menos”. Supondo que o autor das palavras é uma pessoa e não um bicho, para se portar bem... só se for por medo, porque de educação estamos conversados, com uma resposta destas.
Alguns dos meus amigos são do PSD. Eu sou independente. E por vezes dizem-me os meus amigos que é um desperdício eu andar a gastar energias com coisas da oposição. As minhas qualidades eram melhor aproveitadas se eu me juntasse à maioria actual, porque assim, por mais valor que tenha, nunca há ocasião para lhe dar utilidade. Ế certamente por serem meus amigos que acham as minhas qualidades assim tão importantes. E só por gostarem tanto do seu partido é que ainda têm a ilusão. Os chefes do nosso concelho não estão a morrer de interesse para aproveitar o que eu valho. Até no partido deles há muita gente de valor, que não tem oportunidade. Eu ia ser só mais um, sem proveito, e sempre de bico calado.
São muitas as razões que me fazem recusar o amigável convite de me juntar ao barco deles.
Em primeiro lugar, pela democracia. Se não houver listas fortes, não há por onde escolher. O mais importante é dar ao povo alternativas para fazer renovação. Está à vista de todos que não se cumpre esse objectivo juntando-se aos que agora lá estão.
A minha segunda razão, pelas pessoas que vão nas listas. Por mais voltas que dê à cabeça, não consigo entender o que a Câmara anda a fazer. Quarenta milhões, a fazer excêntricos todos os quatro anos? As contas da Câmara de Ourém parecem o Euromilhões, um Euromilhões ao contrário, porque é todo feito de dívidas. Quarenta milhões de euros de dívidas no final do mês de Agosto. E foram gastos em quê? Olhamos para os cartazes, é fácil de perceber. Jardins, estádios, piscinas, tudo certo, tudo bom. Vivemos todos à grande, e isso é o que o povo quer. Deve-se dinheiro aos pacotes, mas acham que está tudo bem. O progresso é assim mesmo. Um PDM cheio de erros? Isso para muitos não importa, votam todos a favor. Passam licenças ilegais? Não há problema nenhum, se não for a tribunal. Com o Intermarché parado, e um prédio em Ourém para ser deitado abaixo, por ordem de tribunal, acham que está bem assim. Mas para mim não está certo, recuso-me a perceber.
Em terceiro lugar, por causa da corrupção. Sabe muita gente, e os responsáveis da Câmara sabem melhor do que eu, que não há nenhum caso desses no nosso concelho. Por isso, não percebo porque é que os dirigentes da câmara não acabam com essas afirmações falsas e não dão garantias sérias que não há cá nada disso. Se, por exemplo, alguém achar que é mais prático pagar um suborno do que andar a caminhar para Ourém para fazer tudo legal, tem de ser contrariado e tem de se lhe mostrar que isso é tudo mentira e que está bem enganado. Coisas destas, para mim, não estão certas e recuso-me a entender.
Podem achar que me falta sentido prático. Alguns acham que estas coisas nunca se hão-de mudar. Mas eu não concordo, nem quero compreender. Para bem da democracia e do bom governo para todos, acredito na alternativa e tenho a certeza de que a mudança tem mesmo de acontecer. Onde eu agora combato, encontro mais democracia, encontro renovação, encontro gente competente, ideias de qualidade e vontade de transparência.
Mesmo respeitando as opções de alguns amigos que me questionam, na situação actual não os posso acompanhar.
O estádio e as escolas
Notícias de Ourém, Setembro 2005
O concelho de Ourém tem um estádio de futebol, mas faltam salas de aula nas escolas de primeiro ciclo.
Na febre da construção de estádios para o Euro 2004, os dirigentes da Câmara de Ourém não quiseram ficar em pouco. Eles decidiram fazer um estádio em Fátima. Como eles escreveram nos cartazes, feito “a pensar em si”.
Ao mesmo tempo, por acaso também em Fátima, os meninos do primeiro ciclo não podem ficar o tempo necessário na escola, porque não há salas de aula.
Para este ano lectivo, o alargamento do horário escolar devia ocupar todos os alunos até às 17:30 horas. E durante esse tempo, entre outras actividades, deviam aprender Inglês. É o que deve acontecer por todo o país. Mas os meninos da cidade de Fátima não vão ser iguais aos outros meninos: uns ficam na escola de manhã, outros ficam lá de tarde.
Porque em Fátima há um estádio, mas faltam escolas e não há lugar para todos.
Na escola de Boleiros, segundo lemos num jornal, há um pré-fabricado muito velho, onde os meninos tinham aulas. Os dirigentes da escola e os pais, na falta de uma solução definitiva, aceitaram a oferta do Centro de Dia, que emprestou uma sala para lá poderem aprender. Um ano depois, à falta de novas soluções da parte da Câmara, queriam assinar um protocolo para as aulas lá continuarem, para não terem de voltar para o barracão. Mas o vereador João Moura não aceita, porque acha que o Centro de Dia quer é que a Câmara pague a luz e o aquecimento da sala. Mas, senhor Vereador, afinal não é essa a obrigação da Câmara? Então o Centro de Dia empresta a sala e ainda tem de pagar os custos da utilização? A obrigação da Câmara não é só pagar a luz e o aquecimento. A obrigação da Câmara é muito maior, é criar condições dignas para os alunos aprenderem, sem ser em salas emprestadas.
É uma triste mentalidade de quem dirige este Concelho. Houve 700 mil contos para um estádio, e a factura promete crescer, mas contam-se os tostões para as escolas. Se esse dinheiro fosse distribuído por 7 escolas primárias de Fátima, dava 100 mil contos a cada uma. Podiam arrasar o que está feito e construí-las todas de novo, já com condições de luxo.
Mas isto é o que se passa em Fátima, como exemplo. Por todo o concelho, faltam creches, Jardins de Infância, há escolas sem condições, transportes escolares sem qualidade, problemas de segurança no exterior das escolas, alunos que não participam em actividades por falta de transporte para distâncias de 4 ou 5 quilómetros.
Há muitos anos que se sabe o que falta nas escolas do concelho. Só que para a Câmara o mais importante do mundo era investir no futebol. Há dinheiro para coisas secundárias mas falta para o principal.
Talvez um estádio seja um sinal de progresso, num país que já tem tantos. Mas acredite que melhorar a rede de escolas é uma escolha prioritária. Claro que agora, quando já se atingiu o limite, também o PSD diz que defende prioridade à educação. Mas há anos que é sempre igual.
Nos próximos quatro anos, que mais nos prometem agora? Agora, além de um estádio de futebol, querem um campo de Golfe situado em Caxarias. E cá temos mais do mesmo. O dinheiro há-de aparecer. Provavelmente do mesmo lugar de onde tem vindo, de empréstimos bancários que levam dezenas de anos a pagar, e esticam até ao máximo legal o valor das dívidas da Câmara. Se continuarmos assim, não sei onde vamos parar.
O concelho de Ourém tem um estádio de futebol, mas faltam salas de aula nas escolas de primeiro ciclo.
Na febre da construção de estádios para o Euro 2004, os dirigentes da Câmara de Ourém não quiseram ficar em pouco. Eles decidiram fazer um estádio em Fátima. Como eles escreveram nos cartazes, feito “a pensar em si”.
Ao mesmo tempo, por acaso também em Fátima, os meninos do primeiro ciclo não podem ficar o tempo necessário na escola, porque não há salas de aula.
Para este ano lectivo, o alargamento do horário escolar devia ocupar todos os alunos até às 17:30 horas. E durante esse tempo, entre outras actividades, deviam aprender Inglês. É o que deve acontecer por todo o país. Mas os meninos da cidade de Fátima não vão ser iguais aos outros meninos: uns ficam na escola de manhã, outros ficam lá de tarde.
Porque em Fátima há um estádio, mas faltam escolas e não há lugar para todos.
Na escola de Boleiros, segundo lemos num jornal, há um pré-fabricado muito velho, onde os meninos tinham aulas. Os dirigentes da escola e os pais, na falta de uma solução definitiva, aceitaram a oferta do Centro de Dia, que emprestou uma sala para lá poderem aprender. Um ano depois, à falta de novas soluções da parte da Câmara, queriam assinar um protocolo para as aulas lá continuarem, para não terem de voltar para o barracão. Mas o vereador João Moura não aceita, porque acha que o Centro de Dia quer é que a Câmara pague a luz e o aquecimento da sala. Mas, senhor Vereador, afinal não é essa a obrigação da Câmara? Então o Centro de Dia empresta a sala e ainda tem de pagar os custos da utilização? A obrigação da Câmara não é só pagar a luz e o aquecimento. A obrigação da Câmara é muito maior, é criar condições dignas para os alunos aprenderem, sem ser em salas emprestadas.
É uma triste mentalidade de quem dirige este Concelho. Houve 700 mil contos para um estádio, e a factura promete crescer, mas contam-se os tostões para as escolas. Se esse dinheiro fosse distribuído por 7 escolas primárias de Fátima, dava 100 mil contos a cada uma. Podiam arrasar o que está feito e construí-las todas de novo, já com condições de luxo.
Mas isto é o que se passa em Fátima, como exemplo. Por todo o concelho, faltam creches, Jardins de Infância, há escolas sem condições, transportes escolares sem qualidade, problemas de segurança no exterior das escolas, alunos que não participam em actividades por falta de transporte para distâncias de 4 ou 5 quilómetros.
Há muitos anos que se sabe o que falta nas escolas do concelho. Só que para a Câmara o mais importante do mundo era investir no futebol. Há dinheiro para coisas secundárias mas falta para o principal.
Talvez um estádio seja um sinal de progresso, num país que já tem tantos. Mas acredite que melhorar a rede de escolas é uma escolha prioritária. Claro que agora, quando já se atingiu o limite, também o PSD diz que defende prioridade à educação. Mas há anos que é sempre igual.
Nos próximos quatro anos, que mais nos prometem agora? Agora, além de um estádio de futebol, querem um campo de Golfe situado em Caxarias. E cá temos mais do mesmo. O dinheiro há-de aparecer. Provavelmente do mesmo lugar de onde tem vindo, de empréstimos bancários que levam dezenas de anos a pagar, e esticam até ao máximo legal o valor das dívidas da Câmara. Se continuarmos assim, não sei onde vamos parar.
A grande diferença
Notícias de Ourém, Setembro 2005
São muitos os pontos comuns entre o programa do PS e o programa do PSD para as eleições de Outubro. O Notícias de Ourém fez-nos um resumo, e descobrimos que, da revisão do PDM até aos investimentos no ensino, muita coisa é quase igual. Não é de estranhar, uma vez que há problemas tão evidentes no nosso concelho, que não é possível fugir-lhes. Mesmo para quem os não resolveu ao longo de vários mandatos sucessivos, enquanto algumas obras secundárias ganhavam protagonismo: temos um Centro de Negócios, mas faltam escolas; temos um grande estádio, mas faltam vias rápidas a atravessar o concelho.
Mas também há pontos em que as opiniões são absolutamente contrárias: sobre a necessidade de um campo de Golfe, sobre o modelo do novo edifício para a Câmara, e outros.
Mas o que realmente faz toda a diferença entre PS e PSD em Ourém, pode resumir-se numa letra: é o D.
D de Dinastia. No tempo da realeza e dos poderosos distantes do povo, o poder passava de geração em geração dentro da mesma família, eram as dinastias. Desse D Ourém tem já bastante.
D de discriminação. Discriminados são aqueles que são tratados com menos consideração do que aquela que merecem. É o que em Ourém acontece às mulheres nas listas do maior partido. Na lista do PSD para a Câmara, todos os efectivos são homens, e na lista para a Assembleia Municipal, a professora Deolinda segue praticamente isolada nos quinze primeiros lugares.
D de desorganização. Desorganização é tantas vezes o que sente o cidadão que se dirige à Câmara para tratar dos seus problemas e tem de andar para trás e para a frente, com um papel num dia, mais uma certidão no outro. Sobre isto ainda não vi referências no programa do PSD. Provavelmente entendem que está tudo bem como está.
Enfim, é realmente o D que faz toda a diferença entre os dois maiores partidos do concelho.
Mas há um D que me entristece particularmente, o D do despudor, da falta de consideração pelas vítimas dos incêndios, da parte de uma lista que quer aproveitar a miséria dos outros para animar a sua campanha eleitoral.
O PSD anunciou que vai aproveitar uma angariação de fundos para as vítimas dos incêndios como forma de animar os seus jantares de campanha. E assim, por trás de uma esmola, que deveria ser dada discretamente, se escondem objectivos que nunca se deviam ligar à desgraça e à aflição que muitos passaram.
Se os políticos do PSD querem ajudar as vítimas, não têm já os meios para o fazer, enquanto dirigem a Câmara? Se o seu interesse é dar esmola, não o podem fazer discretamente, sem seguirem o exemplo dos fariseus da parábola bíblica? Se querem resolver os problemas das pessoas, não podem simplesmente pôr as autarquias a prestar esclarecimentos, para garantir que os apoios do Estado chegam a quem precisa?
Mas aqui no nosso concelho juntam o útil ao agradável, querem proclamar que ajudam as pessoas para ficarem bonitos na fotografia. É um jogo muito perigoso, onde eu não gostava de estar envolvido.
Porque, pergunto eu, como é que se fará a distinção na contabilidade da campanha? Esses dinheiros contam como receitas ou entram “ao negro”? Quem garante que não há misturas entre o dinheiro da campanha e o dinheiro das esmolas? Quem fiscaliza o montante dos donativos? Quem verifica com que critérios vão ser distribuídos? Haverá um regulamento que oriente a atribuição do dinheiro? Haverá prestação pública de contas? E quem pagará afinal os jantares, se o dinheiro entregue for para as vítimas? O custo de cada jantar será suportado pelo partido? E as pessoas que forem a esses jantares, estarão presentes pelo partido, ou irão pelo apoio às vítimas?
Apoiar os que precisam é verdadeiramente um gesto nobre. Fazer disso um espectáculo de campanha não honra quem dá, nem quem recebe.
Acredito que está aqui uma diferença fundamental que separa todos os partidos que se apresentam em Ourém às eleições. É uma diferença de atitude. Quem está no poder há muito tempo corre o risco de começar a confundir as coisas e a misturar aquilo que, por decência, devia estar sempre bem separado.
São muitos os pontos comuns entre o programa do PS e o programa do PSD para as eleições de Outubro. O Notícias de Ourém fez-nos um resumo, e descobrimos que, da revisão do PDM até aos investimentos no ensino, muita coisa é quase igual. Não é de estranhar, uma vez que há problemas tão evidentes no nosso concelho, que não é possível fugir-lhes. Mesmo para quem os não resolveu ao longo de vários mandatos sucessivos, enquanto algumas obras secundárias ganhavam protagonismo: temos um Centro de Negócios, mas faltam escolas; temos um grande estádio, mas faltam vias rápidas a atravessar o concelho.
Mas também há pontos em que as opiniões são absolutamente contrárias: sobre a necessidade de um campo de Golfe, sobre o modelo do novo edifício para a Câmara, e outros.
Mas o que realmente faz toda a diferença entre PS e PSD em Ourém, pode resumir-se numa letra: é o D.
D de Dinastia. No tempo da realeza e dos poderosos distantes do povo, o poder passava de geração em geração dentro da mesma família, eram as dinastias. Desse D Ourém tem já bastante.
D de discriminação. Discriminados são aqueles que são tratados com menos consideração do que aquela que merecem. É o que em Ourém acontece às mulheres nas listas do maior partido. Na lista do PSD para a Câmara, todos os efectivos são homens, e na lista para a Assembleia Municipal, a professora Deolinda segue praticamente isolada nos quinze primeiros lugares.
D de desorganização. Desorganização é tantas vezes o que sente o cidadão que se dirige à Câmara para tratar dos seus problemas e tem de andar para trás e para a frente, com um papel num dia, mais uma certidão no outro. Sobre isto ainda não vi referências no programa do PSD. Provavelmente entendem que está tudo bem como está.
Enfim, é realmente o D que faz toda a diferença entre os dois maiores partidos do concelho.
Mas há um D que me entristece particularmente, o D do despudor, da falta de consideração pelas vítimas dos incêndios, da parte de uma lista que quer aproveitar a miséria dos outros para animar a sua campanha eleitoral.
O PSD anunciou que vai aproveitar uma angariação de fundos para as vítimas dos incêndios como forma de animar os seus jantares de campanha. E assim, por trás de uma esmola, que deveria ser dada discretamente, se escondem objectivos que nunca se deviam ligar à desgraça e à aflição que muitos passaram.
Se os políticos do PSD querem ajudar as vítimas, não têm já os meios para o fazer, enquanto dirigem a Câmara? Se o seu interesse é dar esmola, não o podem fazer discretamente, sem seguirem o exemplo dos fariseus da parábola bíblica? Se querem resolver os problemas das pessoas, não podem simplesmente pôr as autarquias a prestar esclarecimentos, para garantir que os apoios do Estado chegam a quem precisa?
Mas aqui no nosso concelho juntam o útil ao agradável, querem proclamar que ajudam as pessoas para ficarem bonitos na fotografia. É um jogo muito perigoso, onde eu não gostava de estar envolvido.
Porque, pergunto eu, como é que se fará a distinção na contabilidade da campanha? Esses dinheiros contam como receitas ou entram “ao negro”? Quem garante que não há misturas entre o dinheiro da campanha e o dinheiro das esmolas? Quem fiscaliza o montante dos donativos? Quem verifica com que critérios vão ser distribuídos? Haverá um regulamento que oriente a atribuição do dinheiro? Haverá prestação pública de contas? E quem pagará afinal os jantares, se o dinheiro entregue for para as vítimas? O custo de cada jantar será suportado pelo partido? E as pessoas que forem a esses jantares, estarão presentes pelo partido, ou irão pelo apoio às vítimas?
Apoiar os que precisam é verdadeiramente um gesto nobre. Fazer disso um espectáculo de campanha não honra quem dá, nem quem recebe.
Acredito que está aqui uma diferença fundamental que separa todos os partidos que se apresentam em Ourém às eleições. É uma diferença de atitude. Quem está no poder há muito tempo corre o risco de começar a confundir as coisas e a misturar aquilo que, por decência, devia estar sempre bem separado.
Os donos de tudo
Notícias de Ourém, Setembro 2005
A solução do Dr. Catarino para os fogos de Verão é passar para a Câmara os direitos sobre os terrenos abandonados, para a autarquia os limpar. A solução ideal, por estas ideias, era serem os donos de tudo. Se ainda estivéssemos em 1975 e o Dr. Catarino fosse um comunista, chamava-se a isso Reforma Agrária. Mas como o Presidente da Câmara não é comunista, foi buscar o exemplo da Lei das Sesmarias, que também é do ano de 75, mas muito mais antigo, de 1375. Segundo esta lei, quem não amanhasse a terra ficava sem ela. É uma lei tão velha, que foi inventada ainda antes de se inventar a Reforma Agrária, antes de se inventarem os comunistas e antes de estarem na moda os Presidentes de Câmara.
Ora, além de ser uma lei muito velha, que já não serve de exemplo para o nosso tempo, o rei D. Fernando, que a publicou, também não é grande modelo para quem quer bem governar. Ficou conhecido como “o belo”, provavelmente porque não tinha mais nenhuma qualidade de interesse. Perdeu praticamente todas as batalhas em se meteu. Mandou a própria esposa dar uma curva, para poder casar com a mulher de outro, a célebre Leonor Teles, que foi depois amante do Conde de Ourém, o Conde Andeiro. Tudo contra a vontade do povo. E, para maior desgraça, teve um triste fim, deixou o reino de Portugal na miséria e às portas de uma guerra civil. Quem nos salvou foi o Mestre de Avis, D. João I, e outro Conde de Ourém, o D. Nuno Álvares Pereira. Da batalha de Aljubarrota já todos ouviram falar, foi aí que tudo se resolveu.
Com exemplos tão tristes, não admira que a proposta do Dr. Catarino para uma espécie de nova reforma agrária das florestas seja tão infeliz.
Supondo que a tal lei existia e que a Câmara podia fazer a limpeza dos terrenos contra a vontade dos donos, supondo que na Câmara eram mesmo os donos de tudo, não me parece nada fácil as Empresas Municipais manterem todos os pinhais do concelho limpos. Fazendo as contas nem que seja só a uma décima parte do concelho, vemos que dá mais ou menos duas freguesias inteiras. Se uma décima parte da nossa floresta ficasse por limpar, é evidente que a Câmara não tinha capacidade de dar conta do recado. Se já é o cabo dos trabalhos para dar conta das bermas das estradas, o que não seria com essa quantidade de pinhais! Mas se todos colaborassem, isso já era outra conversa. O que só prova que não se governa bem contra as pessoas, mas sim colaborando com as pessoas.
Quem vem pedir uma lei deste tipo, a retirar direitos ao povo para os concentrar na Câmara, ou é porque sentiu a tentação do poder absoluto, ou porque quer arranjar uma desculpa para o que correu mal, ou porque não tem muito jeito para negociar e conseguir as mesmas coisas a bem, falando com as pessoas.
Porque se houvesse mesmo vontade de lançar mãos à obra, se houvesse na autarquia capacidade de orientar um trabalho bem feito, não faltariam proprietários dispostos a autorizar e até mesmo colaborar na limpeza das suas florestas, na defesa do que é seu.
Acredito que muitas vezes não é por gastar muito dinheiro que se encontram as melhores soluções, é principalmente por se usar bem a cabeça que chegamos aos grandes resultados.
O que muita vez falta às pessoas é informação, apoio e liderança, para não trabalhar cada um para seu lado. Se a Câmara puder fornecer isso na limpeza das florestas, sem grande investimento, consegue já um grande benefício para todo o nosso Concelho.
A solução do Dr. Catarino para os fogos de Verão é passar para a Câmara os direitos sobre os terrenos abandonados, para a autarquia os limpar. A solução ideal, por estas ideias, era serem os donos de tudo. Se ainda estivéssemos em 1975 e o Dr. Catarino fosse um comunista, chamava-se a isso Reforma Agrária. Mas como o Presidente da Câmara não é comunista, foi buscar o exemplo da Lei das Sesmarias, que também é do ano de 75, mas muito mais antigo, de 1375. Segundo esta lei, quem não amanhasse a terra ficava sem ela. É uma lei tão velha, que foi inventada ainda antes de se inventar a Reforma Agrária, antes de se inventarem os comunistas e antes de estarem na moda os Presidentes de Câmara.
Ora, além de ser uma lei muito velha, que já não serve de exemplo para o nosso tempo, o rei D. Fernando, que a publicou, também não é grande modelo para quem quer bem governar. Ficou conhecido como “o belo”, provavelmente porque não tinha mais nenhuma qualidade de interesse. Perdeu praticamente todas as batalhas em se meteu. Mandou a própria esposa dar uma curva, para poder casar com a mulher de outro, a célebre Leonor Teles, que foi depois amante do Conde de Ourém, o Conde Andeiro. Tudo contra a vontade do povo. E, para maior desgraça, teve um triste fim, deixou o reino de Portugal na miséria e às portas de uma guerra civil. Quem nos salvou foi o Mestre de Avis, D. João I, e outro Conde de Ourém, o D. Nuno Álvares Pereira. Da batalha de Aljubarrota já todos ouviram falar, foi aí que tudo se resolveu.
Com exemplos tão tristes, não admira que a proposta do Dr. Catarino para uma espécie de nova reforma agrária das florestas seja tão infeliz.
Supondo que a tal lei existia e que a Câmara podia fazer a limpeza dos terrenos contra a vontade dos donos, supondo que na Câmara eram mesmo os donos de tudo, não me parece nada fácil as Empresas Municipais manterem todos os pinhais do concelho limpos. Fazendo as contas nem que seja só a uma décima parte do concelho, vemos que dá mais ou menos duas freguesias inteiras. Se uma décima parte da nossa floresta ficasse por limpar, é evidente que a Câmara não tinha capacidade de dar conta do recado. Se já é o cabo dos trabalhos para dar conta das bermas das estradas, o que não seria com essa quantidade de pinhais! Mas se todos colaborassem, isso já era outra conversa. O que só prova que não se governa bem contra as pessoas, mas sim colaborando com as pessoas.
Quem vem pedir uma lei deste tipo, a retirar direitos ao povo para os concentrar na Câmara, ou é porque sentiu a tentação do poder absoluto, ou porque quer arranjar uma desculpa para o que correu mal, ou porque não tem muito jeito para negociar e conseguir as mesmas coisas a bem, falando com as pessoas.
Porque se houvesse mesmo vontade de lançar mãos à obra, se houvesse na autarquia capacidade de orientar um trabalho bem feito, não faltariam proprietários dispostos a autorizar e até mesmo colaborar na limpeza das suas florestas, na defesa do que é seu.
Acredito que muitas vezes não é por gastar muito dinheiro que se encontram as melhores soluções, é principalmente por se usar bem a cabeça que chegamos aos grandes resultados.
O que muita vez falta às pessoas é informação, apoio e liderança, para não trabalhar cada um para seu lado. Se a Câmara puder fornecer isso na limpeza das florestas, sem grande investimento, consegue já um grande benefício para todo o nosso Concelho.
Já Falta Pouco
Notícias de Ourém, Agosto 2005
Conhecem a história “O rei vai nu”? O caso de que quero falar hoje tem tudo a ver com essa história.
Na entrada de Ourém, vindo de Fátima, onde deveria ficar o Internarché, lá está a promessa que parece sem ter fim: “já falta pouco”. Parece um novelo que não dá para desatar. Autorização, desautorização, obras, paragem, interesse público, interesse privado, mudar o PDM, suspender o PDM, fazer um Plano novo. Já nem sei quantas foram as soluções que a Câmara tentou para emendar o que autorizou, segundo consta, fora da lei. Mas agora diz-se no jornal que há outra solução, engenhosa e definitiva, que vai resolver tudo em pouco tempo. A Câmara vai pedir uma rectificação nos mapas do PDM, porque se enganaram a fazer o desenho. O sítio do novo Intermarché devia estar marcado como sendo zona urbana e não como reserva. Que genial, não sei como só agora é que repararam!
É aqui que entra a tal história do rei que vai nu. Passou-se há muito tempo com um rei que gostava de se vestir muito bem. Se nos formos a guiar pela Bíblia, parece que o rei mais bem vestido era Salomão. Mas como o rei Salomão era um tipo bastante inteligente e esta história é um bocado tonta, o mais certo é ser outro o rei deste conto. Se calhar era o pai dele, o rei David.
O tal rei da nossa história estava a engordar e já nenhum fato lhe servia. Por isso, ele chamava todos os meses os alfaiates para lhe fazerem um fato novo. Por azar, cada novo fato durava pouco tempo, porque o rei continuava a engordar. Até que chegaram ao reino uns mercadores muito espertos, que souberam do caso, e apresentaram-se diante do rei para lhe propor uma solução. Eles iam fazer um fato que se adaptava perfeitamente ao problema do rei, porque esticava e encolhia conforme a necessidade. O rei ficou encantado e deu ordens para que nada faltasse a tão inteligentes inventores.
Assim, durante meses os mercadores comeram e beberam, à conta do orçamento, do bom e do melhor. E iam pedindo tecidos e ouro para fazer a sua obra. Mas sempre que o rei queria ver o andamento dos trabalhos, eles arranjavam mil desculpas e diziam que só depois de pronto é que se podia ver o real valor do que eles estavam a preparar. Depois de muito consumir, e de viver muito bem à custa do rei, deram a obra por pronta e trouxeram-na para o rei a experimentar. Mas, como não tinham feito coisa nenhuma, convenceram o rei de que era uma peça de roupa tão delicada que os olhos dos tontos não a iam conseguir ver. O rei não via absolutamente nada, mas com receio de que o tomassem por tonto, disse logo que era uma veste magnífica e mandou pagar principescamente aos mercadores. E todos no reino, para não serem chamados tontos, fingiam que viam a roupa que não existia.
Quando o rei apareceu em público, a notícia já se tinha espalhado e ninguém queria ser considerado tonto, por isso todos aplaudiam. Até que um rapaz começou a gritar “o rei vai nu!”, e todos perderam a vergonha de dizer a verdade, que todos viam e que ninguém queria aceitar. Todos gritaram então: “o rei vai nu”! Fim da história, o rei fugiu com vergonha.
Nos nossos dias já não temos rei na nossa terra. Temos é um Presidente da Câmara, que por acaso também se chama David. Não são os mercadores que andam a consumir o orçamento para fazer uma roupa para o rei, mas temos as empresas de consultores que fazem estudos para a Câmara e dão conselhos a preços incríveis, para depois termos o mesmo resultado, que “o rei vai nu”. Isto é, passam meses a viver do orçamento e chega-se ao fim e apresentam qualquer coisa que não tem sentido nenhum, mas é paga a peso de ouro.
A mim parece-me que é agora o caso, com esta nova proposta de pedir para emendar os mapas, porque se enganaram a pintá-los. Mas será que, honestamente, alguém na Câmara acredita que vai resolver o problema do Intermarché pedindo para emendar um mapa, porque se enganaram a pintar a cor de um bocadinho de terreno? Assobiamos todos para o ar e fingimos que a gralha tipográfica passou despercebida a todos os técnicos que durante anos fizeram os estudos? Que passou despercebida a todos os políticos que estudaram o projecto antes de o aprovarem? Que passou despercebida aos outros técnicos que usaram esse mapa para emitir a licença de construção que depois retiraram? Alguém, honestamente, acredita que ao fim de anos e de rios de tinta, de intervenções do tribunal, de debates de políticos e especialistas, que afinal a questão se resume a pedir licença para mudar a cor daquele bocadinho de terreno, no mapa oficial do PDM? E será que isso também se aplica noutros casos? É que pode haver mais algum particular que tenha um terreno marcado, por engano, com a cor errada!
Desculpem lá, mas por mim, prefiro que todos me achem tonto, como na história do rei, para poder dizer que “o rei vai nu” e que, honestamente, acredito que é uma parvoice o que os especialistas descobriram com mais esta invenção.
Afinal quanto tempo mais vamos assistir a esta brincadeira? Só espero que seja verdade o que lá está escrito, na saída de Ourém em direcção a Fátima: “já falta pouco”.
Conhecem a história “O rei vai nu”? O caso de que quero falar hoje tem tudo a ver com essa história.
Na entrada de Ourém, vindo de Fátima, onde deveria ficar o Internarché, lá está a promessa que parece sem ter fim: “já falta pouco”. Parece um novelo que não dá para desatar. Autorização, desautorização, obras, paragem, interesse público, interesse privado, mudar o PDM, suspender o PDM, fazer um Plano novo. Já nem sei quantas foram as soluções que a Câmara tentou para emendar o que autorizou, segundo consta, fora da lei. Mas agora diz-se no jornal que há outra solução, engenhosa e definitiva, que vai resolver tudo em pouco tempo. A Câmara vai pedir uma rectificação nos mapas do PDM, porque se enganaram a fazer o desenho. O sítio do novo Intermarché devia estar marcado como sendo zona urbana e não como reserva. Que genial, não sei como só agora é que repararam!
É aqui que entra a tal história do rei que vai nu. Passou-se há muito tempo com um rei que gostava de se vestir muito bem. Se nos formos a guiar pela Bíblia, parece que o rei mais bem vestido era Salomão. Mas como o rei Salomão era um tipo bastante inteligente e esta história é um bocado tonta, o mais certo é ser outro o rei deste conto. Se calhar era o pai dele, o rei David.
O tal rei da nossa história estava a engordar e já nenhum fato lhe servia. Por isso, ele chamava todos os meses os alfaiates para lhe fazerem um fato novo. Por azar, cada novo fato durava pouco tempo, porque o rei continuava a engordar. Até que chegaram ao reino uns mercadores muito espertos, que souberam do caso, e apresentaram-se diante do rei para lhe propor uma solução. Eles iam fazer um fato que se adaptava perfeitamente ao problema do rei, porque esticava e encolhia conforme a necessidade. O rei ficou encantado e deu ordens para que nada faltasse a tão inteligentes inventores.
Assim, durante meses os mercadores comeram e beberam, à conta do orçamento, do bom e do melhor. E iam pedindo tecidos e ouro para fazer a sua obra. Mas sempre que o rei queria ver o andamento dos trabalhos, eles arranjavam mil desculpas e diziam que só depois de pronto é que se podia ver o real valor do que eles estavam a preparar. Depois de muito consumir, e de viver muito bem à custa do rei, deram a obra por pronta e trouxeram-na para o rei a experimentar. Mas, como não tinham feito coisa nenhuma, convenceram o rei de que era uma peça de roupa tão delicada que os olhos dos tontos não a iam conseguir ver. O rei não via absolutamente nada, mas com receio de que o tomassem por tonto, disse logo que era uma veste magnífica e mandou pagar principescamente aos mercadores. E todos no reino, para não serem chamados tontos, fingiam que viam a roupa que não existia.
Quando o rei apareceu em público, a notícia já se tinha espalhado e ninguém queria ser considerado tonto, por isso todos aplaudiam. Até que um rapaz começou a gritar “o rei vai nu!”, e todos perderam a vergonha de dizer a verdade, que todos viam e que ninguém queria aceitar. Todos gritaram então: “o rei vai nu”! Fim da história, o rei fugiu com vergonha.
Nos nossos dias já não temos rei na nossa terra. Temos é um Presidente da Câmara, que por acaso também se chama David. Não são os mercadores que andam a consumir o orçamento para fazer uma roupa para o rei, mas temos as empresas de consultores que fazem estudos para a Câmara e dão conselhos a preços incríveis, para depois termos o mesmo resultado, que “o rei vai nu”. Isto é, passam meses a viver do orçamento e chega-se ao fim e apresentam qualquer coisa que não tem sentido nenhum, mas é paga a peso de ouro.
A mim parece-me que é agora o caso, com esta nova proposta de pedir para emendar os mapas, porque se enganaram a pintá-los. Mas será que, honestamente, alguém na Câmara acredita que vai resolver o problema do Intermarché pedindo para emendar um mapa, porque se enganaram a pintar a cor de um bocadinho de terreno? Assobiamos todos para o ar e fingimos que a gralha tipográfica passou despercebida a todos os técnicos que durante anos fizeram os estudos? Que passou despercebida a todos os políticos que estudaram o projecto antes de o aprovarem? Que passou despercebida aos outros técnicos que usaram esse mapa para emitir a licença de construção que depois retiraram? Alguém, honestamente, acredita que ao fim de anos e de rios de tinta, de intervenções do tribunal, de debates de políticos e especialistas, que afinal a questão se resume a pedir licença para mudar a cor daquele bocadinho de terreno, no mapa oficial do PDM? E será que isso também se aplica noutros casos? É que pode haver mais algum particular que tenha um terreno marcado, por engano, com a cor errada!
Desculpem lá, mas por mim, prefiro que todos me achem tonto, como na história do rei, para poder dizer que “o rei vai nu” e que, honestamente, acredito que é uma parvoice o que os especialistas descobriram com mais esta invenção.
Afinal quanto tempo mais vamos assistir a esta brincadeira? Só espero que seja verdade o que lá está escrito, na saída de Ourém em direcção a Fátima: “já falta pouco”.
A sondagem
Notícias de Ourém, Agosto 2005
Apetece-me copiar o estilo da “Coluna do Centro” e trazer aqui uma citação que parece tirada de um almanaque para políticos com défice de ideias. A frase mais apropriada é assim: “as sondagens valem o que valem”, da autoria de um politico qualquer que não gostou lá muito dos resultados.
Mas isto é só uma brincadeira. Em primeiro lugar, porque ainda não me faltam ideias, em segundo lugar porque não acredito que os políticos sejam todos iguais, já que os políticos somos todos nós que temos opinião.
A sondagem do Notícias de Ourém vale, e vale muito. Vale para os partidos, para orientarem a campanha. E vale para os eleitores, para definirem o seu voto.
Confesso que, fazendo parte da lista do José Alho, eu gostava que os resultados nos fossem mais favoráveis, mas acredito que a apresentação das pessoas, das ideias e dos projectos vai ser determinante para melhorar o resultado final.
A presente sondagem mostra claramente que o actual presidente da Câmara parte muito à frente, o que não é inesperado num concelho que vota tradicionalmente mais à direita. Basta ver que nas últimas legislativas, mesmo com um candidato como Santana Lopes, o seu partido manteve uma votação forte, mesmo quando a grande maioria do país o considerava um mau candidato.
Mas há um dado da sondagem que me parece importante destacar, porque mostra aquilo que é referido em todas as sondagens, a margem de erro. Na entrevista 52,5 % das pessoas declaram ter votado Catarino em 2001, mas os resultados oficiais são menores, com 48,2 %. O desvio é de 4 pontos. Na entrevista 18,5% declaram ter votado em outros candidatos, mas só o Paulo Fonseca obteve 35,2%, um desvio de mais de 17 pontos, uma vez que nos outros candidatos se incluíam também os da CDU e do PP. Assim, a tendência das respostas nesta sondagem parece favorecer o presidente cessante em relação aos outros candidatos. Enquanto Catarino mostra mais do que aquilo que tem, José Alho e os outros candidatos parecem ter mais do que aquilo que a sondagem mostra.
Além disso, não ignoramos que mais de 20 % dos eleitores aparentemente ainda não decidiu em quem vai votar. Esperamos que não deixem de olhar para as nossas ideias, porque temos a certeza de que nos vão dar a sua confiança.
Claro que nada disso retira a vantagem que o actual presidente da Câmara mantém em todos os parâmetros e que esta tendência precisa de ser invertida com uma campanha civilizada, séria e esclarecedora, de preferência sem ataques pessoais e sem cartazes rasgados.
Esse é o papel dos partidos e é o papel da comunicação social. Para já os leitores do Notícias de Ourém também partem em vantagem, porque já podem olhar para estes resultados e reflectir melhor sobre a sua decisão.
E sobretudo aqueles que acham que o concelho de Ourém precisa de novas ideias, de um novo estilo e de corrigir alguns vícios que com os anos se vão instalando nos centros de governação, aqueles que acham que é necessário mudar, já sabem que não é possível ficarem parados, à espera que as coisas aconteçam. Pela frente está um grande trabalho por fazer.
Apetece-me copiar o estilo da “Coluna do Centro” e trazer aqui uma citação que parece tirada de um almanaque para políticos com défice de ideias. A frase mais apropriada é assim: “as sondagens valem o que valem”, da autoria de um politico qualquer que não gostou lá muito dos resultados.
Mas isto é só uma brincadeira. Em primeiro lugar, porque ainda não me faltam ideias, em segundo lugar porque não acredito que os políticos sejam todos iguais, já que os políticos somos todos nós que temos opinião.
A sondagem do Notícias de Ourém vale, e vale muito. Vale para os partidos, para orientarem a campanha. E vale para os eleitores, para definirem o seu voto.
Confesso que, fazendo parte da lista do José Alho, eu gostava que os resultados nos fossem mais favoráveis, mas acredito que a apresentação das pessoas, das ideias e dos projectos vai ser determinante para melhorar o resultado final.
A presente sondagem mostra claramente que o actual presidente da Câmara parte muito à frente, o que não é inesperado num concelho que vota tradicionalmente mais à direita. Basta ver que nas últimas legislativas, mesmo com um candidato como Santana Lopes, o seu partido manteve uma votação forte, mesmo quando a grande maioria do país o considerava um mau candidato.
Mas há um dado da sondagem que me parece importante destacar, porque mostra aquilo que é referido em todas as sondagens, a margem de erro. Na entrevista 52,5 % das pessoas declaram ter votado Catarino em 2001, mas os resultados oficiais são menores, com 48,2 %. O desvio é de 4 pontos. Na entrevista 18,5% declaram ter votado em outros candidatos, mas só o Paulo Fonseca obteve 35,2%, um desvio de mais de 17 pontos, uma vez que nos outros candidatos se incluíam também os da CDU e do PP. Assim, a tendência das respostas nesta sondagem parece favorecer o presidente cessante em relação aos outros candidatos. Enquanto Catarino mostra mais do que aquilo que tem, José Alho e os outros candidatos parecem ter mais do que aquilo que a sondagem mostra.
Além disso, não ignoramos que mais de 20 % dos eleitores aparentemente ainda não decidiu em quem vai votar. Esperamos que não deixem de olhar para as nossas ideias, porque temos a certeza de que nos vão dar a sua confiança.
Claro que nada disso retira a vantagem que o actual presidente da Câmara mantém em todos os parâmetros e que esta tendência precisa de ser invertida com uma campanha civilizada, séria e esclarecedora, de preferência sem ataques pessoais e sem cartazes rasgados.
Esse é o papel dos partidos e é o papel da comunicação social. Para já os leitores do Notícias de Ourém também partem em vantagem, porque já podem olhar para estes resultados e reflectir melhor sobre a sua decisão.
E sobretudo aqueles que acham que o concelho de Ourém precisa de novas ideias, de um novo estilo e de corrigir alguns vícios que com os anos se vão instalando nos centros de governação, aqueles que acham que é necessário mudar, já sabem que não é possível ficarem parados, à espera que as coisas aconteçam. Pela frente está um grande trabalho por fazer.
Boas intenções
Notícias de Ourém, Julho 2005
Aqui há bastantes anos, tantos que nem eu me lembro bem, era costume os homens trabalharem à jorna, enquanto as mulheres ficavam em casa para lhes fazerem o almoço. Quando chegava lá a certa hora e tudo estava pronto, a mulher metia o almoço na cesta para a ir levar ao marido.
Com o passar do tempo, algum filho mais velho começava também a trabalhar, e tudo ficava um pouco mais complicado. Se a jorna dele não fosse perto do pai, a mãe tinha de organizar a volta e sair mais cedo, para poder chegar a todos, sem prejuízo de ninguém. O que ainda podia salvar a situação era haver alguma irmã mais nova que desse uma ajuda na volta. Cada uma seguia por seu lado e todos ficavam servidos.
Nem quero pensar o que seria se os filhos fossem cinco ou seis e não trabalhassem todos juntos. Bem se podiam arranjar ajudantes para levar o almoço a toda a gente, um para norte, outro para sul, uns para poente, outros para nascente.
Vêm estas a ideias a propósito de uma novidade que eu ouvi há pouco tempo. Como vinha de gente séria, tenho todas as razões para acreditar que as coisas são mesmo assim.
Disseram-me que está para ser construída entre Ourém e Caxarias, na zona industrial, uma cozinha central da Câmara Municipal, para preparar almoços para várias instituições. A ideia, em si, parece ter algumas boas intenções. Uma cozinha central normalmente fica mais económica e é mais fácil de controlar, do ponto de vista da higiene e da qualidade. Mas aqui é que voltamos à nossa história das jornas, com os almoços a serem levados a quem anda a trabalhar. É que, por mais estranho que pareça, esta cantina estava pensada para servir refeições às escolas do Concelho. Assim por alto, para se fazer uma ideia, podemos dizer que são à volta de cem.
Na primeira parte do plano, não parece complicado produzir as refeições para toda essa gente, o problema é levá-la até ao lugar onde vai ser comida. Se a cozinha vai ficar situada entre Ourém e Caxarias, é num ponto bem central, o que tem importantes vantagens para organizar a volta. Mas o que eu ainda não compreendi é como se vai orientar a distribuição de almoços por tanta gente. Então vão pôr carrinhas diariamente na estrada, a caminho da Giesteira de Fátima, das Matas e do Cercal, de S. Jorge da Freixianda, de Alburitel e de Seiça? Quantos quilómetros se hão-de fazer por dia para chegar a cem escolas? Quanto tempo demoram as viagens? A comida aguenta a qualidade no meio de tanto abanar? Quantos trajectos são precisos, para norte e para sul, para nascente e poente? Quanto se poupa afinal com uma solução como esta? E quanto se gasta a mais?
Acredito que aqui há muito boas intenções, há um plano, mas só pensado até meio, falta-lhe a parte final.
Se as mulheres de antigamente aqui pudessem falar, lembradas de quando tinham de fazer uma grande volta para levar o almoço aos homens que andavam longe a trabalhar, elas haviam de ter uma opinião sobre esta maneira de organizar.
Aqui há bastantes anos, tantos que nem eu me lembro bem, era costume os homens trabalharem à jorna, enquanto as mulheres ficavam em casa para lhes fazerem o almoço. Quando chegava lá a certa hora e tudo estava pronto, a mulher metia o almoço na cesta para a ir levar ao marido.
Com o passar do tempo, algum filho mais velho começava também a trabalhar, e tudo ficava um pouco mais complicado. Se a jorna dele não fosse perto do pai, a mãe tinha de organizar a volta e sair mais cedo, para poder chegar a todos, sem prejuízo de ninguém. O que ainda podia salvar a situação era haver alguma irmã mais nova que desse uma ajuda na volta. Cada uma seguia por seu lado e todos ficavam servidos.
Nem quero pensar o que seria se os filhos fossem cinco ou seis e não trabalhassem todos juntos. Bem se podiam arranjar ajudantes para levar o almoço a toda a gente, um para norte, outro para sul, uns para poente, outros para nascente.
Vêm estas a ideias a propósito de uma novidade que eu ouvi há pouco tempo. Como vinha de gente séria, tenho todas as razões para acreditar que as coisas são mesmo assim.
Disseram-me que está para ser construída entre Ourém e Caxarias, na zona industrial, uma cozinha central da Câmara Municipal, para preparar almoços para várias instituições. A ideia, em si, parece ter algumas boas intenções. Uma cozinha central normalmente fica mais económica e é mais fácil de controlar, do ponto de vista da higiene e da qualidade. Mas aqui é que voltamos à nossa história das jornas, com os almoços a serem levados a quem anda a trabalhar. É que, por mais estranho que pareça, esta cantina estava pensada para servir refeições às escolas do Concelho. Assim por alto, para se fazer uma ideia, podemos dizer que são à volta de cem.
Na primeira parte do plano, não parece complicado produzir as refeições para toda essa gente, o problema é levá-la até ao lugar onde vai ser comida. Se a cozinha vai ficar situada entre Ourém e Caxarias, é num ponto bem central, o que tem importantes vantagens para organizar a volta. Mas o que eu ainda não compreendi é como se vai orientar a distribuição de almoços por tanta gente. Então vão pôr carrinhas diariamente na estrada, a caminho da Giesteira de Fátima, das Matas e do Cercal, de S. Jorge da Freixianda, de Alburitel e de Seiça? Quantos quilómetros se hão-de fazer por dia para chegar a cem escolas? Quanto tempo demoram as viagens? A comida aguenta a qualidade no meio de tanto abanar? Quantos trajectos são precisos, para norte e para sul, para nascente e poente? Quanto se poupa afinal com uma solução como esta? E quanto se gasta a mais?
Acredito que aqui há muito boas intenções, há um plano, mas só pensado até meio, falta-lhe a parte final.
Se as mulheres de antigamente aqui pudessem falar, lembradas de quando tinham de fazer uma grande volta para levar o almoço aos homens que andavam longe a trabalhar, elas haviam de ter uma opinião sobre esta maneira de organizar.
O valor das boas obras
Notícias de Ourém, Julho de 2005
Costuma dizer-se que quem sabe da arte é o artista, quem sabe do ofício é o oficial. O mesmo quer dizer que cada profissão tem pequenos pormenores a que a maioria das pessoas não presta atenção.
Há uns tempos, num debate sobre as obras que faziam falta num Jardim de Infância, ouvi uma explicação que eu achei muito acertada. Esse tal Jardim de Infância funciona num edifício adaptado e, por isso, não tem casas de banho suficientes, além de ser preciso passar pela rua para lá chegar. Ora eu achei um pouco estranha esta ideia de uma casa de banho não ser suficiente para uma dúzia de meninos. Mas a ideia não é nada estranha. E a explicação que me deram é bem simples e deixou-me convencido: os meninos de 3 e 4 anos não conseguem aguentar da mesma forma que os adultos. Os pais que fazem viagens longas com meninos no carro sabem bem como isso é, a todo o momento tem de haver paragens inesperadas, para atender com urgência ao pedido da criança. E numa escola? Quando um pede para ir à casa de banho, lembra logo a dois ou três, o que se complica quando ainda são pouco mais que bebés. E isto constantemente, todos os dias.
O problema maior é que esta situação, ou outras semelhantes, não acontece só num, mas em muitos Jardins de Infância do nosso Concelho e os pais das crianças, tal como os Educadores, sabem bem a urgência das obras de melhoramento nos edifícios.
O que podemos perguntar é porque é que este problema se arrasta há anos e porque é que nunca mais tem solução. Pois a resposta não é difícil. A Câmara Municipal não dispõe de verbas ilimitadas e o dinheiro é sempre como a manta no tempo do frio. Quando se tapa a cabeça, fica-se com frio nos pés. Assim é também o dinheiro, não pode chegar a todo o lado, nem fazer todas as obras que os cidadãos solicitam.
Mas por isso mesmo é que é necessário pensar bem quais são as melhores opções, que obras são mais urgentes, onde é que o dinheiro se tem de gastar.
Em altura de eleições, como é natural, apresenta-se a obra que se conseguiu fazer com os recursos disponíveis. É o tempo das inaugurações. Isso parece-me bem, porque os ciclos políticos devem terminar com a apresentação dos resultados. O que os eleitores precisam de fazer, no entanto, é olhar para as obras com um espírito muito atento, para verificar se o dinheiro foi bem distribuído.
E em minha modesta opinião, mais valia em qualquer freguesia gastar dinheiro a melhorar as condições das escolas e Jardins de Infância do que gastar o mesmo, por exemplo, num parque de lazer. É que uma escola tem um uso permanente, enquanto outros equipamentos, embora sejam bons para a população, só são usados de vez em quando. Se não podemos chegar a todo o lado, ao menos que cheguemos onde mais fazemos falta.
Costuma dizer-se que quem sabe da arte é o artista, quem sabe do ofício é o oficial. O mesmo quer dizer que cada profissão tem pequenos pormenores a que a maioria das pessoas não presta atenção.
Há uns tempos, num debate sobre as obras que faziam falta num Jardim de Infância, ouvi uma explicação que eu achei muito acertada. Esse tal Jardim de Infância funciona num edifício adaptado e, por isso, não tem casas de banho suficientes, além de ser preciso passar pela rua para lá chegar. Ora eu achei um pouco estranha esta ideia de uma casa de banho não ser suficiente para uma dúzia de meninos. Mas a ideia não é nada estranha. E a explicação que me deram é bem simples e deixou-me convencido: os meninos de 3 e 4 anos não conseguem aguentar da mesma forma que os adultos. Os pais que fazem viagens longas com meninos no carro sabem bem como isso é, a todo o momento tem de haver paragens inesperadas, para atender com urgência ao pedido da criança. E numa escola? Quando um pede para ir à casa de banho, lembra logo a dois ou três, o que se complica quando ainda são pouco mais que bebés. E isto constantemente, todos os dias.
O problema maior é que esta situação, ou outras semelhantes, não acontece só num, mas em muitos Jardins de Infância do nosso Concelho e os pais das crianças, tal como os Educadores, sabem bem a urgência das obras de melhoramento nos edifícios.
O que podemos perguntar é porque é que este problema se arrasta há anos e porque é que nunca mais tem solução. Pois a resposta não é difícil. A Câmara Municipal não dispõe de verbas ilimitadas e o dinheiro é sempre como a manta no tempo do frio. Quando se tapa a cabeça, fica-se com frio nos pés. Assim é também o dinheiro, não pode chegar a todo o lado, nem fazer todas as obras que os cidadãos solicitam.
Mas por isso mesmo é que é necessário pensar bem quais são as melhores opções, que obras são mais urgentes, onde é que o dinheiro se tem de gastar.
Em altura de eleições, como é natural, apresenta-se a obra que se conseguiu fazer com os recursos disponíveis. É o tempo das inaugurações. Isso parece-me bem, porque os ciclos políticos devem terminar com a apresentação dos resultados. O que os eleitores precisam de fazer, no entanto, é olhar para as obras com um espírito muito atento, para verificar se o dinheiro foi bem distribuído.
E em minha modesta opinião, mais valia em qualquer freguesia gastar dinheiro a melhorar as condições das escolas e Jardins de Infância do que gastar o mesmo, por exemplo, num parque de lazer. É que uma escola tem um uso permanente, enquanto outros equipamentos, embora sejam bons para a população, só são usados de vez em quando. Se não podemos chegar a todo o lado, ao menos que cheguemos onde mais fazemos falta.
O PDM presta?
Notícias de Ourém, Julho de 2005
A Coluna do Centro tem-nos falado do Compadre que não se engana a votar. É um compadre castiço, com falar do povo, que tem opinião pela família toda e que tem um cão com uma inteligência política que não fica nada atrás da do dono. Lá em casa votam todos no mesmo, até o cão, se lhe aceitassem a inscrição.
Não sei se é o mesmo Compadre que eu conheço, mas pelo sotaque até podia ser. O que eu conheço também tem um cão... E tem uma filha que vai casar. Acabou há pouco um curso na Universidade e anda a tentar arranjar um emprego, mas cá na terra a coisa está difícil. As pessoas com mais estudos só conseguem alguma coisa em Tomar ou em Leiria. Por cá, só se fosse mesmo na Câmara, mas aí já está tudo ocupado.
De qualquer modo gosta da terra e queria ficar cá a morar. Até já meteram um projecto à Câmara para fazer casa nova. Estão há uns meses à espera da resposta, já não deve demorar muito. O Compadre até já perguntou se não havia alguma maneira de fazer despachar o processo mais depressa, mas parece que não há...
Só que a demora e a papelada têm dado que pensar porque será preciso um projecto na Câmara para fazer uma casa? Aqui há 50 anos, era só contratar um pedreiro e cada um fazia como podia.
Ora, a resposta até o cãozito do Compadre a sabe: se cada um fizesse como entendesse, era a confusão geral. As nossas vilas e aldeias são de todos os que lá moram e precisam de ordenamento. Por isso é que é bom haver projectos, mesmo que às vezes demorem um bocado.
Assim, se é bom haver regras, a filha do Compadre já lhe explicou que é melhor estarem escritas, conhecidas por todos, para cada um se poder orientar, sem ter de ficar sujeito à opinião de quem manda, que até pode mudar de um momento para o outro.
O nosso Compadre mais a filha dele acabam, portanto, de dar de caras com o PDM. E não sabem bem se é boa coisa ou se é má. Afinal ele serve para fixar as Leis iguais para todos e para organizar a nossa terra e melhorar as condições de vida de todos. Ou, pelo menos, era para isso que devia servir.
Segundo se ouviu dizer, para o Presidente da Junta, este PDM não era lá grande coisa, até estava mal projectado, havia muita coisa a modificar. Pelo menos foi o que se ouviu dizer aqui há três anos, quando todos os Presidentes da Junta fizeram uma declaração nos jornais a dizer que nunca o iam aprovar. Mas depois o Presidente da Câmara explicou que era muito bom, que eles tinham mesmo que aprovar e os Presidentes da Junta lá concordaram com as regras. A confusão vem agora, porque o Presidente da Câmara já diz que o PDM não é lá muito bom e que é um empecilho para o desenvolvimento.
Fica o Compadre confuso, e com razão! Afinal em três anos as coisas mudam tanto: primeiro era mau para uns e bom para outro; depois já era bom para toda a gente, para mais tarde voltar a ser mau para todos. Até parece que o melhor era não haver PDM. Em vez de ter um Plano para o Concelho, se calhar era preferível deixar que quem manda fosse decidindo dia a dia o que era melhor e o que era pior. O risco era que as opiniões mudassem demasiado depressa e o que hoje era bom amanhã já fosse mau. Enfim, era só uma questão de conseguir acertar num dia bom.
Eu bem entendo o Compadre se ele se sentir confuso, porque até os que têm dirigido o Concelho têm as suas dúvidas. Só é pena que o cãozito do Compadre não saiba falar. Com a inteligência política do bicho talvez ele lhe conseguisse explicar.
A Coluna do Centro tem-nos falado do Compadre que não se engana a votar. É um compadre castiço, com falar do povo, que tem opinião pela família toda e que tem um cão com uma inteligência política que não fica nada atrás da do dono. Lá em casa votam todos no mesmo, até o cão, se lhe aceitassem a inscrição.
Não sei se é o mesmo Compadre que eu conheço, mas pelo sotaque até podia ser. O que eu conheço também tem um cão... E tem uma filha que vai casar. Acabou há pouco um curso na Universidade e anda a tentar arranjar um emprego, mas cá na terra a coisa está difícil. As pessoas com mais estudos só conseguem alguma coisa em Tomar ou em Leiria. Por cá, só se fosse mesmo na Câmara, mas aí já está tudo ocupado.
De qualquer modo gosta da terra e queria ficar cá a morar. Até já meteram um projecto à Câmara para fazer casa nova. Estão há uns meses à espera da resposta, já não deve demorar muito. O Compadre até já perguntou se não havia alguma maneira de fazer despachar o processo mais depressa, mas parece que não há...
Só que a demora e a papelada têm dado que pensar porque será preciso um projecto na Câmara para fazer uma casa? Aqui há 50 anos, era só contratar um pedreiro e cada um fazia como podia.
Ora, a resposta até o cãozito do Compadre a sabe: se cada um fizesse como entendesse, era a confusão geral. As nossas vilas e aldeias são de todos os que lá moram e precisam de ordenamento. Por isso é que é bom haver projectos, mesmo que às vezes demorem um bocado.
Assim, se é bom haver regras, a filha do Compadre já lhe explicou que é melhor estarem escritas, conhecidas por todos, para cada um se poder orientar, sem ter de ficar sujeito à opinião de quem manda, que até pode mudar de um momento para o outro.
O nosso Compadre mais a filha dele acabam, portanto, de dar de caras com o PDM. E não sabem bem se é boa coisa ou se é má. Afinal ele serve para fixar as Leis iguais para todos e para organizar a nossa terra e melhorar as condições de vida de todos. Ou, pelo menos, era para isso que devia servir.
Segundo se ouviu dizer, para o Presidente da Junta, este PDM não era lá grande coisa, até estava mal projectado, havia muita coisa a modificar. Pelo menos foi o que se ouviu dizer aqui há três anos, quando todos os Presidentes da Junta fizeram uma declaração nos jornais a dizer que nunca o iam aprovar. Mas depois o Presidente da Câmara explicou que era muito bom, que eles tinham mesmo que aprovar e os Presidentes da Junta lá concordaram com as regras. A confusão vem agora, porque o Presidente da Câmara já diz que o PDM não é lá muito bom e que é um empecilho para o desenvolvimento.
Fica o Compadre confuso, e com razão! Afinal em três anos as coisas mudam tanto: primeiro era mau para uns e bom para outro; depois já era bom para toda a gente, para mais tarde voltar a ser mau para todos. Até parece que o melhor era não haver PDM. Em vez de ter um Plano para o Concelho, se calhar era preferível deixar que quem manda fosse decidindo dia a dia o que era melhor e o que era pior. O risco era que as opiniões mudassem demasiado depressa e o que hoje era bom amanhã já fosse mau. Enfim, era só uma questão de conseguir acertar num dia bom.
Eu bem entendo o Compadre se ele se sentir confuso, porque até os que têm dirigido o Concelho têm as suas dúvidas. Só é pena que o cãozito do Compadre não saiba falar. Com a inteligência política do bicho talvez ele lhe conseguisse explicar.
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