segunda-feira, 16 de julho de 2007

Inspecção em Fátima

Notícias de Ourém, Maio 2006

O que há em comum entre alguns autarcas de Ourém, alguns representantes dos comerciantes de Ourém e um Deputado da Nação também de Ourém? É que todos são a favor das inspecções, desde que não tenham um efeito negativo! Podem vir os inspectores, desde que com a sua acção não prejudiquem os pobres empresários, ainda que eles sejam um bocadinho desleixados na higiene e segurança.
Escandalizou-se muito uma fatia de notáveis políticos do Concelho de Ourém porque um organismo de controlo multou uma série de comerciantes de Fátima, apreendeu uma tonelada de alimentos e deu ordens para encerrar quase uma dúzia de restaurantes e um hotel.
Ora, partindo do princípio que os inspectores não são um bando de lunáticos, eu suponho que eles se limitaram a cumprir a lei: as multas certamente resultam de infracções; a apreensão de alimentos significa que não estariam em bom estado; e o encerramento de restaurantes deve ter sido por falta de condições.
Mesmo aquela fatia de notáveis de Ourém, tão indignada com a inspecção surpresa, não se atreve a negar que estas acções são importantes para educar, e motivar para uma elevação da qualidade geral do serviço. Mas ficaram-me algumas dúvidas sobre a convicção das suas afirmações, quando percebi que não gostam de surpresas e que preferiam que se respeitasse um certo calendário. Pela argumentação que li no jornal, esta altura não lhes pareceu boa. Só faltou defender o direito dos comerciantes a negociar a data e hora da inspecção, para não causar transtorno ao regular serviço. Já agora, porque é que não se faz de uma maneira ainda mais delicada? Podia passar a ser o próprio comerciante a requerer a inspecção para tal data, a tal hora. De certeza que passava a haver menos multas.
Para eles, isto de fazer inspecções surpresa é realmente um abuso! E ainda pior é mostrar à população o que se está a passar, pelos jornais e pela televisão. Porque, até na infracção, o segredo é a alma do negócio.
Bem vistas as coisas, dá ideia que não há problema em escapar à lei; só há problema quando isso se vem a saber.
Por exemplo, se a inspecção tivesse sido adiada uma semana ou duas, a tal tonelada de alimentos apreendidos não se teria desperdiçado. Eventualmente meia dúzia de polacos ou peregrinos do Norte teria ficado com uma pequena indisposição, que passaria em dois ou três dias. Quando a inspecção chegasse, já não havia infracções, já as provas teriam sido alegremente comidas por uns satisfeitos clientes. As vítimas iam achar que era resultado de terem apanhado muito sol e nunca iriam culpar quem lhes tivesse servido um almoço apetitoso e fora do prazo. Isso sim é que era a perfeita história com final feliz: o negócio prosperava e nenhum laborioso oureense ficaria prejudicado, porque o mal se dividia pelas aldeias. Ninguém chegava a saber de nada, era tudo muito discreto, acabava tudo em bem.
Mas os “malandros” de Lisboa, ou de Santarém ou sabe-se lá de onde, não são capazes de deixar os “honrados” comerciantes de Fátima levar a sua vidinha descansados. Tinham de vir estragar o negociozinho com a sua mania de fazer cumprir a lei.
Pode até parecer que as opiniões contra a inspecção publicadas nos jornais vinham em defesa dos comerciantes de Fátima. Mas eu acho que isso é um perfeito engano. Enquanto tentam defender uns quantos que fazem batota para ganhar ilegitimamente à custa dos outros, esquecem que há muitos que não fazem batota, que cumprem as regras e que ingloriamente são ignorados por quem os devia elogiar. No fundo, os notáveis acusadores da inspecção, defendem quem não merece e, com essa atitude, esquecem quem mais deviam lembrar.
Honra seja feita ao presidente da Região de Turismo que foi dos primeiros a louvar a iniciativa, porque ajuda a elevar a qualidade de prestação de serviços na região e assim a melhorar a imagem do comércio e a confiança dos consumidores.

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