Notícias de Ourém, Abril 2006
Há por vezes certas coisas que me custam a entender. Não é tanto por serem coisas complicadas, mas desconfio que é mais por serem coisas sem sentido.
Passo a dar um exemplo. Custa-me cá meter na cabeça que ainda hoje os políticos se ponham a falar de religião. Claro que ninguém pode impedir um político de ter convicções religiosas, mas não é essa a sua especialidade. A política é coisa pública e a religião é coisa privada, cada uma não se mistura com a outra. Por isso, eu não entendo que um político venha falar de religião, a não ser que tenha a ilusão de que isso dá boa imagem. Numa palavra, populismo.
Outra coisa que não consigo encaixar muito bem é aquele assunto do Intermarché. As últimas notícias que vi eram tão confusas, que pareceu-me que estava a confundir de propósito. Afinal vão mudar a lei, ou vão mudar o projecto para cumprir a lei, ou vão mudar a lei e mudar também o projecto, para obedecer à lei antiga? Fiquei todo baralhado. Mas não me preocupo muito, desde que uma solução legal seja encontrada. Afinal a intenção é mesmo que não se perceba nada.
Ainda mais recentemente apareceu mais uma novidade que é difícil de entender. Na semana passada o nosso Notícias de Ourém dava larga cobertura ao projecto do novo edifício da Câmara Municipal. Já se anunciava até que a obra ia avançar muito brevemente. Agora acontece que o projecto aprovado estava... incompleto? Segundo as informações, falta-lhe o estudo dos terrenos. Eu, que não sou técnico desta área, o que percebo deste caso é que o projectista se esqueceu de verificar se o terreno aguenta a construção que lá se vai fazer. Dá para acreditar?
Ora bem, quando se trata de analisar as obras dos cidadãos, sabemos que os gabinetes da Câmara são muito atentos e diligentes, para não deixar passar o mínimo detalhe. Então, como é que foi possível deixarem passar uma falha destas? Toda a gente sabe que os serviços da Câmara, para qualquer simples construção, têm o saudável costume de obrigar os cidadãos a recolher montanhas de documentos, projectos, autorização, certidões e outras coisas assim. E quando falta algum papelinho, lá se tem de correr a via-sacra outra vez. Como é que agora numa obra da própria Câmara não se aplicou a mesma diligência na verificação de todos os papelinhos mais miudinhos e se chegou a esta situação. O projecto foi dado como pronto, a obra foi a concurso e, segundo diziam, estava pronta para avançar. Só agora é que viram que faltava uma parte importante. Em casa de ferreiro, espeto de pau. Isto sim, é difícil de entender.
Das duas uma, ou há alguém interessado em que as coisas corram mal, ou há uma grande incompetência na gestão da Câmara. O prédio da rua de Castelo anda em tribunal há alguns anos. O caso Intermarché anda embrulhado por culpa da Câmara há mais de um ano. O Parque Linear vai para obras menos de um ano depois de ser inaugurado. O estádio de Fátima teve o chumbo do Tribunal de Contas e mesmo assim vai também para obras. Agora o caso do projecto inacabado do edifício da Câmara.
Ou andam a fazer de propósito, ou é muita incompetência junta. Eu acredito um pouco em ambos. Mas ainda há uma terceira possibilidade: se calhar é bruxedo. Mas, como eu estou a escrever um texto político, tenho de evitar meter-me por um caminho tão... espiritual.
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