segunda-feira, 16 de julho de 2007

Escola próxima

Notícias de Ourém, Março 2006

Por vezes é nos momentos difíceis que somos forçados a parar para olhar o que nos rodeia por outro ponto de vista. A recente perda de um aluno da nossa comunidade escolar abriu-nos precisamente uma dessas janelas. Com a sua falta descobrimos que somos um pouco mais do que uma simples escola e um pouco menos do que uma família grande.
Veio nos jornais, viu-se na televisão: o Paulo, aluno do 7.º ano da Escola da Freixianda, caiu num poço desprotegido e não sobreviveu. No funeral muitos se recordaram certamente de situações diversas em que o Paulo tinha participado. A mim não me saía da cabeça uma imagem só: o Paulo a pular contente em frente da câmara de filmar da escola, noutro Carnaval, há talvez uns dois anos.
Na reacção individual de todos os que o conheciam viu-se com evidência que o nosso mundo de todos os dias ficou de repente um pouco mais estreito. Depois percebemos que esse sentimento ia ainda mais além das paredes da escola e dos colegas de carteira, dos professores e dos funcionários. Fora dos muros da escola descobrimos que há vizinhos, que há conhecidos, que há tantas outras pessoas para quem não é indiferente.
Foi principalmente significativa uma reunião que a Presidente do Agrupamento decidiu organizar. Foram convidados encarregados de educação, párocos, dirigentes autárquicos, professores e alunos. Muitos, de uma forma ou de outra, ou estiveram presentes, ou se fizeram representar. Assim se reforçou a ideia fundamental de que formamos verdadeiramente uma comunidade.
E do debate surgiram duas ou três ideias positivas que merecem passar além das paredes da escola. A ideia mais repetida reclama que cada um se deve sentir responsável, para evitar que no futuro aconteça outra desgraça assim. A mensagem tem de chegar a todos, para que cada proprietário cumpra a lei e assegure que os poços dos seus terrenos não constituem mais perigo para ninguém. Nesse sentido, uma campanha de sensibilização prepara-se para partir de várias instâncias: da Escola, da Paróquia, da Junta de Freguesia. Esperamos que outras Juntas, outras Paróquias e outras Escolas se juntem a nós.
Mas mais importante de tudo, ficou o compromisso do Vereador Humberto Piedade de que também a Câmara vai também participar neste esforço conjunto. O maior obstáculo ao cumprimento integral da Lei tem sido a falta de conhecimento dos casos concretos. Por isso, o primeiro passo é procurar saber onde estão os perigos. Realço com entusiasmo o compromisso da Câmara: de implementar um cadastro actualizado de todos os poços, fossas, lagoas, que são a todo o instante armadilhas fatais. Quando a Câmara estiver na posse desses dados, será mais fácil notificar os proprietários para fazerem resguardos sempre que isso se revelar necessário, ou actuar por outras vias para encontrar uma solução.
Quanto ao passado, já não podemos voltar atrás para emendar o que esteve mal. Mas para o futuro este espírito de quase família, esta ideia de comunidade que vamos construindo, pode servir-nos de alguma coisa para edificar um mundo mais seguro e mais feliz. Afinal uma escola é feita principalmente de ideias assim.

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