Notícias de Ourém, Fevereiro 2006
Este ano não houve carnaval em Ourém. E porquê? Se calhar é porque no ano passado tivemos carnaval a mais. Tivemos carnaval em Fevereiro e, por altura das eleições autárquicas, voltou a haver festança. Dois carnavais num só ano, tinha de dar em jejum. Gastou-se demais na folia das obras de última hora, e agora já não há.O Presidente da Câmara não o diz directamente, mas lendo bem nas entrelinhas, acaba por ir dar ao mesmo. Segundo as suas afirmações, os clubes deste concelho só queriam era deitar a mão à massa da Câmara e não faziam nada de jeito. É tudo um problema de massa.
A desculpa oficial é que o modelo de desfile dos anos anteriores estava gasto, que as escolas já não participavam, que as associações iam buscar a pardaleira e o velho fato da tropa para irem sacar o cacau que a Câmara durante anos lhes ia dando para aquela triste figura.
Não sei se o Presidente estava a falar do mesmo desfile que eu tenho visto e a que milhares de pessoas assistiam nas ruas de Ourém. Não vi no ano passado mais pardaleiras do que nos anos anteriores. Continuei a ver as escolas a participar e as associações a apresentarem o fruto de muito trabalho. Quem anda longe destas coisas não sabe dar valor ao esforço e dedicação daqueles que, todos os anos, davam o seu melhor para uma festa que é de todos. Nem todas as participações teriam a mesma qualidade, mas a grande maioria ia ao cortejo com ideias bem engraçadas e com trabalhos que não envergonhavam ninguém. Para mim, andava-se muito longe dessa falta de qualidade que a Câmara diz que havia. E tenho bem a certeza que ninguém enriqueceu com o subsídio de carnaval que a Câmara atribuía.
Além do mais, se o resultado não correspondia ao que se esperava, o problema era de quem marcava as regras, ou seja, da própria Câmara. Se agora se vêm queixar, só se podem queixar de si próprios, que definiram este modelo e o mantiveram durante anos. A culpa não é, certamente, nem das escolas, nem das associações.
Mas ainda que fosse verdade, e que as pessoas estivessem cansadas, ainda que as associações fossem umas interesseiras e o modelo estivesse gasto, havia sempre uma solução. A Câmara podia propor um novo modelo, modificar as regras, melhorar o que havia. Nada disso aconteceu. Fechou-se simplesmente a porta, que pensar dá muito trabalho.
Ora, como isto não faz muito sentido, eu retiro duas conclusões. Primeira conclusão, que o verdadeiro motivo é mesmo a falta de dinheiro. As dívidas da Câmara são muito altas, gastou-se mais do que havia, agora há que poupar.
Segunda conclusão, a Câmara continua a cuspir no prato onde comeu. Depois de anos a contar com o esforço das pessoas que trabalham de graça nas associações, agora dá-lhes o coice, a dizer que o que faziam era coisa sem valor, que não merece nenhum apoio da Câmara. Em termos de reconhecimento do esforço e de delicadeza, continua tudo igual.
Podemos, então, esperar que nos anos que virão volte a haver carnaval em Ourém? Tenho a certeza que sim. E, pelos argumentos agora usados, cá ficamos a esperar o modelo renovado que esta equipa da Câmara nos irá então apresentar. Deve ser coisa de se lhe tirar o chapéu.
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