segunda-feira, 16 de julho de 2007

Uma análise nua

Notícias de Ourém, Outubro 2005

A Coluna do Centro na semana passada brindou-nos com mais uma dúzia de citações, que muito agradecemos, embora nos deixem sempre perplexos, quando não percebemos bem qual a intenção. Eu, leitor atento (sim, também eu faço parte dessa multidão), fiquei intrigado especialmente com uma, tirada do Público, que dizia assim: “Pode-se saber mais sobre o pensamento de um político, ou ausência dele, através da sua colectânea de música, de poesia ou de contos, do que através de uma colecção dos seus discursos” (Faíza Hayat). E mais do que intrigado, fiquei curioso. Será que a Coluna do Centro escolheu esta citação a pensar numa certa entrevista que passou na ABC Rádio, em quinta-feira de campanha? Nela, o candidato entrevistado confessava que não tinha vagar (nem gosto) para ler e que não estava muito a par da música que se fazia. Se calhar a Coluna do Centro ouviu a entrevista e lembrou-se logo desta citação.
Mas mais importante do que isso, a Coluna deixou-nos o anúncio, a água na boca, direi mesmo, o aviso... de que nos vai, finalmente, trazer nua e crua toda a análise política das eleições. Das actuais e das futuras!
Face a este aviso, eu vejo-me obrigado a modificar um pouco as minhas intenções, para não copiar a ideia, nem aborrecer os leitores com um pouco de repetição. Em vez de uma análise nua e crua, terei de me limitar a uma simples opinião, devidamente vestida e mais ou menos cozinhada.
Pois bem, em minha opinião, infelizmente ganharam os do costume, aqueles que nunca fazem nada e só sabem é dizer mal. Mais uma vez, perde principalmente a democracia. Com mais de 14.000 cidadãos eleitores, 2.000 acima do partido mais votado, ganhou outra vez a abstenção. Ainda por cima subiu para o dobro o número de votos brancos e até os nulos aumentaram em muitas mesas eleitorais.
Tirando estes tristes resultados, parece que ninguém ganhou tudo o que esperava, mas todos ganharam algum motivo para celebrar. É a parte feliz da política.
Ganhou principalmente o PSD, com maioria em quase todo o lado. Deu para celebrar, apesar da frustração de não ter ganho na cidade de Ourém. Ganhou o PS, acrescentando duas Juntas e alguns mandatos nas Freguesias. Também deu para celebrar, principalmente na Gondemaria, mas com um sabor amargo de sonho desfeito, porque nem sequer ficou mais perto do objectivo principal, que era a Câmara Municipal. Ganhou a CDU um mandato na Assembleia Municipal e celebra o regresso de Sérgio Ribeiro às lides autárquicas. Até o CDS ganhou nas freguesias alguns mandatos aqui e além, aguentou-se na Assembleia Municipal, mas é o partido que menos motivos tem para festejar.
Vale a pena, suponho eu, recordar aqui agora a sondagem de Agosto, publicada no Notícias de Ourém. O PSD garantia 40% dos votos, mas teve realmente quase 50%; o PS não chegava aos 19%, mas ultrapassou os 33%; o CDS deveria ter abaixo dos 3%, mas chegou aos 8%; a CDU estava abaixo dos 2%, mas veio a conseguir quase 3%.
Olhando os mesmos dados, mas por outra perspectiva, lemos os erros da sondagem: PSD – 9,6%; PS – 14,7%; CDS – 5,6%; CDU – 1,2%. O total destes erros dá 31,1%, que é um pouco mais do que os 29,6% que ainda não tinham opinião formada no final do mês de Julho, quando foi feita a entrevista. Em pouco mais de dois meses, o partido que conseguiu convencer mais indecisos foi mesmo o PS. Aliás, é também o Partido Socialista que recupera mais terreno no número de mandatos desde 2001, embora ainda fique muito longe, um pouco mais longe da meta, ao aumentar para 3.760 a diferença de votos que o separam do PSD na luta pela Câmara.
Veremos agora como decorre o mandato. Há para já um motivo que nos deixa preocupados, a dívida da Câmara, que ultrapassa a meia dúzia de milhões de contos e que alguém terá que pagar. Esperamos que o Presidente consiga contrariar a tal citação de Faíza Hayat e mostre que tem mesmo um pensamento político, para resolver esta situação.

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