Notícias de Ourém, Janeiro 2006
Por vezes achamos não é fácil perceber quais são as diferenças entre alguns políticos e os outros. Até que chegamos a pequenos pormenores e a certos casos práticos. O aumento do preço da água que agora bate à porta dos Oureenses é uma boa ocasião para fazer esta distinção.
A proposta de aumento aprovada pela Câmara Municipal é de 6,9 por cento, um bocado acima do aumento médio de outros bens e ainda mais acima da média de aumento dos ordenados. Há alguma razão para isso? O presidente da Câmara diz que sim. Diz que é para cumprir o acordo com a Companhia francesa a quem foi entregue este serviço, aqui há uns anos. As canalizações estão velhas e há que substituí-las. E, como toda a gente sabe, isso custa dinheiro.
Esta argumentação até pode ser verdade, mas vale a pena fazer aqui um pequeno exercício de memória e um pouco de reflexão.
Quando há umas dezenas de anos o concelho de Ourém não tinha água canalizada, houve presidentes da Câmara que entenderam que esse era um bem essencial para a população e deitaram mãos à obra, gastaram dinheiro e trouxeram o progresso. Eu diria que esses foram presidentes que perceberam qual é a finalidade de uma Câmara Municipal, ou de uma Junta de Freguesia, isto é, contribuir para o progresso comum. Depois veio um presidente que achou que esse bem essencial, que devia ser de todos, ficava melhor se passasse a ser dirigido por uma empresa privada.
Agora que é preciso fazer reparações, a empresa reclama que alguém as terá que pagar. Se a Câmara não paga o investimento, quem paga é a população.
Para mim, um bem tão precioso como a água deve ser garantido pelos poderes públicos. O investimento necessário devia ser da responsabilidade da Câmara, porque uma Câmara serve para defender o bem comum.
Devia ser, mas não é. Quando o dinheiro não chega para tudo, há que fazer opções, e as opções da Câmara são diferentes. Entre construir, por exemplo, um campo de golfe e assegurar à população boas condições de abastecimento de água, a opção mais correcta é... Devia ser, mas não é.
Para a Câmara Municipal é indiferente que uma boa parte das pessoas do concelho tenham de viver com pequenas reformas de 200 euros. A esses que pouco têm é que se hão-de tirar as migalhas que vão pagar as obras urgentes, porque o orçamento da Câmara tem de ficar guardado para outro tipo de despesas, que eles consideram mais urgentes.
Enfim, este pequeno caso tem um importante significado. Há políticos que, de tanto se preocuparem com a “viabilidade financeira” de projectos, acabam por se esquecer que o mundo é feito de pessoas, muito mais do que de números. Há políticos que ficam cegos com gastos milionários em obras secundárias e se esquecem daqueles a quem 1 euro a mais ou a menos faz diferença na carteira. Certos políticos acham que cada um deve pagar por aquilo que utiliza, mas outros ainda conseguem ver que neste mundo tem de haver lugar até para quem não pode pagar.
Essa é uma grande diferença que distingue alguns políticos de todos os outros.
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