segunda-feira, 16 de julho de 2007

A grande diferença

Notícias de Ourém, Setembro 2005

São muitos os pontos comuns entre o programa do PS e o programa do PSD para as eleições de Outubro. O Notícias de Ourém fez-nos um resumo, e descobrimos que, da revisão do PDM até aos investimentos no ensino, muita coisa é quase igual. Não é de estranhar, uma vez que há problemas tão evidentes no nosso concelho, que não é possível fugir-lhes. Mesmo para quem os não resolveu ao longo de vários mandatos sucessivos, enquanto algumas obras secundárias ganhavam protagonismo: temos um Centro de Negócios, mas faltam escolas; temos um grande estádio, mas faltam vias rápidas a atravessar o concelho.
Mas também há pontos em que as opiniões são absolutamente contrárias: sobre a necessidade de um campo de Golfe, sobre o modelo do novo edifício para a Câmara, e outros.
Mas o que realmente faz toda a diferença entre PS e PSD em Ourém, pode resumir-se numa letra: é o D.
D de Dinastia. No tempo da realeza e dos poderosos distantes do povo, o poder passava de geração em geração dentro da mesma família, eram as dinastias. Desse D Ourém tem já bastante.
D de discriminação. Discriminados são aqueles que são tratados com menos consideração do que aquela que merecem. É o que em Ourém acontece às mulheres nas listas do maior partido. Na lista do PSD para a Câmara, todos os efectivos são homens, e na lista para a Assembleia Municipal, a professora Deolinda segue praticamente isolada nos quinze primeiros lugares.
D de desorganização. Desorganização é tantas vezes o que sente o cidadão que se dirige à Câmara para tratar dos seus problemas e tem de andar para trás e para a frente, com um papel num dia, mais uma certidão no outro. Sobre isto ainda não vi referências no programa do PSD. Provavelmente entendem que está tudo bem como está.
Enfim, é realmente o D que faz toda a diferença entre os dois maiores partidos do concelho.
Mas há um D que me entristece particularmente, o D do despudor, da falta de consideração pelas vítimas dos incêndios, da parte de uma lista que quer aproveitar a miséria dos outros para animar a sua campanha eleitoral.
O PSD anunciou que vai aproveitar uma angariação de fundos para as vítimas dos incêndios como forma de animar os seus jantares de campanha. E assim, por trás de uma esmola, que deveria ser dada discretamente, se escondem objectivos que nunca se deviam ligar à desgraça e à aflição que muitos passaram.
Se os políticos do PSD querem ajudar as vítimas, não têm já os meios para o fazer, enquanto dirigem a Câmara? Se o seu interesse é dar esmola, não o podem fazer discretamente, sem seguirem o exemplo dos fariseus da parábola bíblica? Se querem resolver os problemas das pessoas, não podem simplesmente pôr as autarquias a prestar esclarecimentos, para garantir que os apoios do Estado chegam a quem precisa?
Mas aqui no nosso concelho juntam o útil ao agradável, querem proclamar que ajudam as pessoas para ficarem bonitos na fotografia. É um jogo muito perigoso, onde eu não gostava de estar envolvido.
Porque, pergunto eu, como é que se fará a distinção na contabilidade da campanha? Esses dinheiros contam como receitas ou entram “ao negro”? Quem garante que não há misturas entre o dinheiro da campanha e o dinheiro das esmolas? Quem fiscaliza o montante dos donativos? Quem verifica com que critérios vão ser distribuídos? Haverá um regulamento que oriente a atribuição do dinheiro? Haverá prestação pública de contas? E quem pagará afinal os jantares, se o dinheiro entregue for para as vítimas? O custo de cada jantar será suportado pelo partido? E as pessoas que forem a esses jantares, estarão presentes pelo partido, ou irão pelo apoio às vítimas?
Apoiar os que precisam é verdadeiramente um gesto nobre. Fazer disso um espectáculo de campanha não honra quem dá, nem quem recebe.
Acredito que está aqui uma diferença fundamental que separa todos os partidos que se apresentam em Ourém às eleições. É uma diferença de atitude. Quem está no poder há muito tempo corre o risco de começar a confundir as coisas e a misturar aquilo que, por decência, devia estar sempre bem separado.

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