segunda-feira, 16 de julho de 2007

Uma cena na Gondemaria

Notícias de Ourém, Novembro 2005

É normal nas eleições que apenas uma lista ganhe e as outras percam. Não é nenhuma desgraça perder uma votação justa, nem vem daí desonra nenhuma. É o que aconte a muitos milhares de candidatos.
Mas já é triste quando um candidato derrotado encena um pequeno drama por causa disso, como aconteceu na Gondemaria. O que ficava bem a todos era assumir com dignidade a escolha da população. O que pareceu muito mal foi uma cerimónia de inauguração completamente fora de prazo, um discurso a dizer bem de si próprio, e sobretudo uma pergunta dramática “o que é que não fez e poderia ter feito?”. Pois eu digo o que acho que não fez e poderia ter feito: poderia ter saído de cabeça erguida, sem passar a vergonha de mostrar a sua amargura num espectáculo público, como se fosse um menino enjeitado, como se esta derrota democrática fosse uma enorme injustiça que lhe fizeram. Acredite que não é. Eu próprio já fui derrotado mais do que uma vez em eleições e não acho que isso seja nem uma injustiça, nem o fim do mundo.
Mas há ainda um outro acto dessa espécie de tragicomédia da Gondemaria que não posso ignorar, a presença instituicional da Assembleia Municipal e da Câmara Municipal, a dar cobertura a este teatrinho ridículo.
É bem sabido de todos qual é o partido da Presidente da Assembleia Municipal, mas mesmo assim é um bocado de mau gosto o discurso que fez a consolar o pobrezinho. Se o infeliz já se tinha martirizado, julgando ser uma triste vítima de uma injustiça, a senhora Presidente só o veio enterrar ainda mais: coitadinho, qualquer dia ainda se hão-de voltar para aquele que rejeitaram.
Mas ainda mais triste é que, para mim, nem a Presidente da Assembleia acredita nisso. Foram só palavras de circunstância que, no entanto, revelam duas coisas. Primeiro, dá a entender que a escolha democrática da população da Gondemaria foi uma má escolha e que se vão arrepender. Segundo, que não alimenta grande respeito nem simpatia pela nova equipa que o povo livremente escolheu.
Se fosse numa reunião do Partido ou numa sessão política, essas ideias estariam muito bem. Mas numa sessão pública, em representação oficial de um órgão democrático, parece-me que ficava bem um pouco mais de respeito pela democracia e pelo bom relacionamento entre instituições.
No fim de contas quem ali se apresentou com dignidade foi o Presidente da Câmara, honra lhe seja feita, que não faltou à consideração a ninguém e foi apenas, com toda a legitimidade, agradecer o trabalho e dedicação dos que se empenharam nas causas públicas em favor da população daquela freguesia. Subscrevo inteiramente.
Pela minha parte, é caso para deixar uma homenagem à dedicação e ao esforço de quantos trabalham pelo bem comum. Ao mesmo tempo que deixo o meu lamento por aqueles que têm tanta dificuldade em compreender que devem respeitar os não seguem o mesmo caminho que eles.

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