segunda-feira, 16 de julho de 2007

O estádio e as escolas

Notícias de Ourém, Setembro 2005

O concelho de Ourém tem um estádio de futebol, mas faltam salas de aula nas escolas de primeiro ciclo.
Na febre da construção de estádios para o Euro 2004, os dirigentes da Câmara de Ourém não quiseram ficar em pouco. Eles decidiram fazer um estádio em Fátima. Como eles escreveram nos cartazes, feito “a pensar em si”.
Ao mesmo tempo, por acaso também em Fátima, os meninos do primeiro ciclo não podem ficar o tempo necessário na escola, porque não há salas de aula.
Para este ano lectivo, o alargamento do horário escolar devia ocupar todos os alunos até às 17:30 horas. E durante esse tempo, entre outras actividades, deviam aprender Inglês. É o que deve acontecer por todo o país. Mas os meninos da cidade de Fátima não vão ser iguais aos outros meninos: uns ficam na escola de manhã, outros ficam lá de tarde.
Porque em Fátima há um estádio, mas faltam escolas e não há lugar para todos.
Na escola de Boleiros, segundo lemos num jornal, há um pré-fabricado muito velho, onde os meninos tinham aulas. Os dirigentes da escola e os pais, na falta de uma solução definitiva, aceitaram a oferta do Centro de Dia, que emprestou uma sala para lá poderem aprender. Um ano depois, à falta de novas soluções da parte da Câmara, queriam assinar um protocolo para as aulas lá continuarem, para não terem de voltar para o barracão. Mas o vereador João Moura não aceita, porque acha que o Centro de Dia quer é que a Câmara pague a luz e o aquecimento da sala. Mas, senhor Vereador, afinal não é essa a obrigação da Câmara? Então o Centro de Dia empresta a sala e ainda tem de pagar os custos da utilização? A obrigação da Câmara não é só pagar a luz e o aquecimento. A obrigação da Câmara é muito maior, é criar condições dignas para os alunos aprenderem, sem ser em salas emprestadas.
É uma triste mentalidade de quem dirige este Concelho. Houve 700 mil contos para um estádio, e a factura promete crescer, mas contam-se os tostões para as escolas. Se esse dinheiro fosse distribuído por 7 escolas primárias de Fátima, dava 100 mil contos a cada uma. Podiam arrasar o que está feito e construí-las todas de novo, já com condições de luxo.
Mas isto é o que se passa em Fátima, como exemplo. Por todo o concelho, faltam creches, Jardins de Infância, há escolas sem condições, transportes escolares sem qualidade, problemas de segurança no exterior das escolas, alunos que não participam em actividades por falta de transporte para distâncias de 4 ou 5 quilómetros.
Há muitos anos que se sabe o que falta nas escolas do concelho. Só que para a Câmara o mais importante do mundo era investir no futebol. Há dinheiro para coisas secundárias mas falta para o principal.
Talvez um estádio seja um sinal de progresso, num país que já tem tantos. Mas acredite que melhorar a rede de escolas é uma escolha prioritária. Claro que agora, quando já se atingiu o limite, também o PSD diz que defende prioridade à educação. Mas há anos que é sempre igual.
Nos próximos quatro anos, que mais nos prometem agora? Agora, além de um estádio de futebol, querem um campo de Golfe situado em Caxarias. E cá temos mais do mesmo. O dinheiro há-de aparecer. Provavelmente do mesmo lugar de onde tem vindo, de empréstimos bancários que levam dezenas de anos a pagar, e esticam até ao máximo legal o valor das dívidas da Câmara. Se continuarmos assim, não sei onde vamos parar.

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